Guterres é um socialista respeitado em Portugal: primeiro-ministro desse retângulo europeu durante sete anos, teve um final de mandato conturbado com várias demissões de ministros e problemas com as contas nacionais. Durante o mandato perdeu ainda a sua mulher - casaria uns tempos depois com a atual esposa. António Guterres foi Alto Comissário para os Refugiados e fez um trabalho exemplar no meio desse turbilhão que o Mediterrâneo vive, o que alimenta esperanças para o seu papel como Secretário Geral - ainda que sejam sabidas as limitações do cargo.
O país recebeu a notícias de duas formas diferentes, como foi possível entender dos comentários que foram sendo feitos - em jornais, redes sociais, na rua...Uma parte dos portugueses, onde eu me incluo, ficou emocionada com essa escolha. Nunca pensei que um português chegasse a um lugar tão alto no mundo. Meus olhos foram ficando marejados de lágrimas a cada perfil que li desse homem, que é sobretudo um homem do terreno. Que sabe, que viveu, que se entregou, que ama o que faz, que estuda, que é realmente muito bom no seu trabalho.
Depois houve a outra parcela de povo, que fez questão de referir que "ninguém quer saber do cargo de secretário-geral da ONU", então por que havemos de dar atenção para isso? E eu juro que me entristeço a cada vez que oiço algo como isso sendo dito por gente alegadamente inteligente. Porque comprova minha teoria sobre esse povo a que pertenço: em Portugal, a gente não aspira a ser como os melhores; a gente somente sente inveja e tenta rebaixá-los, por forma a não nos sentirmos tão pequenos.
Nunca antes outro país [nem os gigantes europeus] teve alguém ocupando dois cargos mundialmente tão relevantes como o secretariado-geral da ONU e a presidência da Comissão Europeia (que Durão Barroso ocupou entre 2004 e 2014). Portugal tem gente com muito talento e com muito valor, mas que precisa de estímulo. O povo português, esse, precisa de parar dde invejar quem é bom e de simplesmente trabalhar para ser melhor.