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Arte em toda parte

Madagáscar, o insólito a cada passo

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Por Heitor e Sílvia Reali
Atualização:
Aldeia malgaxecrédito: Viramundo e Mundovirado Foto: Estadão

                    

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Desejo encontrar, quando viajo, tudo o que esperava, só que para melhor ainda. Também quero topar com o inesperado, desde que suscetível de controle. E uma das regras que considero importante para bem aproveitar o destino é o juízo de valores. Evito fazer comparações, pois às vezes a realidade surpreende até as ficções mais ousadas. E foi exatamente isso que aconteceu em Madagáscar.

Baobáscrédito: Image Gallery Foto: Estadão

Não me contaram, eu vi. A ilha de Madagáscar é um elogio à diversidade. Fica um tanto fora de mão, a leste da África, mas de longe ganha em exuberância. Uma arca de Noé à deriva há 160 milhões de anos, onde plantas e animais seguiram uma evolução autônoma. Sua natureza é síntese perfeita das mais belas paisagens do mundo, e a flora, única. Das 12 mil espécies existentes, 9,5 mil são endêmicas. Para se ter uma ideia dessa multiplicidade, em todo o continente africano só existe uma espécie de baobá, enquanto que na ilha são sete tipos. Quando o assunto é geologia, Madagáscar também é a bola da vez: um verdadeiro museu de mineralogia com destaque para a prata, ouro, níquel; gemas semipreciosas, como topázio, água-marinha, jaspe, ônix, celestite (de um azul suave), turmalinas em tons diversos, zircônios, cristais, e ainda o especial âmbar.

Lêmures cattacrédito: Viramundo e Mundovirado Foto: Estadão

Mas, nessa natureza plural e singular na qual todas as ciências querem fazer as honras da casa é a zoologia que sai na frente e ainda reforça um ambiente de fábula com os lêmures - os mais encantadores animais que já vi! São trinta espécies que vivem em toda a ilha, desde o maior e o mais elegante dos lêmures, o indri, com seu característico grito humano e que pode ter a altura de uma criança de cinco anos. De pelame branco e negro, se locomove saltando lateralmente com grande impulso de até 10 metros de distância. É quase coreografia, bela e especial, me sugeriu um bailado. Outro hóspede gracioso da floresta é o lêmure sifaka, com penugem branca e máscara negra sobre o nariz. Além deles o catta, com uma longa cauda anelada de branco e preto, e os encantadores pequenos lêmures noturnos, verdadeiros gnomos da floresta.

Anakao/Tulearcrédito; Viaramundo e Mundovirado Foto: Estadão

Cruzo o país até chegar à cidade litorânea de Tulear, sul da ilha. Porém, meu olhar inaugural dá com uma bunda, uma não, duas ou três. Todas acocoradas numa bela praia fazendo cocô. Mas, o que é isso? Que merda! Desisto do meu passeio pelas areias e me dirijo para o centro do povoado. Na primeira esquina outro sobressalto: um homem impávido também fazia cocô na calçada. Não adiantou mudar de caminho porque sempre encontrava homens e mulheres, tranquilamente, fazendo suas necessidades à vista de todos. Um mal súbito intestinal rendeu a cidade? O proprietário do hotel riu de minha cara incrédula ao voltar do breve passeio. Explicou-me que a etnia da região não admitia banheiros em suas casas, considerados tabus e locais de maus espíritos.

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Feira em Fianarantsoacrédito: Viramundo e Mundovirado Foto: Estadão
Ao deixar Sal, minimalista, natural, solar, descomplicada e pura, puxei conversa com o cabo-verdiano ao meu lado: O que vocês plantam nesta ilha? "Nada, os agricultores aqui só cultivam o verão, e o ano todo". 

Artesanato malgaxecrédito: Viramundo e Mundovirado Foto: Estadão

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