Espremido entre Moçambique, Zâmbia e Tanzânia, o Malauí é uma tripa de país sem saída para o mar. Mas com praia. Por conta do gigantesco lago que leva seu nome – com 580 quilômetros de comprimento, ocupa um quarto do território –, vem atraindo turistas a fim de cair em suas águas sempre quentes e relaxar com pés nas areias finas das margens. Nosso roteiro contempla duas praias, porque é hora de abusar do dolce far niente. São 270 quilômetros (quatro horas) do Parque Nacional Luangwa do Sul até a Praia de Ngala. O primeiro contato com aquela abundância de água faz pensar que se está diante do mar. A outra margem, já território moçambicano – o lago ainda banha a Tanzânia –, não se vê. As águas parecem refletir o azul do céu, de tão límpidas. A comparação com o céu não é nova. Acredita-se que os portugueses foram os primeiros europeus a avistarem o Lago Malauí, em 1846, mas foi David Livingstone (sempre ele) que levou a fama do “achado”, em 1859. Já era noite quando o explorador escocês ali chegou, e, ao ver a luz das lanternas dos barcos de pescadores nativos, achou aquilo tão lindo quanto as estrelas. A semelhança rendeu apelido: Lago das Estrelas. Até hoje, o brilho das lanternas dos barcos pode ser visto desde a areia. Farto em peixes, o lago é a principal fonte de alimento da população ribeirinha e de muitos pescadores sazonais, que moram longe e migram apenas na época de pesca. Se enchem as redes, engatam uma cantoria e dançam na areia. Faz parte da tradição.
Dá para ouvir mais gente cantando durante o tour pela vila de Ngala, vizinha à praia. As músicas vêm das igrejas ou das bocas de crianças que brincam nas ruas. No Malauí, por onde se olha lá estão elas. Ainda na lista dos dez mais pobres do mundo – seu PIB per capita é de US$ 894 –, o país contabiliza 6,8 milhões de crianças, mais da metade da população. Pesquisas indicam que um casal tem, em média, oito filhos, o que fez com que o governo pedisse ajuda internacional para ações de planejamento familiar. Como a maioria dos pequenos não está acostumada ao contanto com brancos, espere olhares, acenos e sorrisos. Responda aos acenos, devolva os sorrisos e, para, presenciar cenas de êxtase, faça fotos delas com o celular. Dentro e fora d’água. Chitimba, a segunda praia do roteiro, fica no extremo norte do país, a 300 quilômetros. O percurso dura mais quatro horas, com a vantagem de estar quase sempre margeando o Lago Malauí. Seu ponto alto é a vista dele do topo de uma montanha, com direito a babuínos que habitam a área. Mais uma chance de se surpreender com o tamanho e a abundância de água. Nadar, caminhar na areia, ler na rede e tomar sol continuam sendo as atividades da vez. Mas o lugar oferece opções para quem quer mexer um pouco mais o corpo, como andar de caiaque, velejar e mergulhar com snorkel nas águas supertransparentes.
Para o snorkeling, é preciso ir de barco até uma das ilhas, ricas em rochas que servem de hábitat para diferentes peixes. Os ciclídeos são os mais comuns, com centenas de cores, alguns fluorescentes e outros listrados. Eles ganharam fama mundo afora com o simples nome de “peixe Malauí”. É possível se aventurar na caminhada de seis horas montanha acima até Livingstonia. Também há como chegar à cidade de carro, em 45 minutos. Fundada em 1894 por missionários escoceses, o que se vê hoje são igreja, escola e hospital da época colonial. Mas a visita vale mesmo por mais uma panorâmica do Lago Malauí, especialmente bela no fim do dia.