20 dias de caminhão na África

É preciso aprender com os moradores a desacelerar para, em ritmo lento, absorver as experiências desta aventura de 20 dias a bordo de um caminhão, por sete países, de sul a leste do continente

PUBLICIDADE

Por Bruna Tiussu
Atualização:
Viagem à Africa, de caminhão, passou por sete países: África do Sul, Botsuana, Namíbia, Zimbábue, Zâmbia, Malauí e Tanzânia Foto: Eduardo Asta

Botsuana equilibra-se entre a secura de áreas desérticas e a abundância do Delta do Okavango. A Namíbia, que neste roteiro funciona como um atalho, possui rodovias muito melhores do que as do Estado do Rio de Janeiro. Delimitados pelas gigantescas Cataratas Vitória, o Zimbábue e a Zâmbia contam com cidades tão moldadas para o turismo que poderiam estar na Flórida. O pequenino e pobre Malauí é banhado pelo imenso e rico lago batizado com seu nome. É tanta água que parece um mar, e a outra margem não se vê. A maioria das descobertas se dá com os pés no chão. Em paradas para explorar vilarejos, percorrer trilhas, conversar com moradores e embarcar em obrigatórios passeios guiados. As refeições sempre feitas a céu aberto e as noites dormidas em barracas – é possível trocar por quartos, pagando mais – complementam a experiência “África real”. Pois diferentemente de nós, os povos de lá estão acostumados a espantar os babuínos que tentam roubar pães do café da manhã, a almoçar sob o sol escaldante e a serem despertos na madrugada com o grunhido de hipopótamos.

Na foto, guia do povo San, nômades que habitam o deserto. A maioria das descobertas do passeio se dá com os pés no chão. Foto: Eduardo Asta

PUBLICIDADE

Uma aventura de caminhão, porém, não se limita aos destinos visitados. Ela tem a estrada como componente adicional, e aqui ela merece ser promovida de cenário a personagem. Daqueles cheios de cores e atitude, que surpreendem, divertem e empolgam. Mas também sabem entediar e até provocar, mostrando a vida como ela é. Logo se percebe que esta porção do mundo funciona num ritmo próprio. Um ritmo ainda bastante ligado à natureza, em que a luz solar determina as horas de trabalho e palavras como prazo e pressa dificilmente encontram espaço. Portanto, é preciso também entrar no compasso local para aproveitar as vivências que essa jornada proporciona. Ir devagar, dar passos curtos, relaxar. Pois como dizem por lá, nós, os brancos, podemos ter o relógio, mas os africanos, meu amigo, são os verdadeiros donos do tempo. 

Caminhão tem cozinha e até ‘bar’

Caminhão da Nomad Tours passou por inúmeras adaptações para chegar ao modelo atual Foto: Eduardo Asta

Pense no carro do professor Bugiganga em versão caminhão. O veículo da Nomad Tours é mais ou menos assim. São tantos compartimentos e portinhas escondidas que até no último dia de viagem você descobre algo que não sabia. A empresa explica que foram muitas as tentativas e as adaptações feitas até chegar no modelo atual, que acomoda confortavelmente 22 viajantes, um guia e um motorista.  Cada um do grupo tem direito a um locker, com espaço suficiente para um mochilão dos grandes, de 75 litros. Os assentos contam com bolsões individuais e, importantíssimo, portas USB para carregar celulares e afins sempre que o veículo está ligado. Por fora, um lado do caminhão é para guardar tralhas de camping: barracas, capas, colchonetes, cadeiras e ferramentas. No outro fica o kit cozinha com fogão, gás, utensílios e comida. O veículo conta ainda com um espaço na traseira desenhado para encaixar duas mesas de ferro de mais de dois metros cada. E tem um reservatório para água, usada para cozinhar ou lavar louças em paradas nas estradas. É de praxe reservar um tempo a cada três dias para a compra de alimentos. E a geladeira com freezer instalada no interior do veículo ajuda bastante nessa logística. Enquanto o guia cuida da lista de comidas, os viajantes ficam livres para comprar lanchinhos, água ou bebidas alcoólicas, que são colocadas num cooler no fundo do caminhão. Abastecido regularmente com gelo pelo guia, dá para dizer que o veículo tem até bar próprio.

Burocracia e afins

Com os locais. Moradores improvisam bancas em Ngala, perto do Lago Malauí Foto: Eduardo Asta

1. Vistos Não é exigido dos brasileiros na África do Sul, em Botsuana e na Namíbia. Os demais países pedem o documento, que pode ser solicitado nas fronteiras – gasto extra de US$ 205 a serem pagos em dinheiro vivo.2. Línguas  Todos os países do roteiro têm o inglês como língua oficial, mas não é todo mundo que você encontra pelo caminho que fala o idioma. Se preciso, peça ajuda do guia. 3. Dinheiro  Cada país tem a sua moeda e você pode fazer saques em caixas eletrônicos ou usar casas de câmbio. Alguns deles aceitam dólares, rands (da África do Sul) e até moedas de nações vizinhas. A exceção é o Zimbábue, que não têm moeda própria – portanto, não dá para usar caixas eletrônicos – e aceita pagamentos em dólares, rands, euros e pulas (de Botsuana). Em sua maioria, restaurantes e bares, mesmo os dentro dos campings, podem ser pagos com cartão de crédito, mas é bom ter um pouco de dinheiro em espécie para comprar nos mercados abertos e dos vendedores ambulantes nas estradas.4. Vacinas  É exigida apenas a contra febre amarela – que deve ser tomada em dose completa no mínimo dez dias antes da viagem. Leia todas as informações: bit.ly/viafebre.5. Malária  O roteiro passa por áreas onde a doença é recorrente, então invista em repelentes poderosos.

Saiba mais

Publicidade

Quem leva: com sede na África do Sul, a Nomad Tours é a maior empresa de turismo overland do continente. O trajeto de Johannesburgo a Dar-es-Salaam é operado o ano todo e também pode ser feito no sentido contrário.  O pacote tem 20 dias de duração e inclui todos os trajetos no caminhão, os campings (há também a opção de se hospedar em quartos, por US$ 723 a mais), refeições e acompanhamento de guia; custa a partir de US$ 2.382 por pessoa.  A empresa vende à parte um pacote de atividades que, na verdade, é essencial para explorar os destinos do roteiro, por mais US$ 819 adicionais. Não inclui aéreo. 

Leia mais: Todas as dicas do Viagem para quem viaja para a África

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.