Estou de volta ao Brasil. Mas voltei em partes. Porque existe o retorno físico e o mental. Enquanto o primeiro se resolve num voo (ou em dois, vá lá), o segundo exige todo um esforço intelectual, uma conexão de sentimentos e desejos.
Já passei por isso no retorno de outras viagens, mas essa é a vez em que me sinto mais parcialmente de volta. E acho que tem a ver com a experiência voluntária, o mergulho profundo num ambiente desconhecido que esta condição de viajante nos impõe.
A coisa é tão intensa -- se você se joga de coração aberto, é bom lembrar -- que você se entrega a uma nova condição de vida, a novas "funções", a uma nova rotina em questão de dias. E se desconecta totalmente de sua morada e de sua origem. Retornar a casa, então, é como romper com um estado de espírito no qual você se encontrou.
Parece bem dramático, e talvez seja. Mas acalma pensar que é um processo temporário. A mente, afinal, não trabalha necessariamente na mesma velocidade que o corpo. Também não acho que aconteça com todo o mundo. Nós, que enxergamos no verbo "viajar" todo um sentido de vida, estamos mais sucetíveis a tal experiência. Às vezes nem voltamos completamente e já estamos pensando na próxima saída -- pois isso também alivia.
Neste exato momento, penso na próxima viagem como uma volta a anterior. Olha a bagunça. Vejo-me novamente na Furman Foundation, em Gana; no Amasiko Greenschool, em Uganda; e na Bright School, na Tanzânia. Imagino-me chegando lá, do nada, fazendo uma surpresa para as kids.
Todos os dias, visualizo meu mochilão cheio outra vez, pronto para cair no mundo comigo. E, no fundo, pode ser um mundo na África, na Ásia ou no Brasil. O que faz sentido mesmo é a estrada, o movimento, a experiência. Nós, na real, somos simplesmente uma espécie em viagem. Como Jorge Drexler nos canta com perfeição:
"Somos una especie en viaje. No tenemos pertenencias sino equipaje.Vamos con el polen en el viento. Estamos vivos porque estamos en movimiento."