Do bacalhau aos fiordes, um raio X da Noruega

Da arquitetura moderna de Oslo à indústria pesqueira de Alesund, do legado viking às obras de Munch, o país mescla tradições milenares e modernidade, em uma profusão de cartões-postais

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Por Adriana Moreira
5 min de leitura
As casinhas art nouveau de Alesund, patrimônio da Unesco Foto: Adriana Moreira/Estadão

Frito, ensopado, com batatas e tomate, salgado, ao natural, e até mesmo em sashimi. Se você acha insuficiente comer bacalhau apenas em ocasiões especiais como a Semana Santa, saiba que nas mesas norueguesas o pescado é algo cotidiano. Em uma viagem de uma semana para a Noruega, é possível comer bacalhau todos os dias, sem nunca repetir a receita. E, de quebra, matar uma curiosidade: afinal, como é a cabeça de um bacalhau?

Conhecida pela beleza dos seus fiordes e os encantos da aurora boreal, a Noruega também se destaca quando o assunto é gastronomia. E é o bacalhau quem ocupa o centro da atenção – seja em pratos da culinária tradicional ou em criações ambiciosas de chefs inventivos. 

Vale lembrar, contudo, que por lá bacalhau não é um peixe, mas uma receita. “Se você for em um restaurante e pedir bacallao, será um cozido de peixe com batatas, tomates e cebola”, explica o chef Mindor Klauset, do Klippfiskakademiet (Academia do Bacalhau), restaurante que funciona dentro do Aquário de Alesund

No Brasil, o gosto pelo bacalhau foi trazido pelos portugueses. Aliás, não faltam referências ao Brasil no Museu da Pesca – ou Stiftinga Sunnmoreda –, que fica a cerca de cinco minutos de carro do centro de Alesund e funciona num antigo galpão. Fotos e materiais usados na indústria da pesca no passado estão em exibição, e também é possível fazer um passeio de barco na réplica de um veleiro do início do século 20. Veja a programação em bit.ly/oldveleiro. A entrada no museu custa 80 coroas (R$ 35). 

Capital da pesca

Com 47 mil habitantes, Alesund se destaca como principal porto pesqueiro do país. O bacalhau é um dos produtos mais importantes para a economia local, e a indústria da pesca norueguesa é extremamente profissional, com uma linha de produção que começa ainda no barco, em alto-mar. O pescado é parcialmente processado ali mesmo – ou seja: chega limpo (e sem cabeça) em terra firme.

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Mas, apesar disso, boa parte das fábricas de processamento de peixe são familiares – caso da Grytestranda Fiskeindustri, onde pai, filha e filho da família Engeseth trabalham nas mais diferentes funções. Terno e gravata atrás de uma mesa? Não necessariamente: vestidos com o mesmo uniforme dos funcionários, no dia de nossa visita eles também separavam o peixe, empilhavam caixas ou faziam contas. Tudo a depender da necessidade da empresa.

Não é só o bacalhau, contudo, que dá notoriedade à cidade. As casinhas coloridas em estilo art nouveau são o cartão-postal de Alesund, que literalmente renasceu das cinzas. Em 23 de janeiro de 1904, um incêndio se espalhou rapidamente pelas casas de madeira e destruiu totalmente a cidade. Três anos depois, Alesund foi reconstruída – hoje, ostenta o título de patrimônio mundial da Unesco.

Um pouco dessa história está disponível no museu Jugendstilneteret, que funciona numa antiga farmácia no centro histórico de Alesund. O ambiente é simples, mas charmoso e acolhedor, com memorabilia, fotos e depoimentos de moradores contando sua experiência na ocasião do incêndio. Entrada a 85 coroas (R$ 35).

Caminhar pelo centrinho, observando os edifícios e seu reflexo na água, é um programa clássico para uma tarde ensolarada. Aliás, com sol, aproveite para subir ao mirante, no restaurante Monte Aksla, com pratos rápidos e saborosos. Se tiver disposição (e o clima ajudar), aproveite para descer os 400 degraus que ligam o mirante ao Byparquen (ou Parque da Cidade) e ver a paisagem se transformando pouco a pouco. 

Com a cabeça, com tudo

Aquário de Alesund, onde nadam bacalhaus, zarbos e lings Foto: Adriana Moreira/Estadão

Minha grande curiosidade seria satisfeita, finalmente, no aquário de Alesund, o Atlantic Sea Park (entrada a 180 coroas ou R$ 75). Construído à beira-mar, o parque conta com uma ampla área externa onde ficam lontras e pinguins – em tanques separados. 

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Leia mais: No caminho do bacalhau

Na parte interna, o imenso aquário poderia ser igual a outros tantos que existem mundo afora, se não fosse por um detalhe. Ali nadam bacalhaus e outras espécies dos mares nórdicos, o que ajuda a compreender as diferenças dos peixes que chegam aos mercados brasileiros.

O bacalhau “oficial”, por assim dizer, é o da espécie Godus morhua – o cod, em inglês. Mais robusto, ele impressiona pelo tamanho e pode pesar até 55 quilos distribuídos em 1,70m. Já o ling é mais esguio, com até 2 metros de comprimento e 40 quilos, e sua carne se assemelha muito à do bacalhau. O zarbo é bem menor: atinge no máximo 9 quilos e 1 metro de comprimento.

Missão cumprida.

Destaques gastronômicos

1. Masterchef no Aquário O Klippfiskakademiet (Academia do Bacalhau) não é só um lugar para comer, mas para aprender a preparar o peixe mais famoso da Noruega. Na primeira parte, o chef Mindor Klauset explica os diferentes preparos do bacalhau e ensina técnicas para dessalgar enquanto serve amostras preparadas na hora. Na segunda parte, é hora de botar a mão na massa – nosso grupo foi dividido em dois, cada um com uma receita diferente de bacalhau (assistentes dão uma ajudinha). Diversão garantida. Programação em klippfiskakademiet.no (você vai precisar da ajuda do Google Tradutor).

2. Restaurante isolado 

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Área externa do Skotholmen, restaurante que funciona em uma ilhota a duas horas de Alesund Foto: Adriana Moreira/Estadão

Para chegar ao Skotholmen, só de barco. O restaurante refinado, comandado pelo chef Magnus Bergseth, fica em uma ilhota em Fosnavaag, a 2h de Alesund. É preciso se programar para chegar no horário dos barcos que levam e buscam os clientes (fazer reserva é essencial). Ingredientes locais são preparados com muito esmero – e o cardápio muda constantemente. O menu com três pratos custa 585 coroas (R$ 250). 

3. Sashimi de bacalhau De frente para o mar, o Zuuma, no centro de Alesund, não é um restaurante japonês clássico. Combinados a ingredientes da Noruega, os pratos orientais ganham uma versão elegante e saborosa – caso do sashimi de bacalhau. Combinados desde 235 coroas (R$ 89).

Antes de ir

Como chegar

Não há voos diretos do Brasil para a Noruega. Lá, considere alugar carro: as estradas são ótimas e bem sinalizadas. 

Melhor época

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No verão, para curtir os fiordes; no inverno, para ver a aurora boreal. O verão pode ter temperaturas baixas – leve gorro, luva e um bom casaco.

Site: visitnorway.com.br.

VIAGEM A CONVITE DO VISIT NORWAY E DO CONSELHO NORUEGUÊS DA PESCA.

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