Me apoiei num dos bancos, e me preparei para o trânsito. Até que a senhora que estava sentada do meu lado, me perguntou, no tom mais natural do mundo, se eu queria largar a minha bolsa e a minha sacola no colo dela. Eu devo ter feito a pior cara de sempre, achando que a pobre senhora queria ficar com as minhas coisas, mas achando também que era a maior cara de pau ela estar se oferecendo para o fazer às claras. Depois dei conta de que esse é um hábito que vocês, brasileiros, têm. E muitas vezes ofereci colo e tantas outras aproveitei o de algum passageiro que, sabendo da dificuldade de ir em pé, tenta aliviar como pode o desconforto de alguém que nem conhece.
Aqui isso não acontece. Mesmo que a pessoa que esteja em pé tenha 120 anos e dez sacos, ninguém lhe perguntará se quer colo para as coisas - às vezes nem lhe dá lugar no assento. O gesto que parece tão pequeno alivia de uma forma inimaginável o corpo e dá tanta alegria à alma, que eu não sei por que aqui, na Europa, não o fazemos. Mas sei, lembro todos os dias quando pego o trem ou o ônibus aqui em Lisboa, que foi por esses pequenos gestos que o Brasil ganhou no meu coração um espaço que nenhum outro país conseguiu.
No fundo, é só sabermos olhar uns pelos outros. Nas mais simples coisas.
--