A pé na cidade do Taj Mahal

Agra vive à sombra do monumento, que levou 16 anos para ser concluído

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Por Camila Anauate
Atualização:

Só caminhando para ver, ouvir e sentir o contraste chamado Agra. Das ruelas cobertas de lixo ao luxo das suítes de US$ 6 mil. Becos sujos e hotéis cinco-estrelas com a mesma vista incrível para o Taj Mahal. Agra e seus moradores, é bem verdade, vivem à sombra desse valioso Patrimônio da Humanidade. Então vamos até ele. Andando, mesmo porque os carros são obrigados a parar a bons metros de distância ? tudo para evitar a poluição. Ainda não são 9 horas e os termômetros ultrapassam os 30 graus. Vendedores muito chatos (per)seguem você até a entrada do complexo. Pendurados até o nariz de badulaques e bugigangas, insistem, negociam, oferecem o que não têm. Irritado com o assédio, inconformado com tanta diferença, você vai entrando. E derretendo. Sem se dar conta de que um dos monumentos mais maravilhosos do planeta está logo ali. Mas basta ultrapassar o portal e o mundo se cala. Parece miragem, sonho, poesia, não sei. Um colosso de mármore branco com proporções exageradamente simétricas. E um jardim à imagem do paraíso. E um espelho d"água que reflete tudo. A multidão, os vendedores, o calor, nada mais incomoda. Sobe e desce escada, anda para lá e para cá, observa aqui e ali em busca do melhor ângulo, do sári mais colorido para contrastar com o branco. A essa altura, sol a pino, você começa a achar graça dos indianos que imploram por uma foto sua. Homens, mulheres, crianças. Você é diferente, oras, e merece tanta atenção quanto um astro da cinematográfica Bollywood. ETERNO Passos adiante, os detalhes do Taj começam a saltar aos olhos. Pedras preciosas incrustadas nas paredes em forma de flor, milhares de arabescos, palavras do Alcorão. Tudo esculpido à mão, com a delicadeza digna de um amor eterno. O Taj Mahal é a promessa cumprida do imperador mongol Shah Jahan. Um presente para sua mulher preferida, Mumtaz Mahal, que morreu no parto do 14º filho, no já muito distante ano de 1630. Antes de entrar no mausoléu, é preciso colocar uma proteção nos sapatos, para não arranhar o piso. Lá dentro, estão as réplicas do túmulo do casal. E muitos outros detalhes nas paredes. Mas o ambiente é escuro e não se pode fotografar. Melhor curtir a beleza do monumento iluminado de sol. À saída, com um sorriso envergonhado, os indianos vão pedir outra foto, mas também a proteção para os pés. Eles pagam menos ingresso, mas são obrigados a entrar descalços. O chão está fervendo. Antes de virar as costas, uma última mirada, e a história repassa pela cabeça. Foram necessários 16 anos, 41 milhões de rupias, 500 quilos de ouro e 22 mil homens para erguer o Taj Mahal. Artesãos e materiais trazidos de todas as partes da Ásia sobre o lombo de elefantes. Obsessão que só poderia terminar em loucura. Antes que o imperador Shah Jahan construísse para ele um mausoléu igual, mas de mármore preto, acabou preso pelo próprio filho. E foi das torres do Forte de Agra, a dois quilômetros dali, que ele passou seus últimos meses de vida, admirando sua obra megalomaníaca e sofrendo pela mulher amada. NO FORTE Dá-lhe mais perna para visitar o Forte de Agra, outro Patrimônio da Humanidade, cercado por 2,5 quilômetros de pesadas muralhas. A imponente construção de arenito vermelho ficou pronta em 1573 e passou pelas mãos de diversos imperadores mongóis. A visita no complexo passa por palácios que parecem saídos de contos de fadas ? como o Jahangir e o Khas Mahal ?, mesquitas e halls inteiros de mármore. Também pelo harém. Tudo forrado de ouro e pedras preciosas. Nos corredores repletos de pilares, dá para sentar alguns minutos. Mulheres de sári e homens barbudos passam e reparam e sorriem. Pelos arcos vê-se o Taj Mahal, imponente, luxuoso, em meio ao lixo. Respire ? e tome um farto gole de água.

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