O El Pais compilou uma série de estudos que apontam precisamente nessa direção: num casamento, a carreira do homem é sempre prioritária em relação à da mulher. Os homens passam menos de metade do tempo que as mulheres gastam cuidando da casa e dos filhos. As mulheres se resignam a estagnar profissionalmente em algum momento da vida.
Esses números vêm confirmar aquilo que há uns dois anos a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, falou numa entrevista: a decisão mais importante que uma mulher toma na vida é com quem se casa. Basicamente, porque a sociedade ainda é muito machista, é mal visto que seja a mulher a ter mais horas de trabalho, a não estar em casa mais cedo, a estar fora durante mais tempo. É mal visto que possa ser um homem a decidir ficar em casa para tomar conta das crianças e ainda pior é se a mulher ganhar um salário mais alto que um homem.
Nem é uma coisa de que muita gente se dê conta, conscientemente. Mas é a verdade. Porque na hora da promoção, se eu tiver a mesma chance que meu colega homem, o diretor vai escolher ele. Sabe porquê? Porque na cabeça do diretor, eu preciso estar em casa mais cedo para fazer o jantar, pegar as crianças no colégio ou fazer faxina. Aliás, como ainda não tenho filhos, o grande problema, agora, seria a possibilidade de engravidar e estar fora uns meses - impensável.
Façamos outro exercício: se pensarmos num presidente de uma empresa que tenha quatro filhos e uma mulher em casa, cuidando deles, todos achamos que ele é um incrível gestor, pai de família e ainda marido extremoso porque nos finais de semana, pelo menos, guarda tempo para passar com a família. Se esse presidente for uma mulher com os mesmo quatro filhos e o marido em casa, todo o mundo, sem dar conta, está pensando que ela é uma egoísta que só pensa na carreira e não está nem aí para a família...gente!, estamos no século XXI!
E a verdade é que quando uma mulher tem do seu lado um marido bem incrível - portanto, bem escolhido - ela pode ser uma líder melhor que muitos homens. Para isso é preciso que o marido a respeite, a ajude, tenha noção de que a sua carreira é tão ou mais importante que a dele. Para isso é preciso quebrar cânones impostos, ideias feitas e preconceitos. É difícil, mas pode acontecer. Esse é, possivelmente, o primeiro passo na mudança de mentalidades que fará do mercado de trabalho um lugar muito mais igualitário para homens ou mulheres.
Uma mudança que começa em casa, quando todos começarmos a explicar aos nossos filhos que nem sempre é o homem aquele que tem que trabalhar mais, ganhar mais e estar mais tempo fora. Só crescendo assim os homens de amanhã vão poder ser os maridos de que as mulheres guerreiras precisam. Sem preconceitos.