PUBLICIDADE

Aguardar o ataque das orcas, o grande atrativo de Punta Norte

Por PUERTO MADRYN
Atualização:

Olhares atentos no horizonte. "As orcas podem chegar a qualquer momento." "Mas é claro que virão, aqui é um dos dois únicos lugares do mundo em que saem do alto-mar e chegam até a praia." "Não tire os olhos do binóculo para não perder nenhum detalhe." Em Esperando Godot, peça clássica do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989), os personagens Vladimir e Estragon aguardam em vão a chegada de um tal Godot. Escrito em 1953, o enredo se encaixaria perfeitamente às horas de espera pelas orcas em Punta Norte. Como não é permitido descer à beira-mar, cerca de 70 turistas sentados em cadeiras de praia ou acomodados no barranco, com suas lentes enormes apontadas para o horizonte, aguardam como os dois protagonistas. Entre março e abril - justamente o período de nossa visita - , as orcas costumam atacar filhotes de leão-marinho que estão aprendendo a nadar nesse trecho da Península Valdés. As gigantes projetam seu corpo sobre a areia da praia, aproveitando a distração dos filhotes. Imagens que, em câmera lenta, vão parar no canal sobre vida selvagem que você assiste no conforto do lar. Mas não se engane: avistá-las no horizonte já é raro. Vê-las se aproximar da praia requer muita sorte. Flagrar um ataque, então..."Já vim aqui umas 10 vezes. O máximo que vi foi um grupo de orcas nadando a uma centena de metros da praia", conta o biólogo Dario Podestá, de 42 anos, equipado de uma comprida lente teleobjetiva. Ele conta que para conseguir uma autorização do proprietário da fazenda (cujo acesso é gratuito) e do governo para permanecer na praia é preciso desembolsar US$ 300 por dia, como fazia uma equipe do National Geographic Channel, que vimos ao longe. Sem pagar e sem sorte, após três horas tivemos de nos contentar com cinco elefantes-marinhos dormindo e algumas dezenas de leões-marinhos ao longe. Nada de Godot no palco, nada de orcas na praia. / F.M.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.