VALÊNCIA - O idioma valenciano dá o ar da graça em todas as placas da cidade e, apesar das muitas semelhanças com o catalão, convém não comparar. Outra coisa que Valência tem de incomparável são as Fallas, festa que começou no dia 1º, mas que terá seu auge em 19 de março, quando são queimadas as esculturas de papel machê na Plaza del Ayuntamiento. Figuras com mais de 20 metros de altura, que satirizam políticos e outras personaliades de destaque, são incendiadas em uma das mais pitorescas festas do planeta.
Foi queimando suas fallas que Valência construiu um diálogo entre a tradição e a vida contemporânea. Com potencial para agradar a todos. Mesmo os que acham o máximo a arquitetura futurista do valenciano Santiago Calatrava não devem ir só por conta da icônica Cidade das Artes e das Ciências. Por outro lado, quem não vê a menor graça nos traços modernos não deveria ignorar Valência por causa disso. O preservado patrimônio histórico e a gastronomia engordam a lista de motivos para passar alguns dias zanzando (e comendo) pela terceira maior cidade da Espanha.
Prédios contemporâneos como o Palácio de Congressos, projetado pelo vencedor do Prêmio Pritzker Norman Foster, e o Veles i Vents, dos arquitetos David Chipperfield e Fermín Vázquez, além do ritmo agitado dos 815 mil habitantes endossam a aura cosmopolita de Valência. O contraste com o passado, que remonta à fundação romana no século 11 e à posterior ocupação pelos muçulmanos, se dá no centro antigo. A fachada de pedras amareladas da catedral, concluída em 1370, além da relíquia lá exposta – a taça que Jesus Cristo teria usado na Santa Ceia e que seria o Santo Graal –, reforçam a sensação.
Ainda que não tenha o mesmo apelo turístico regular de Madri e de Barcelona, Valência recebe dois milhões de visitantes a cada ano. Seu complexo científico e cultural, além de uma vida noturna pulsante e culinária ímpar, já seriam razões de sobra. Quem nunca ouviu falar da paella valenciana? Menos populares, a horchata e a água de Valência são outras surpresas que o paladar revela durante uma imersão na cidade.
História robusta
Mergulho no conhecimento
Desde que saiu completamente do papel, em 2005, a Cidade das Artes e das Ciências virou símbolo de Valência. Não unânime, mas ainda assim uma referência na cidade, que passou a respirar ares mais modernos com o grande projeto arquitetônico de seu filho pródigo, o arquiteto Santiago Calatrava. Ao longo de uma faixa de 350 mil metros quadrados pelo leito do Rio Túria, o complexo abriga museu interativo, auditório comparável ao da Ópera de Sydney, sala de cinema com tela Imax e planetário.
Apetite nativo
A aula começa no Mercado Central. A visita obrigatória (para alunos ou não) revela ingredientes culinários frescos sob a arquitetura modernista do impressionante edifício de 1928. Zanzando com desenvoltura por entre as bancas, um homem corpulento e carismático conduz o grupo. O ex-publicitário Jaime Cros Ferrandiz hoje se dedica a ensinar aos visitantes – estrangeiros, principalmente – o passo a passo da autêntica paella valenciana. Só que a primeira lição vem antes da cozinha: é preciso aprender a escolher os ingredientes.