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Lugares, culturas e comportamento mundo afora

Não se engane. Seu amigo não está viajando tanto quanto parece.

Que as pessoas estão compartilhando demais na internet eu já sabia. Mas na última semana fui "enganada" duas vezes com esses compartilhamentos.

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Por amandanoventa
Atualização:

A primeira vez foi por uma foto de um amigo no Havaí. Eu sabia que ele estava passando uns seis meses na Europa e eu acompanhava isso pelas redes sociais. Mas no meio das fotos europeias surgiu uma foto no Havaí e comentei com um amigo em comum: "Você viu que o Fulano foi para o Havaí também?". E ele respondeu: "Que nada, ele foi pra lá uns anos atrás e postou a foto agora. Anda viajando pela Europa mesmo".

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O segundo momento em que me enganei foi com as fotos de uma amiga. Por um bom tempo, minha timeline foi recheada com suas fotos de Amsterdam, Paris, Espanha e Alemanha. Além de documentar a viagem nas redes sociais, também compartilhou suas impressões e detalhes num blog feito só para os amigos. Quando conversei com ela a respeito, descobri que a viagem para todos esses lugares havia durado apenas uma semana no total, quase dois dias em cada lugar. E eu achando, pela quantidade de compartilhamentos, que havia durado pelo menos um mês. Ponto para as redes sociais causando mais uma confusão na minha cabeça.

Nem acho que dá para discutirmos aqui o quanto se deve compartilhar ou não na internet. Nós já sabemos que se durante uma viagem você está mais preocupado com o que está postando nas redes sociais do que com a viagem em si, você não se diverte como deveria (é uma história bem parecida com aquele estudo sobre postar fotos de comida no Instagram: se você se preocupa em tirar fotos do prato, acaba curtindo menos a sua refeição).

Mas é tarde demais para irmos contra essa tendência. É causa ganha para o oversharing, o exagero de compartilhamentos - pesquisadores até já descobriram que se exibir nas redes sociais ativa no cérebro o mesmo prazer da comida e dinheiro.

O novo problema do excesso de compartilhamentos não se trata mais de quem compartilha, mas de quem está assistindo àquele espetáculo acontecendo na sua timeline. É fácil deixar-se enganar a ponto de achar que todo mundo viaja o tempo todo enquanto você, pobre coitado, continua trabalhando para pagar a última viagem que fez no fim do ano. Pode até rolar uma invejinha ou um sentimento de que a vida do outro é melhor do que a sua. E isso é bem interessante nas redes sociais; através delas cria-se uma vida paralela, onde o outro é feliz, come bem, é bem resolvido, bem amado e viaja muito. Se você vacilar as redes sociais vão definir o que você quer fazer e como enxerga a si mesmo - "todos estão viajando, eu também quero viajar, mas como não consigo sou um fracassado".

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Para esses momentos acredito que há duas soluções. A primeira é lembrar que uma rede social é feita para compartilhar momentos e, que por um narcisismo da vida, decidimos que serão mais momentos felizes. Mas é importante lembrar também que por trás daquelas fotos do seu amigo existem problemas, dificuldades e glórias de uma vida real. É difícil enxergar isso na primeira passada de olho na timeline, mas imagine você colocando um óculos que consiga enxergar por trás de cada post e dê mais uma olhada.

A segunda solução é aceitar que todo mundo tem o direito de postar o que quiser, quando quiser - como a minha amiga, que postou suas emoções ao viajar por uma semana como se fosse por um ano. Cabe a nós decidir como vamos reagir a isso: com um simples unfollow, com inveja ou aceitar que o amigo está viajando dessa vez, mas que o seu momento também vai chegar.

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