Mr. Miles: o senhor acredita que nossas crianças, hoje habituadas à internet e aos videogames serão melhores viajantes do que fomos nós, de uma geração anterior?Paula Lakeland, por email
Interesting question, my dear. Como você sabe, não sou exatamente um admirador deste admirável novo mundo repleto de gadgets. Temo que, mais do que um meio, elas acabam tornando-se um fim nelas próprias. Ou seja: o uso constante de computadores para fins de lazer parece levar apenas ao uso excessivo de computadores para fins de lazer. Do you know what I mean? Unfortunately, observo, day after day, cidadãos que, ao invés de investir suas economias no incomensurável prazer de conhecer lugares e pessoas in loco, gastam o que poupam na atualização de suas geringonças, adquirindo computadores cada vez menores -- oh, my God, o que será de nossos dedos com o futuro do desenvolvimento da espécie? -- e cell phones que, ao fim e ao cabo, tentam trazer aos seus proprietários a diversidade do mundo que eles, in fact, desprezam. Sou, however, obrigado a admitir, que inovações como a web colocam qualquer distante nação do planeta a um clique de distância desses navegadores sem sextante e sem timão. O que equivale, in my opinion, a tentar desvendar um país lendo um verbete de enciclopédia. Ou, em outras palavras, a produzir poesia folheando um dicionário. Guardo, of course, a esperança, de que os frequentadores de sites de relacionamento desenvolvam, in fact, o desejo de conhecer ao vivo as pessoas com que se comunicam por meios eletrônicos -- e que, sometimes, vivem em outros países. Mas temo que, de alguma forma, a solidão de dedilhar um teclado esconda a timidez dos correspondentes, assim como as máscaras de Carnaval muitas vezes ocultam a timidez de quem as usa. Meu amigo Philip (N.da R.: Philip Roth, escritor americano), que detesta computadores, disse-me, certa vez, em um pequeno pub de Connecticut, que está entristecido com o processo de substituição dos livros pelos computadores, um verdadeiro mal du siècle. Não sei se concordo com ele, mas parece improvável que para web addicted people reste encanto em autores como Karl May, Julio Verne ou Mika Waltari, cujas viagens literárias despertaram em muitas gerações o sonho de ganhar o mundo. Como otimista incorrigível, anyway, quero crer que, com ou sem gadgets, bons viajantes vicejem em árvores frondosas, como artistas, apaixonados, idealistas e, of course, maçãs e damascos.