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Duas jornalistas caem no mundo unindo duas paixões: viajar e ajudar o próximo. Aqui, elas relatam as alegrias, os perrengues e os aprendizados dessa experiência.

Voltou? Tô quase

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Por Bruna Tiussu
Atualização:
Na Bright School, vivendo o melhor estado de espírito: o de viajante voluntário. Foto: Eduardo Asta

Estou de volta ao Brasil. Mas voltei em partes. Porque existe o retorno físico e o mental. Enquanto o primeiro se resolve num voo (ou em dois, vá lá), o segundo exige todo um esforço intelectual, uma conexão de sentimentos e desejos.

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Já passei por isso no retorno de outras viagens, mas essa é a vez em que me sinto mais parcialmente de volta. E acho que tem a ver com a experiência voluntária, o mergulho profundo num ambiente desconhecido que esta condição de viajante nos impõe.

A coisa é tão intensa -- se você se joga de coração aberto, é bom lembrar -- que você se entrega a uma nova condição de vida, a novas "funções", a uma nova rotina em questão de dias. E se desconecta totalmente de sua morada e de sua origem. Retornar a casa, então, é como romper com um estado de espírito no qual você se encontrou.

Com as kids do Amasiko Greenschool, em Uganda. Foto: Eduardo Asta

Parece bem dramático, e talvez seja. Mas acalma pensar que é um processo temporário. A mente, afinal, não trabalha necessariamente na mesma velocidade que o corpo. Também não acho que aconteça com todo o mundo. Nós, que enxergamos no verbo "viajar" todo um sentido de vida, estamos mais sucetíveis a tal experiência. Às vezes nem voltamos completamente e já estamos pensando na próxima saída -- pois isso também alivia.

Neste exato momento, penso na próxima viagem como uma volta a anterior. Olha a bagunça. Vejo-me novamente na Furman Foundation, em Gana; no Amasiko Greenschool, em Uganda; e na Bright School, na Tanzânia. Imagino-me chegando lá, do nada, fazendo uma surpresa para as kids.

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Todos os dias, visualizo meu mochilão cheio outra vez, pronto para cair no mundo comigo. E, no fundo, pode ser um mundo na África, na Ásia ou no Brasil. O que faz sentido mesmo é a estrada, o movimento, a experiência. Nós, na real, somos simplesmente uma espécie em viagem. Como Jorge Drexler nos canta com perfeição:

"Somos una especie en viaje. No tenemos pertenencias sino equipaje.Vamos con el polen en el viento. Estamos vivos porque estamos en movimiento."

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