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Ao nível do mar

Por Monica Nobrega e SANTA MONICA
Atualização:

O verão ainda nem tinha se estabelecido oficialmente. O fog do Pacífico embranquecia o horizonte e dava suaves dribles no calorzinho que, teimoso, insistia em voltar. Mesmo assim, o movimento na loja de aluguel de bicicletas Bike Center era considerável. Em 15 minutos ali, tempo de preencher cadastro e ouvir instruções, vi chegarem dois casais, uma família com duas crianças, um homem sozinho e duas adolescentes. Todos repetiram o roteiro de responder umas poucas perguntas, escolher a bike e sair pedalando pelas ruas largas e bem sinalizadas de Santa Monica, cidade litorânea cerca de 20 quilômetros distante do Aeroporto de Los Angeles, nos Estados Unidos. Não que estivessem todos de férias: naquele começo de tarde de quinta-feira, o homem sozinho, de camisa e sapato, carregava uma pasta. E, no meu caso, a bicicleta serviria ao deslocamento entre as lojas de uma lista pré-selecionada. Eu ia às compras. Compras sustentáveis, permita-me esclarecer. O alvo eram os maravilhosos brechós do centro de Santa Monica, os melhores que já vi (leia na página 9). Pedalar em busca de roupas bacanas, mas de segunda mão: bem ao estilo californiano de levar a vida. O Estado que, entre outras iniciativas, acaba de assinar um termo de compromisso para reciclar 75% do lixo até 2020 vive um momento de preocupação com saúde e preservação do planeta. Que começou há pelo menos 15 anos e parece cada vez mais fazer parte do dia a dia dos moradores. E, inevitavelmente, dos turistas. Em um roteiro de sete dias por quatro cidades litorâneas, escolhidas pela proximidade de Los Angeles e porque sua infraestrutura permite dispensar o carro - em plena rota cênica da Highway 1, uma das mais famosas do planeta para viagens motorizadas -, as evidências apareciam em toda parte, todo o tempo. Nos cestinhos para lixo reciclável dos quartos de hotéis e nas ruas; nos avisos de ingredientes orgânicos em mercados e empórios, e de pratos idem nos restaurantes; nos folhetos que anunciam tours por vinícolas orgânicas; na multidão que se exercita todo fim de tarde, mesmo nublado. Nas ruas e nas praias. Pacífico. A praia, aliás, é ponto de partida, chegada e referência. Compõe cenários impecáveis junto à avenida que corre sobre a falésia de Santa Monica, ou no nível do mar em Santa Barbara. Emoldura marinas charmosas, embeleza o quintal sem muro de casas de madeira com jardins floridos. Acomoda os 35 quilômetros da South Bay Bicycle Trail, ciclovia que liga Venice a Malibu. Abriga calçadão, aparelhos de musculação ao ar livre, parque infantil e os onipresentes píeres. Ah, os píeres. A preferência local pela vida ao ar livre ganha seu símbolo máximo nas plataformas com piso de madeira que avançam mar adentro e onde cabe de tudo. Seja o anzol dos pescadores ou um museu de criaturas marinhas, uma janelinha de cachorro quente ou um fast-food de rede, um cantor de rua de gosto mais que duvidoso ou o totem que indica o fim da Rota 66. A cobiçada placa, troféu para aventureiros do asfalto que percorrem o lendário caminho no território dos Estados Unidos, motiva disputas por espaço para fotos no píer de Santa Monica. Atrações que a topografia plana e as amplas redes de ciclovias e ciclofaixas convidam a descobrir de bicicleta. Caminhar é outra opção bacana: se as distâncias forem um pouco mais longas, os ônibus são limpos e pontuais e há até, no caso de Santa Barbara, carrinho elétrico, não poluente, para embarcar a troco de uma moedinha. Mas se decidir mesmo pelo carro alugado, vá em frente. Os famosos congestionamentos das freeways de Los Angeles não costumam avançar até o litoral. Estacionar também não chega a ser um tormento - nada que destoe do clima tranquilo e descomplicado do litoral da Califórnia.

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