A máquina fotográfica apontada para o Capitólio é a senha. Certo de ter encontrado uma turista, o homem de 20 e poucos anos se aproxima, faz perguntas básicas (procedência, tempo em Havana, se está gostando da cidade) e mostra o panfleto amarrotado de um festival. "De salsa", diz. "Se precisar de companhia, são só 5 convertibles (R$ 12)." Diante da negativa, pede "uma ajuda, chocolate, um presente para meus filhos." A escassez de tudo, inclusive comida e produtos de higiene, e os salários baixíssimos fizeram dos cubanos um povo cheio de jeitinhos. As ruas não são violentas, mas pequenos golpes se multiplicam numa infinita criatividade de abordagens. O casal que convida para uma festa aproveita para oferecer charutos Cohiba por 50 pesos conversíveis (R$ 124) a caixa - produto que custa, no aeroporto, a partir de 15 pesos conversíveis (R$ 37). Um par de tênis All Star nos pés do visitante é pretexto suficiente para aproximação do flanelinha, que logo passa a se oferecer como guia turístico. Mesmo os shows de músicos populares em troca de centavos, comuns pelas ruas do mundo todo, têm sua versão turbinada em Cuba. Nas casas de cultura, trovadores apresentam números belíssimos sem cobrar nada. Para, em seguida, oferecer o CD por até 20 pesos conversíveis (R$ 49). Sem graça, você compra. Também como em outros lugares pobres, solteiros são abordados por homens e mulheres dispostos a vender a própria companhia. Em Cuba, esses profissionais são chamados de jineteros. "Me convida?", é a aproximação padrão. Não é raro que os moradores tentem obter dos estrangeiros produtos escassos nas prateleiras locais. As mulheres, principalmente, pedem doações de camisetas e sabonetes. Difícil negar. Muitos turistas se habituam a andar pelas ruas cubanas com a mochila cheia desses objetos.