Amigos reais são amigos de verdade

Determinado a ver a Copa do Mundo no Brasil, mr. Miles anuncia: “Já estou em seu magnífico país!”. Infelizmente, como em outras ocasiões, ele não deu detalhes de sua localização. Entretanto, se algum de nossos leitores encontrar um cidadão de chapéu-coco, envergando um guarda-chuva e com uma cachorrinha que atende pelo nome de Trashie ao lado, rogamos que informe imediatamente à redação.

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Por Mr. Miles
Atualização:

Pelo que se conhece do incansável viajante britânico, bares, pubs e outros lugares com presença de whiskies e single malts são uma boa pista para começar a busca.

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A seguir, a pergunta da semana:Querido mr. Miles: minha filha quer passar um mês em um desses acampamentos de intercâmbio que reúnem gente de todo o mundo. Fica na Noruega. Parece tudo muito bom, mas ela não pode entrar em contato comigo durante toda a jornada e, pior, não pode levar celular ou tablet para compartilhar comigo e com seus amigos o melhor de sua experiência. O que o senhor acha disso?Berenice Cerqueira, por e-mail

"Well, my dear, a sua pergunta me conduz a uma tema que, as I see, está levando a população de nosso lindo planeta a uma era de solidão sem precedentes. Entristeço-me ao observar como as pessoas que se julgam relacionadas não percebem como esse envolvimento cibernético, via redes sociais, é o mesmo que nada.

Tenho uma amiga chamada Françoise que se orgulha de ter mais de mil amigos em seu Facebook. Amigos? Como podem ser amigas pessoas que nunca se viram pessoalmente, jamais compartilharam o mesmo espaço físico, não se olharam nos olhos uns dos outros, não sentiram o calor da presença alheia e nem deram a chance àquela estranha química que gera a empatia e, sometimes, até o amor?

Repare, Berenice: as pessoas não vão aos parques para ver as outras. Ao contrário: fecham a porta de seus quartos, isolam-se em frente à tela de seus apetrechos e creem, oh, my God, que estão ampliando seus horizontes, conhecendo pessoas que também não conhecem ninguém. Sinto que está em gestação um universo de fantasmas em que as pessoas curtem, mas não amam. Compartilham, mas não compreendem. Cutucam, mas não tocam.

Imagine como isso entristece um viajante como eu, com amigos de carne e osso, que gosta de vê-los em suas casas, nos pubs, nas praças. E, com isso, aprender a discerni-los – o que é impossível ocorrer em um relacionamento virtual. 

O tema me incomoda tanto que já ousei repreender algumas pessoas que, em vez de olhar ao redor, estão sempre cutucando os teclados de seus gadgets, ainda que o interlocutor esteja a poucos metros de distância. Isn’t this awful?

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Toda essa ladainha, my darling, para dizer que eu acho magnífica a ideia de sua filha participar de um camp com gente de todo o mundo. E ainda acho melhor o fato de ela não levar celulares ou tablets, porque será sua grande chance de, at least for a month, fazer amigos de verdade. Creia-me: os similares virtuais não darão a mínima para essa ausência. Basta que ela não curta ou comente qualquer fato por dez minutos e a rede social se encarregará de substituí-la por outra foto que digite mais.

Quanto ao fato de que você não vai ter notícias de sua filha por um mês, lembre-se de que, há dois séculos, uma correspondência poderia levar muito mais que isso para ser entregue ao destinatário.

E, on the other hand, a filha cosmopolita que você receberá ao fim do acampamento será outra pessoa, acostumada a interagir com gente de verdade. O que, nesse caso, até vai lhe dar sabedoria no uso das redes sociais. Don’t you agree?”.

*É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E  16 TERRITÓRIOS ULTRAMARINOS 

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