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Viagens literais e literárias pelo continente

Como e por que viajar de carro pela Europa

Por Thiago Momm
Atualização:
Estrada litorânea entre Split e Dubrovnik, na Croácia, toma mais tempo mas oferece paisagens muito melhores que a estrada principal  Foto: Estadão

Sou um defensor suspeito das viagens de carro. Tenho aquele gosto Neal Cassady / Dean Moriarty de prolongar as horas na boleia, ficar ali seguindo faixas de devaneios paralelas às da estrada.
Confesso que a fé fraqueja de vez em quando. Um policial argentino ou tcheco fabulando infrações em busca de suborno; um pedágio francês de mais de R$ 100; um flash de madrugada flagrando você 3 km/h acima do permitido; a dificuldade de estacionar o carro para se livrar dele nas cidades maiores; a locadora que na internet oferece o preço mais baixo mas na hora se torna um bazar tracambista empurrando extras.
Também já subestimei quilometragens e tive muita saudade de trens e aviões. Se insisto em recomendar viagens de carro, é porque elas podem levar ao melhor dos mundos. Abaixo, uma lista de como e por que pegar a estrada na Europa.

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1) A maior autonomia Pela D8, a estrada secundária litorânea que leva de Split a Dubrovnik, na Croácia, são mais de três horas para fazer 214 km. Mas é uma viagem entre vilas, oliveiras, pinheiros, lagos, mirantes, penhascos e praias espetaculares que acompanham o caminho. Para explorar a Europa além dos pontos mais conhecidos, a viagem de carro é de longe a melhor opção. Os trens chegam em muitos recantos, mas oferecem menos autonomia. A viagem aérea, menos ainda. Outra vantagem de dirigir pela Europa é que dificilmente há 200 ou 300 km sem uma paisagem que merece contemplação ou uma cidade que merece visita e pode se tornar a próxima estadia (ou seja, quem não é apreciador da estrada pela estrada não precisa suportar longas horas de paisagens vazias por lá). Nas cidades, claro, o carro se torna um estorvo, mas basta estacionar o quanto antes para andar e usar o transporte público. Além disso, evite estradas em regiões de nevascas no inverno e as cheias estradas litorâneas no verão. 2) Sem exagero na média A tentação é grande, pela proximidade dos países, de incluir o máximo deles na viagem, mas isso cria uma sequência cansativa e sem sentido de check-out, deslocamento, check-in. O ideal é que a distância total percorrida, dividida pelo número de dias, dê uma média de até 250 km por dia (para saber a distância total aproximada, detalhe o roteiro no Google Maps e some 30% de quilometragem, para considerar desvios e passeios). Uma viagem de 20 dias, portanto, deve ter até 5 mil km. Assim, você dificilmente dirige por muitas horas seguidas, e quando isso acontece pode descansar da estrada por alguns dias. Também lembre, para não lidar com malas pesadas em estadias de uma noite no meio do caminho, de ter uma mochila organizada à mão.3) Aluguel no país vizinho O aluguel na Espanha tende a sair menos que em Portugal e na França, e na Suécia, bem menos que na Noruega. Na Hungria, tive que recorrer a uma companhia menor, que se mostrou pouco confiável, um problema que seria evitado na Áustria. Com as distâncias europeias, alugar o carro em um país vizinho ao que vai percorrer é uma opção. Na Espanha, já paguei EUR5 o dia o modelo básico na baixa temporada, e mesmo para agosto acabo de conseguir uma diária por EUR12,30. Para alugueis prolongados, a diferença pode ser muita. Um esportivo de luxo na Suécia sai, por 21 dias, R$ 1,4 mil a menos que na Noruega no auto europe, um dos melhores sites de pesquisa. 4) Combustível, pedágios, estacionamentos Embora o aluguel dos carros na Europa em geral custe menos que no Brasil, o mesmo não vale para a gasolina, entre EUR1 e EUR1,60 na maioria dos países. Uma alternativa é buscar por um carro a diesel, que significa economia no preço e no rendimento do litro (veja aqui tabela com o preço dos combustíveis em vários países europeus). Também os pedágios (na maioria dos casos, cobrados nas autoestradas) podem afetar o orçamento, assim como os estacionamentos. Primeira dica: como dito antes, nas cidades esqueça o carro para caminhar e usar o ótimo transporte público. Segunda: nas cidades maiores, onde parar o carro de graça na rua raramente é uma opção e um dia de estacionamento sai na faixa de EUR30, a solução costuma ser um estacionamento bem mais em conta nos arredores (caso, por exemplo, de Amsterdã).

5) Ainda assim, o melhor cursto-benefício O carro significa economia especialmente para quem quer conhecer várias cidades e está viajando acompanhado. Vale o bom senso. Quem tem pouco tempo e quer ir a um destino longe da chegada (digamos, chegada em Berlim e ida a Amsterdã) não tem por que dirigir em vez de voar ou pegar um trem. De trem pela Eurail, pessoas de 25 anos ou menos têm 35% de desconto. Já o carro sai por menos para quem tem de 25 a 69 (acima e abaixo dessas idades, há taxas diárias). Para quem vai percorrer múltiplas cidades e está viajando em três ou quatro pessoas e dividindo gastos, ir de carro é mais barato até que voar por companhias aéreas de baixo custo. 6) Detour Nas bem sinalizadas autoestradas europeias, o GPS não chega a ser fundamental. Mas ele é indispensável para passeios por rotas alternativas - basta ativar a opção detour e se deixar levar. Como se sabe, as autoestradas oferecem o caminho mais rápido e eficiente mas também o mais monótono, não raro afastado dos melhores cenários. Já as estradas nacionais ou regionais, as dos desvios, são as que seguem mais de perto o litoral e exploram mais a fundo o interior. E até para quem quer testar a serendipidade o GPS é útil - depois de andar por horas sem ele, a esmo, você pode parar em lugares tão remotos que vai precisar de um mínimo de coordenadas.

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7) Cinco sugestões de roteiro As locadoras cobram de EUR100 até EUR1000 por devolução em países diferentes, e mesmo entre cidades diferentes a taxa pode ser alta. A solução é viajar com mais tempo e aproveitar para voltar por um caminho bem diferente. As sugestões a seguir já consideram a quilometragem de passeios e desvios. Até 2,5 mil km: (1) De Madri a Lisboa e ao sul de Portugal, voltando por Sevilha e Córdoba. (2) Litoral croata completo, de Rovinj a Dubrovnik, mais visita à baía de Kotor, em Montenegro. Para mudar a volta, passagem por Mostar, na Bósnia, e pelo Parque Nacional dos Lagos de Plitvice, no interior da Croácia. (3) Saída de Liubliana, ida a Zagreb, Budapeste, Bratislava, Viena, interior da Áustria, Veneza e retorno a Liubliana, passando por Bled. Até 5 mil km: (4) De Copenhague a Estocolmo, com balsas para Helsinque e Tallin, retorno por Oslo e Stavanger, nos fiordes noruegueses, e balsa na descida para Copenhague. Até 8 mil km: (5) Saída de Madri, ida ao litoral sul da França, Mônaco, Veneza, Bled e Liubliana, depois subida até Berlim passando por Viena e Praga, depois interior alemão, Paris e Madri.

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