Outro dia lembrei disto que disse Alain de Botton: "Os anseios provocados pelo folheto eram um exemplo (...) de como projetos (e até mesmo vidas inteiras) podem ser influenciados pelas imagens mais simples e incontroversas da felicidade; de como uma viagem prolongada e dispendiosíssima poderia ser posta em andamento por nada mais que a visão da fotografia de uma palmeira a se inclinar levemente com uma brisa tropical. Decidi fazer uma viagem à ilha de Barbados." A passagem está em A arte de viajar (2000). De Botton tinha acabado de receber um folheto de Barbados chamado Sol de Inverno, com palmeiras inclinadas, mar turquesa e apelos afins. Hoje, o Google Images às vezes serve de folheto. Digo, claro que ele sozinho não define viagens, mas pode contar como oráculo. Em uma pesquisa de destinos nórdicos, lembro que ter digitado "Norway Fjords" me fez bater o martelo. Casas vermelho ocre abriam clareiras no sopé de montanhas pouco habitadas. Os reflexos na água duplicavam picos nevados. Barcos navegando canais estreitos, alongados e levemente serpenteados passavam por vilas à parte do mundo. Fui para Bergen, que com Tronsø e Stavanger são anunciadas como as principais bases de cidades ligadas aos fiordes. Lá, não vi algo exatamente como o que o Google me mostrava. Descobri que o voo até Bergen era o mais barato a partir de Oslo. Digo, "barato" é uma palavra sem equivalente em norueguês, um país onde um bar cobra R$ 96 por dois chopes 500 ml.