Trios definem um conjunto de três pessoas ou coisas de igual natureza. Nos trios cada palavra puxa outra, e o conceito fica inseparável. Tal como o trio dos reis magos: Baltazar, Melchior e Gaspar, a frase vitoriosa de César: vim, vi e venci, o livro Comer, Rezar, Amar, de Elizabeth Gilbert. Antes de escrever esse sucesso, Gilbert ousou mudar vida e trabalho. Escolheu a liberdade e partiu em viagem a fim de encontrar a paz e a si mesma.
As histórias de Elizabeth, César, e de tantos outros em diferentes épocas, se repetem. E, quando uma pessoa traça para si novos rumos, nos inspira e desafia. Então, vou contar outra bela história dessa mesma natureza, alguém que numa guinada de vida abriu Monte Verde, um novo horizonte para muitos. E, esses muitos que chegaram um dia em visita a este vilarejo campestre - mudaram de vida.
Essa aventura começa com o imigrante Sr.Verner Grinberg, nascido na Letônia. Em meados de 1934, num sobrevoo na Serra da Mantiqueira, Minas Gerais, deu com os olhos nas altas montanhas e bendisse a paisagem. Comprou as isoladas terras, batizou o lugar com o nome que era a tradução de seu sobrenome, grin, verde e berg montanha, e começou a dar forma ao sonho de criar um vilarejo em meio as florestas de araucárias e riachos de águas claras.
O frescor do ar gelado e o aroma revigorante dos ciprestes anunciam a limpidez dos ares. "A prova concreta, porém, está nos liquens vermelhos que grudam nos troncos das árvores", mostra o biólogo Josué. Suzi, da Chácara da Adélia, que trocou Santos por Monte Verde, e Josué tomam conta da criançada que prefere conhecer as nascentes, e encontrar os esconderijos das rãs, em vez de escalar montanhas com os pais. Na chácara há apenas um único chalé com fonte de água potável que jorra na entrada da varanda. O café da manhã é servido no jardim, com direito a chuva de pinhões se for época, de abril a agosto.
Dizem que só vemos a realidade de um lugar quando conhecemos as pessoas que moram nela. Nós tivemos a sorte da companhia de Paula e Marcelo. O casal deixou São Paulo em busca de um lugar de paz, e em Monte Verde são os proprietários da pousada Casinha Pequenina. Como o nome já diz, os quartos não são grandes, mas têm tudo o que precisa - cama com cobertores macios, armário, lareira, ducha quente, e a cantoria que entra pela janela de jacutingas e bem-te-vis. E, o mais importante: atendimento caloroso.
Nem foi preciso esperar por uma gélida manhã para saborearmos chocolate quente. Alguém disse que Monte Verde combina com chocolate? Acertou em cheio! E, lá fomos nós conhecer o Chocolate Montanhês, de Monica Milev. Monica é mais outra visitante que em 1987, veio de Santo André a passeio, e resolveu dar uma reviravolta na vida. Ela faz 'o melhor brownie de chocolate do mundo', nas palavras de renomada dupla de blogueiros gourmets. Concordamos plenamente, crocante por fora e fofo por dentro, o brownie é servido com sorvete de creme e calda de framboesas recém-colhidas em Monte Verde.
Na vila é gostoso também flanar pela rua central ladeada de vasos com petúnias e ver turistas curiosando nas lojas de malhas, cachecóis, botas forradas de pele, e coloridas meias de lã. Nós, preferimos rechear sacolas de queijadinha, goiabada cascão, pé-de-moça ou pé-de-moleque, doce de abóbora, para espichar as lembranças boas da vila quando chegarmos em casa. Mais uma dica boa? Essa é quente: luminárias feitas com casca de bananeiras. Os mestres designers Giovani e Augustus, donos de uma das mais belas lojas de Monte Verde, criam luminárias, painéis, lustres, e jogos americanos cujo destaque são as belas texturas da casca da planta.
Mas, agora é hora do almoço, e nós seguimos de carro para a Fazenda Hotel Itapuá, ideal para os que desejam um mergulho na natureza. Itapuá foi sonho dos jovens Andreas e Cristina Wagner, que em 1978 resolveram ali viver. Pouco a pouco ergueram chalés espalhados pelo amplo jardim para manter a privacidade dos hóspedes. Cristina fazia o café da manhã, colocava em cestas que Andreas depositava nas portas dos chalés. Hoje quem toca o sonho é a filha Rebecca e Pipo que se casaram na igrejinha de pedra da fazenda.
O almoço incluiu um generoso mil folhas de filé mignon com mozzarella fresca de búfala, e tomate assado com arroz cremoso de parmesão (mas poderia ter sido um pato ao molho de jabuticaba e purê cremoso de mandioquinha), acompanhado da cerveja Erdinger Back. Ninguém ousou triscar nas tentadoras sobremesas, todas feitas na hora e fresquíssimas. Vamos nos arrepender mais tarde! Depois da comilança, a solução foi dar uma caminhada e deixar a vista se encher do verde das montanhas e do design exclusivo das araucárias.
O sol se despede em Itapuá, e a neblina fria e branquinha nos obriga a buscar agasalhos no chalé da Pousada Boa Montanha, onde nos recebe uma crepitante lareira. Depois do banho quente, hora de revisar e-mails e fotos, e com o apetite desperto rumar para o restaurante Villa Amarela. Escolhemos um local aconchegante com mesa à luz de velas. Difícil foi decidir entre os especiais: filé à parmegiana, leitão à pururuca, ou truta ao molho de amêndoas.
Hora da nossa despedida. Saímos para um finalzinho de semana com mil sonhos e voltamos com tantos outros. Abençoado quem veio, viu, ficou.
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