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O homem mais viajado do mundo fala sobre sua experiência no país de Gabriela Mistral e Pablo Neruda

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Por Mr. Miles
Atualização:

Conforme anunciado nas últimas colunas, nosso irrequieto viajante esteve mesmo em São Paulo para o lançamento do livro A Noiva da Canoa e Outros Amores Embarcados, de seu velho amigo Ronny Hein. Para decepção dos demais convivas, entretanto, mr. Miles pediu ao autor que autografasse seu exemplar 2 horas antes do evento, diante de uma dose dupla de single malt em um pequeno bar da região do Largo da Batata, que o correspondente inglês chama de "Potato Square". E diz lembrar Londres durante o bombardeio alemão na Segunda Guerra.O motivo para a mudança de planos, que, diga-se, mais uma vez frustrou a redação deste caderno, foi dos mais elevados. Pouco antes de deixar a Grã-Bretanha, mr. Miles recebeu um e-mail proveniente do Chile, assinado pelo sempre leal companheiro Don Jaime Ibañez de J. Bean Bórquez, solicitando sua presença urgente naquele país, então recém-abalado pelo incomensurável terremoto de Concepción.Para os que não lembram, Don Jaime é um self-made man que, de pequeno cáften em Assunção, no Paraguai, nos anos 60, fez-se magnata no país de Gabriela Mistral e Pablo Neruda, criando o grupo Laguna Verde, que atua em campos tão distintos quanto a produção de vinhos, a mineração de cobre, a comunicação empresarial e outros. Daqui em diante, é o próprio mr. Miles quem conta:"Well, my friends: justificadamente preocupado com o destino de Jaimito (permitam-me usar o apelido pelo qual o trato), não hesitei em alterar minha programação. Como o Aeroporto de Santiago estivesse fechado, aceitei a cortesia de viajar no Gulfstream 450 que ele me pôs à disposição. Poucas horas depois, aterrissamos em seu campo de pouso particular e, thank God, encontrei my old fellow em perfeita saúde, degustando um carmenère entre os destroços de bibelôs e outros utensílios derrubados das prateleiras pelo incidente sísmico.Em poucos minutos, o magnata de origem aymara informou que havia me convocado para inspecionar, em seu jatinho, as regiões mais visitadas do país, visto que a repercussão internacional do cataclismo era potencialmente destrutiva para o importante mercado turístico local. "Si no hay daños, Miles, quiero que lo cuentes al mundo", pediu-me o empresário, com sua poderosa voz de tenor.Seguiram-se três dias de maratona aérea em que viajamos dos desertos do norte às geleiras patagônicas. Cabe-me, therefore, informar que, apesar da lamentável perda de vidas e dos estragos materiais em áreas próximas ao epicentro, o Chile segue tão atraente e equipado como antes. O norte do país, inclusive a festejada região do Atacama, não sofreu um dano sequer. Na Quinta Região, onde ficam Valparaíso e Viña del Mar, alguns imóveis antigos ruíram. Mas a estrutura hoteleira permanece inabalada, os congrios seguem saborosos e até ganhei alguns pesos no cassino. Há estragos periféricos em Santiago, mas nada que afete a beleza montanhosa da cidade, onde saboreamos um surtido de ceviches no restaurante Azul Profundo, em Bellavista. Na Rota do Vinho de Colchágua, onde, I must say, exageramos na dose, só o Hotel Casa Silva e uma vinícola pequena tiveram danos, que um mutirão de limpeza resolve. As estações de esqui sobreviveram intactas e esperam a neve e os esquiadores para a próxima temporada. Termas de Chillán, a mais próxima do epicentro, teve alguns vidros quebrados - apenas isso. Mais ao sul, nem sinal do tremor. A região dos lagos - Puerto Montt, Puerto Varas, Frutillar - segue em sua paz de embalagem de chocolate. Os cruzeiros que viajam rumo ao sul, passando pelas grandes geleiras, continuam funcionando. O mesmo ocorre com os navios que partem de Punta Arenas pelo Estreito de Magalhães. As formidáveis Torres del Paine sequer perderam um naco de neve em seu topo.In other words - e atendendo ao pedido de um velho amigo -, conclamo-os a não excluir o Chile dos planos de férias. Estará, of course, mais barato do que nunca, less crowded e igualmente interessante. Besides, as estatísticas comprovam: tremores desta grandeza levam décadas para se repetir. Don"t you agree?" * Mr. Miles é o homem mais viajado do mundo. Esteve em 132 países e 7 territórios ultramarinos

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