O combinado era trabalhar seis horas diárias na Furman Foundation School. Mas na realidade trabalho pelo menos o dobro disso. Não se trata de uma reclamação, é a simples constatação do quanto as crianças daqui demandam dos professores de suas escolas.
Os alunos começam a chegar por volta das 6h45, ainda que as aulas comecem às 7h30. O garoto responsável pelo sino dá as badaladas finais às 15h15, porém, aquela clássica cena da meninada correndo e gritando portão afora não existe aqui. As crianças não querem ir embora. E muitas simplesmente não vão.
A explicação é óbvia: eles não têm o que fazer em casa. Já na escola, têm uns aos outros; num dia de sorte, uma bola ou um jogo; e, quase todos os dias, nós, os professores voluntários -- atualmente somos sete, acomodados em duas salas que funcionam como quarto e sala de estar/jantar.
Portanto, depois das 15h15, eu começo uma nova jornada de trabalho com aqueles que passam a tarde aqui. As atividades vão de meros bate-papos a jogos de memória ou basquete, passando por exibição de filmes no tablet.
Às vezes, elas variam mais: numa outra sala da escola moram Ralph -- um aluno de 10 anos que está dormindo aqui para poder assistir às aulas, já que seus pais se mudaram para longe -- e um casal e seus dois filhos (Ama, 3 anos, e Pablo, 9 meses) -- em Gana, é comum ceder espaço de uma casa ainda em obras para uma família que, em troca, "cuida" do lugar. Pois também invisto um tempo ajudando a entreter estes três pequenos.
Para conseguir fazer as minhas coisas, tipo, lavar roupa, ler e escrever para este blog, tenho que falar, bem séria: "agora estou ocupada e não posso jogar nada!" Sem me abalar com a carinha de desapontamento deles.
Na semana passada, comecei a pular corda e a fazer exercícios com uma "fit band", o que deu pra trazer no mochilão -- e porque, né, a dieta cheia de carboidratos daqui preocupa. Tentei no pátio e no segundo pulo tinham quatro crianças ao meu redor puxando a corda. Fui vencida.
Na tarde seguinte, corri escondidinha para uma sala de aula no primeiro andar e fechei a porta cuidadosamente. Abri mão do som e transformei aquele espaço em minha academia particular e silenciosa. Deu certo! Bora ver até quando.