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Arte em toda parte

Les Passages, velhas galerias voltam à moda

 

Por Heitor e Sílvia Reali
Atualização:

crédito das fotos:: Viramundo e Mundovirado Foto: Estadão

Em uma aventura particular em Paris num entardecer magnífico, daqueles quando a luz faz o coração arder de tanta beleza, quis conhecer a Vivienne, a Véro-Dodat, a Jouffroy, a Colbert e La Madeleine. Encontrá-las foi fácil, todas ficam na margem direita do Sena e fazem ponto no quadrilátero formado pelo velho Halles, a Ópera, a Praça da República, e a Madeleine.

Passage Viviannecrédito: Viramundo e Mundovirado Foto: Estadão

Elas não são dançarinas do Moulin Rouge nem atrizes do teatro francês, embora também sejam famosas. Elas são as mais belas galerias cobertas, 'Passages', da capital francesa. Construídas no início do século 19 revelam o charme de uma época, antes dos bulevares. A primeira com quem topei a poucas quadras do Palais Royal foi a Vivienne, embora de 1823, conserva toda sua beleza em estilo neoclássico. Arquitetura em ferro e vidro, realçada por suas abóbodas envidraçadas, onde passa uma luz filtrada e doce que reverbera em seu esplêndido piso de mosaico italiano. Lugar com manancial de personagens e histórias que desejam entrar no meu artigo.

 Foto: Estadão

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O que me impressionou foi o frescor ao caminhar nessas galerias que guardam a atmosfera autêntica da Belle Époque, exemplos de espaços leves criados sem dúvida como antídoto dos dias chuvosos e frios. E, muito mais porque andar nas ruas parisienses naquela época não era nada agradável, com o esgoto que escorria a céu aberto, além do cocô dos cavalos das carruagens. Não são grandes as Passages, a maior tem 360 metros de comprimento, mas a importância delas era tanta que ali se apresentavam todas as modernidades da época, como foi o caso da primeira iluminação a gás em Paris inaugurada na galeria Véro-Dodat. A mera vista dessas Passages, algumas com faustosas entradas e lojas de grifes, basta para compreender porque elas são descritas como precursoras dos shopping centers. Mas, não para os italianos que consideram que elas foram inspiradas na Galerie de Uffizi, em Florença. Discussões à parte, eu vim aqui para curtir um passeio que me levou a encontrar os tesouros dos antiquários, galerias de arte, butiques afamadas, sebos (sou vidrado numa livraria e papelaria) muitos com cheiro de mofo, o que não deixa de ser um presságio para encontrar raridades, alfaiataria, hotel que preserva seu mobiliário antigo, além de bistrôs com a criativa culinária francesa.

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Releio em meu caderno de notas algumas impressões dessa minha aventura: Vivianne, a mais luxuosa das galerias, onde passei grande parte do meu tempo na Livraria Siroux, que funciona ali desde o início da abertura dessa passage. Era, e é ainda ponto de garimpo dos escritores franceses. Colbert, com colunas de mármore, rival declarada de Vivianne pela sua riqueza. Ali fica o Instituto Nacional de História da Arte, e uma das mais bonitas brasseries da cidade, Le Grand Colbert, onde Jack Nicholson e Diane Keaton gravaram cenas do filme "Alguém tem que ceder". Jouffroy, lembrou meu tempo de engenharia por ser uma das primeiras construções francesas toda em ferro e vidro. Foi também o primeiro edifício francês a ter aquecimento central em seus corredores. No interior se encontra um dos melhores museus de cera do mundo, o Grévin. A austeridade está presente na Véro-Dodat, mas era sensação na época com footings, bailes e diversões. Suas lojas são todas iguais com fachadas emolduradas por cristal e madeira. Já La Madeleine encanta por seu tipo mignon (53m de comprimento) em relação as outras galerias parisienses, mas sofisticada como ela só.

Passage Jouffroycrédito: Viramundo e Mundovirado Foto: Estadão

De símbolo de modernidade em pouco tempo as Passages perderam seu status. Ao contrário de outras construções, elas não se descaracterizaram para agradar os turistas, e com a urbanização da cidade realizada pelo Barão Haussmann, a partir de 1853, com a construção dos bulevares de calçadas largas, iniciou-se o declínio dessas galerias. O parisiense descobriu o prazer de caminhar ao léu acompanhando essas grandes avenidas arborizadas, abandonando os recintos fechados das Passages. Daí o termo flaneur, passear livre tendo o céu como teto.

 Foto: Estadão

Minha aventura com essas francesas estava terminando, mas Jouffroy me reteve um tempo a mais em um canto isolado e sombrio: uma loja com itens vintage, lotada de pequenas prateleiras recheadas de livros que também se espalhavam no chão, prendeu meu olhar. Embora estivesse com a plaquinha "Fermé", não resisti. Bati na porta, pedi licença e entrei em outra história.

Passage Véro-Dodatcrédito: Viramundo e Mundovirado Foto: Estadão

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