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Duas jornalistas caem no mundo unindo duas paixões: viajar e ajudar o próximo. Aqui, elas relatam as alegrias, os perrengues e os aprendizados dessa experiência.

Balança final

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Por Bruna Tiussu
Atualização:

Despedindo-me de parte dos alunos do Amasiko. Foto: Eduardo Asta

Fui conduzida a uma despedida antecipada. Na segunda-feira, fiquei sabendo que ao invés de terminarem na sexta, as aulas no Amasiko iriam só até a quarta. Porque não havia comida suficiente para toda a semana.

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O motivo não me chocou. Não é a primeira vez que vejo faltar comida na escola -- além da taxa de 40 mil shillings (R$ 35) por trimestre, cada aluno tem de contribuir com 5kg de feijão. No entanto, muitos acabam não trazendo a sua parte.

Mas fiquei chateada, claro. Primeiro por ter menos tempo com as kids. Segundo porque havia preparado aulas divertidas, caprichadas mesmo, para fazer com elas ao longo da semana.

A lição que tirei disso é: não guarde para amanhã a atividade especial que você pode dar na aula de hoje. Especialmente numa escola na África, onde calendários, horários e programas mudam do dia para a noite.

Eu, que não ligava muito para despedidas, agora gosto cada vez menos delas. Foi novamente difícil dizer tchau para as kids. O que conforta é vê-las indo para a casa, seguindo a vida, cantando aquela música que você ensinou, brincando com o jogo que construíram juntos ou olhando para trás e mandando um beijo com a mão.

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Termino mais essa experiência voluntária mais certa de que é só por meio da educação que veremos o mundo melhorar. E é apenas nas kids, na geração futura, que pensei quando me dispus a fazer essas coisinhas:

1. pintar uma placa de sinalização para a escola -- eu, que não segurava um pincel há pelo menos dez anos

2. encadernar e classificar 239 livros de leitura para montar a primeira biblioteca do Amasiko dar aulas de ciências e geografia pela primeira vez na vida

3. convencer os professores que meninas também jogam futebol, até instituírem que a bola é delas às quintas-feiras

4.gastar noites e noites preparando aulas de inglês que envolvessem jogos e brincadeiras

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Ainda assim, se ponho na balança o que fiz e o que ganhei, tenho a clara sensação de que mais aprendi do que ensinei. Essas kids bakigas, os meus emburradinhos, sabem tocar a gente. Deixo o Amasiko Greenschool ainda mais coração mole. Eita, África!

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