Acervos artístico e botânico para interagir a seu gosto

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Por Bruna Tiussu e BRUMADINHO
Atualização:

O sonho era antigo. Foi lá na década de 1980 que o empresário Bernardo Paz idealizou transformar aquela imensa área de sua fazenda em Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte, em um museu a céu aberto. Ou, caso prefira, em um parque ecológico com diversificado acervo artístico. Contou com o auxílio de curadores, se apaixonou pela arte contemporânea e recebeu a ajuda de amigos especialistas em paisagismo, como, por exemplo, Roberto Burle Marx (1909- 1994). E, em 2006, viu o que era sua propriedade privada se transformar, enfim, em um complexo de arte acessível a todo público.O trabalho foi tão bem feito que mesmo que você chegue ao Instituto Inhotim com expectativas elevadas, termina a visita perplexo, deslumbrado. Acontece com todo mundo. É como se o local tivesse sido projetado de forma a permitir mergulhos e interpretações variadas, onde a sua também fará sentido. Algo de dar inveja até aos mais bem projetados museus internacionais. Ali, não é preciso ser conhecedor da arte ou ter interesses específicos em botânica para curtir o passeio, basta interagir com o ambiente.Interação, aliás, é palavra comum por lá. Espalhadas pelo complexo, ora instaladas entre jardins, ora no alto de montanhas, conversando com a paisagem do entorno, boa parte das obras ao ar livre (são cerca de 25) convida o visitante a experimentar com sentidos que vão além da visão. Caso do Magic Square de Hélio Oiticica, que brinca com cores, formas e permite caminhar e tocar em suas estruturas. Ou da piscina criada por Jorge Macchi, que também está aberta para seu uso primário: nadar. Lógica similar é aplicada às galerias - dentro delas, porém, não é permitido tirar fotografias. São 19 ao todo, incluindo uma dedicada a Adriana Varejão e duas recém-inauguradas: a de Lygia Pape, aberta mês passado, e outra reservada aos trabalhos de Tunga, um dos primeiros a ter obras no acervo do complexo, inaugurada dia 7. E a expansão não para: uma grande galeria está em construção para reunir trabalhos de vários artistas (ainda sem data prevista) e, em 2013, o Inhotim deve ganhar um espaço dedicado ao dinamarquês Olafur Eliasson, que já assina o caleidoscópio gigante onde você é quem direciona o ângulo de visão. O indiano Anish Kapoor prometeu uma obra para 2014.Tais galerias exploram conceitos múltiplos da arte contemporânea e atraem por uma mistura de beleza, crítica, visão futurística e até volta ao passado. O trabalho pode se resumir à exibição de um filme (o Da Lama Lâmina, de Matthew Barney, está na galeria Marcenaria), obras viajadas e conhecidas mundialmente - caso de Desvio Para o Vermelho, de Cildo Meireles - ou ainda conceitos artísticos totalmente "mão na massa" como o de Marilá Dardot. Em sua peça Origem da Obra de Arte, o visitante é induzido a compor palavras utilizando vasos de cerâmica em formato de letras - há, inclusive, terra, semente e material de jardinagem para a atividade ficar mais lúdica.Esforço com recompensa. O espaço é gigantesco: a área de visitação ocupa quase 100 hectares, por onde se espalham 80 das 600 obras da coleção do instituto. E apesar de o parque contar com serviço de carrinhos para percursos internos (opcional, R$ 15), você terá de caminhar bastante e, vez ou outra, subir e descer ladeiras. Nada que vá deixá-lo exausto, pode acreditar. Muito porque os trajetos são amenizados por pausas que você não vai querer evitar. Como não clicar e admirar o gigantesco Tamboril, árvore de cerca de 90 anos que fica bem no centro do parque? Ou descansar cinco minutos acomodado em um dos bancos feitos de troncos?O catálogo botânico impressionante, com espécies raras e várias nativas da Mata Atlântica, deu ao Inhotim o título de jardim botânico em 2009 - o local tem nada menos que a maior coleção mundial de palmeiras, com cerca de 1.400 variedades. Outra marca registrada dali são as patas-de-elefante, árvores que, além de dar graça ao ambiente, possuem bases largas que dão perfeitos encostos para um descanso rápido. O vandário, uma coleção de orquídeas suspensas em pequenos vasos, forma um corredor que permite a entrada de raios de luz. Passar por ali é simplesmente encantador. Para levar para casa um pouquinho do lado verde do Inhotim, algumas das espécies ali cultivadas também estão à venda na lojinha perto da entrada do parque. Com direito a vários modelos de vasos, sementes e outros produtos de jardinagem.

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