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A centopeia atropelada

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Por Redação
Atualização:

Como era de se esperar, muitos leitores concordaram com as ponderações de mr. Miles sobre a lei da reciprocidade e outros tantos trataram-no como a um estrangeiro (o que ele realmente é), que não devia enfiar seu bowler hat em temas brasileiros. Um deles, chamado João Manuel Maio, chegou a sugerir que nosso correspondente fosse "ganhar dinheiro em outras terras", após tê-lo chamado de "menos maduro do que nos fez crer esse tempo todo". Outros articulistas talvez ficassem ofendidos, mas mr. Miles trata do assunto com fairplay: "Well, my friends: a opinião que tenho sobre a lei da reciprocidade não mudou, unfortunately, nem mesmo com o argumento de que essa é uma prática diplomática internacional. Nem todas as práticas diplomáticas internacionais são inteligentes e eficientes. Aliás, pelo lamentável e recorrente desentendimento entre os povos, eu diria que os diplomatas não têm feito o seu dever de casa, como Neville Chamberlain, que precisou perder metade da Europa antes de entender que Hitler tinha projetos expansionistas. Sobre a sugestão para que eu ganhe dinheiro em outras terras, ela é, I must say, totalmente equivocada. Escrevo, única e exclusivamente, para gáudio de meus leitores e fico infeliz quando não atinjo meu intento, como nesse caso. Fico, however, lisonjeado com a sua referência ao que chama de minha imaturidade. Tento, com todas as minhas forças, manter o espírito jovem e aberto para continuar fazendo amigos pelo mundo, despite my age." A seguir, a pergunta da semana:Prezado mr. Miles: não me considero nenhum destruidor da natureza, mas, em algumas viagens para destinos ecológicos, sinto que os guias e monitores me olham e me tratam como se eu tivesse culpa pelo que aconteceu com Chernobyl! O senhor não acha que os ecochatos exageram? Alexandre Severo Fontes, por e-mail "Well, Alex: saio de uma saia justa - como você pôde ler acima - para entrar em outra. Digamos que considero louvável qualquer esforço para salvar o planeta e, of course, louváveis as pessoas que se propõem a fazer esse trabalho, de forma paga ou voluntária. However, entendo sua colocação, com base em algumas experiências pessoais. Anos atrás, na bela Fernando de Noronha, fui impedido de entrar na linda Praia do Leão por um rapaz arrogante de pouco mais de 20 anos. Tratava-se, my God, do supervisor do Ibama naquele paraíso brasileiro. Inquirido, o quase petiz avisou, com os dentes cerrados: 'Não ousem atravessar essa faixa laranja. A praia está fechada para que as tartarugas possam chocar.' Fair enough, pensei, mas confesso que nem com meus binóculos vi um único quelônio na praia. Perguntei à jovem autoridade quantas tartarugas estavam chocando ali. Believe me: tratava-se de uma única! Ou seja: ao invés de cercar o perímetro de atuação da tartaruga, o aprendiz de burocrata proibiu que todos os visitantes conhecessem uma das raras áreas públicas da ilha, que já é quase toda fechada pelo Ibama. Situação mais hilariante vivi numa certa trilha interpretativa (what a strange language they use) nos arredores da bela Itacaré, na Bahia. Antes mesmo do início do passeio, o proprietário do empreendimento fez uma longa peroração sobre o equilíbrio da natureza, a sustentabilidade e todos esses termos usados por ecologistas. Ocorre que uma mosca varejeira pousou, inadvertidamente, na coxa de uma participante do passeio e ela sapecou-lhe um tapa mortal. O palestrante, my God, fez um silêncio de quem está prestes a velar um ente querido e disparou, em direção à moça, um insuportável olhar de acusação. Ainda assim percorremos a tal trilha, que era apenas um belo caminho na mata. Distraída com as copas das árvores, a mesma moça pisou em uma centopeia que se arrastava pelo caminho. Com medo de, desta vez, ser executada pelo guia, deu uma corridinha e gritou: 'Não fui eu, não fui eu!' O sujeito pegou o corpo da centopeia atropelada e, contrito, levou-a para um pote de maionese - aonde deve permanecer até hoje." É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E 16 TERRITÓRIOS ULTRAMARINOS

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