Localizado a 10 quilômetros de Santiago de Cuba, o preservado castelo do século 17 serve como síntese das contradições essenciais da cidade, a segunda maior do país, a 860 quilômetros de Havana, 14 horas de viagem de ônibus. Não muito longe, fumaça de chaminés de fábricas suja a atmosfera. Santiago é assim: linda e poluída, histórica e cheia de dilemas bem atuais, colorida e cinzenta. Aqui sente-se no ar um quê de metrópole mais evidente até do que em Havana. Compacta, a cidade distingue menos áreas turísticas daquelas que todo destino prefere esconder. Seus moradores se movimentam entre os pontos de ônibus e os armazéns de distribuição de alimentos - a comida é racionada e os cubanos só podem comprá-la com cupons dados pelo governo. Eles, aliás, detestam ver uma máquina fotográfica por perto quando estão nessas filas. A cidade fundada pelo conquistador Diego Velásquez foi capital do país durante 31 anos, no século 16. Perdeu o posto para Havana, mas não a relevância histórica. Antonio Maceo, comandante da independência cubana, nasceu lá. Fidel Castro, então estudante, lançou ali os fundamentos de sua nascente revolução e a família Bacardi, primeira fabricante de rum do país, era santiaguense. Memórias desse passado estão distribuídas pelas Ruas Heredia e Enramada e nas vielas transversais. O Museu Bacardi, o mais antigo de Cuba, tem acervo militar, arqueológico e de artes plásticas, com pinturas cubanas dos séculos 19 e 20. A ex-capital é a cidade mais musical de Cuba, verdadeiro celeiro de talentos. Basta dizer que Ibrahim Ferrer e Compay Segundo, do Buena Vista Social Club, foram revelados em seus palcos. Nem é preciso andar muito para descobrir lugares como a Casa da Trova (Calle Heredia, 208), onde há sempre um grupo disposto a executar números para os visitantes. Ou o Museu do Carnaval (Calle Heredia, 303), em homenagem à festa mais popular de Cuba, que, no calendário deles, cai em julho. O cheiro de café acompanha a caminhada. A província de Santiago de Cuba é a principal produtora do grão no país e prepara o melhor cafezinho cubano. Nas mesas de madeira maciça do La Isabelica (Plaza Dolores), tente escolher entre as 103 opções do menu. Uma ajudinha: a versão energética, com café, rum e mel, é incendiária. Por 3 pesos conversíveis (R$ 7,50), garante aporte de energia imediato.