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Atmosfera pacífica entre navios de guerra

Por MÔNICA NÓBREGA /NORFOLK
Atualização:

A sensação de estranhamento teria sido a mesma caso eu visse dois discos voadores diante da janela do meu quarto de hotel. Foi preciso a primeira caminhada pela linda orla do Rio Elizabeth para entender que os dois navios de guerra ancorados ali, debaixo do meu nariz, são, em Norfolk, parte da paisagem. E que, à parte abrigar um desconcertante arsenal bélico, concentrado principalmente na estação naval local, a maior do mundo, a cidade de 250 mil habitantes no Estado da Virgínia é de paz. Não apenas isso: é simpática, hospitaleira, tranquila e bem divertida. Norfolk fica na boca da Baía Chesapeake, na saída para o Atlântico, endereço que compartilha com as vizinhas Virginia Beach e Portsmouth. A região passa despercebida no mapa turístico dos brasileiros, mas tem um bom número de fãs entre os norte-americanos. É parada querida nas viagens de carro pela costa leste dos Estados Unidos, uma das possibilidades de road trips no país. Recebe 1,5 milhão de visitantes por ano. O estilo de vida ligado à água é o principal motivo que leva esse pessoal todo até lá. O ponto turístico mais emblemático da cidade é o calçadão ribeirinho, que enfileira alamedas, mercado, ancoradouros, parque e um museu, o Nauticus (nauticus.org; entrada a US$ 13,95), que conta um pouco da história da marinha por ali. Ao lado, com acesso por dentro do museu, está o navio Wisconsin, o de número 64 - as embarcações militares americanas, você aprende em Norfolk, são numeradas. Por mais pacifista que seja o espírito, o Wisconsin é o que mais interessa no Nauticus. Em atividade desde os anos de 1940, sua última performance foi durante a Operação Tempestade no Deserto, na Guerra do Golfo, na qual os Estados Unidos se envolveram quando o Iraque invadiu o Kuwait. Abertos ao público estão claustrofóbicos quartos onde dormiam oficiais, banheiros coletivos, salão de refeições, convés cheio de canhões. Em um cruzeiro pelo Rio Elizabeth e pela Baía Chesapeake, um dos passeios mais bacanas, você vê muito mais da frota naval. Passa ao largo da base e de algumas das 75 embarcações militares paradas ali. E desvia o olhar do cinzento armamento pesado para admirar longuíssimas pontes e viadutos, verdadeiros deslumbres da engenharia civil, que cruzam canais entre as cidades, além da beleza natural das áreas mais preservadas das margens. O tour pela estação naval em si deve ser agendado por telefone (1-757-444-7955). Melhor não alimentar muitas expectativas. Confinado em uma van, você verá o marinheiro-guia apontar porta-aviões, couraçados, destróieres. Passará por campos de pouso de aviões e casas históricas construídas para uma certa Exposição Jamestown, em 1907, nomeadas segundo os Estados que representam. E pela terceira loja mais movimentada do McDonald's no país, de acordo com o guia - a rede de restaurantes não confirma o dado. Entenderá que a base, com 17 quilômetros quadrados de área e 6,5 quilômetros de orla, é uma minicidade, com escola, universidade, centro de compras e 66 mil almas se movimentando por ali ao dia, somados os que moram e os que trabalham. Quarenta e cinco minutos depois, sem descer da van nem para uma foto, será conduzido para fora da base. E poderá, então, dar o assunto marinha por encerrado. Hora de se dedicar ao que mais Norfolk tem a oferecer: arte, comida, vinho... Com ou sem navios militares no horizonte.

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