Boa Vista: planejamento europeu, autenticidade tupiniquim

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Por Felipe Mortara e BOA VISTA
Atualização:
As fontes da praça José Renato Hadad são interativas Foto: Felipe Mortara/Estadão

O clima é de cidade de interior. O ritmo, também. Porém, os cerca de 300 mil moradores da única capital brasileira integralmente no Hemisfério Norte - Macapá repousa sobre a Linha do Equador - têm o privilégio de viver numa cidade planejada. Em 1944, com inspiração na forma radial de Paris, o engenheiro Darcy Aleixo Derenusson desenhou avenidas largas saindo de uma praça central que concentra os principais edifícios institucionais. Substituindo o glamour do Sena pela vividez e abundância do Rio Branco, a quatro quadras dali, de onde se tem a Boa Vista que batizou a cidade.

É claro que de lá pra cá muita coisa mudou, a cidade se expandiu, ultrapassou o perímetro previsto e, por concentrar mais de 60% da população de Roraima, tem os problemas de quem cresceu demais. Mas é sua história que vale a pena. Aos 124 anos, a capital é a síntese de um passado de garimpo, que atraiu milhares de nordestinos atrás de diamantes no início do século passado.

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Pode parecer só um restaurante, mas o insuspeito Meu Cantinho (95-3224-0667), na verdade, deveria ser o canto de todo boa-vistense. A simpática casa às margens do Rio Branco pertenceu à família de Inácio Lopes de Magalhães, fundador da Fazenda Boa Vista, em 1830, e que mais tarde deu origem à cidade. É parte da chamada Orla Tawmanan, que também reúne restaurantes e bares num píer de cerca de 10 metros de altura, por onde iguanas passeiam despreocupadas.

Bem pertinho dali, na Praça Barreto Leite, o Monumento aos Pioneiros Nordestinos, erguido pelo artista Luiz Canará, em 1995, homenageia não apenas os desbravadores, mas também resgata os mitos da região, como Makunáima - diabo ou malvado da montanha - que inspirou Mário de Andrade. Como se atestasse o poder da floresta, nesse exato instante um tucano passou voando desengonçado sobre nossas cabeças.

Caminhe até a igreja matriz de Nossa Senhora do Carmo, de 1919, inusitada não pelo nome nem pela padroeira, mas por suas cores amarela e vermelha - listradas e reluzentes. Do lado direito fica o Mercado de Artesanatos, onde é possível conhecer - e comprar, claro - cestaria e outros objetos de palha das etnias ianomâmi, way way e macuxi, além de curiosas miniaturas de animais feitas com látex da árvore balateira.

Vida ao ar livre.

Uma cidade com DNA amazônico deve ter muitas árvores e parques, como o Anauá, que guarda um viveiro com mudas de plantas típicas da floresta - qualquer morador pode retirar duas gratuitamente - e um lago onde se nada no verão. Além disso, é ponto de parada de mochileiros que cruzam as Américas, pois o camping é permitido. Já a Praça José Renato Hadad vale a visita, especialmente em noites quentes (ou seja, quase toda noite), por conta de suas fontes iluminadas abertas para banho. Uma síntese de Boa Vista? Ares de Europa com descontração tupiniquim, a porta de entrada para um norte inesperado.

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/ F.M.

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