Karlovy Vary poderia ter sido o cenário de um encontro entre Mozart e Scarlett Johansson ou entre Karl Marx e Roman Polanski se, assim como as construções, pessoas também pudessem atravessar séculos. A “praça da fama”, em frente ao histórico e luxuoso
, construído em 1701, conseguiu aproximar não só os quatro ilustres citados acima, como tantos outros que, por motivos diversos, estiveram na pequena cidade a 200 quilômetros de Praga, a segunda mais visitada da República Checa.
As águas termais renderam à cidade seu nome, que significa algo como “águas quentes de Carlos”. Por causa delas, que brotam de profundidades variadas, Karlovy Vary sempre recebeu elites aristocráticas e intelectuais, como Goethe, assíduo frequentador, e Mozart, cujo filho mais novo, para tentar curar-se de uma grave doença, morou e acabou sendo enterrado na cidade – é possível ver a casa dele numa visita pela Rua Stará Louka.
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Hoje, não é preciso ser ilustre para conhecer e experimentar o gosto salgado da água termal que sai de suas 12 fontes espalhadas. Símbolo da cidade, Vridlo é uma delas. Fica dentro de uma espécie de galeria, aberta das 6 às 19 horas, com três torneiras esguichando água continuamente a temperaturas de 30, 50 e 72 graus. Você até pode bebericar com as mãos, mas dizem por lá que bom mesmo é virar dois copos pequenos do líquido três vezes ao dia – os copinhos, claro, são vendidos ali mesmo como souvenir, ao custo de 130 coroas (R$ 17). Por causa de sua característica mineral, o sabor pode não agradar a todos os paladares.
Karlovy Vary vale tanto como bate-volta desde Praga quanto para ficar mais tempo e aproveitar seus balneários, spas e seus aproximadamente 200 hotéis. Muitos desses spas, que eram públicos durante o regime socialista, hoje ostentam marcas mundialmente conhecidas, com diárias reajustadas de acordo com o novo padrão, claro. No verão, há festivais ao ar livre.
Erva boa.
Sem deixar de dar sua colaboração à consolidação da fama cervejeira da República Checa, Karlovy Vary também se destaca pela produção de uma outra bebida. Fabricado pela
, um popular licor de ervas também tem seus fãs.
Criada por Jan Becker em 1807, a marca mantém em segredo a receita de seu licor que, na versão original, inclui cerca de 20 ervas, a maioria delas plantadas na região. A parte que não é nativa vinha da América do Sul, Indonésia, Austrália e África.
Como apenas duas pessoas no mundo conhecem a lista completa dos ingredientes, a cada semana uma delas é responsável por preparar a mistura mágica que inclui – isso eles revelam – açúcar, álcool e a água quente de Karlovy Vary. Segundo os fabricantes, é essa água que garante o sabor único e inimitável da bebida exportada ao resto do mundo.
Por 400 coroas (R$ 54) é possível comprar tamanhos variados de garrafas do licor e versões alternativas, como a Lemon e a Ice & Fire. Mas o mais interessante é fazer o tour pela fábrica antiga, onde a bebida foi produzida por 143 anos antes de migrar para uma nova sede. O passeio guiado mostra a produção e a história da marca, como a evolução das garrafas verdes que acondicionam o produto, e termina em uma mesa redonda de degustação.
Essa parte pode se revelar um desafio: o teor alcoólico dos licores é de 38%. Para amenizar, prefira o beton, coquetel inventado pelos checos que mistura licor e água tônica. O tour guiado custa 120 coroas checas (R$ 16). Agende: vstupenky@jan-becher.com.
RECEITAS TÍPICAS E ALGUMA OUSADIA
Ensopado de carne (bovina ou de porco) feito com farinha, cebola e pimenta, o goulash é receita tradicional na República Checa. Em Karlovy Vary, experimente o prato servido no restaurante
, por 65 coras (R$ 8,74). Em Cesky Krumlov, aventure-se por outros sabores no restaurante da cervejaria
: uma porção de joelho de porco assado e rabanete picante ou um queijinho temperado no azeite com pimenta sai a partir de 135 coroas (R$ 18).