Bolonha, destino da Itália de comer com os olhos

Esqueça a balança, advertem os moradores de ‘a gorda’, apelido que a cidade ostenta com prazer e muito mérito

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Por Vitor Marques
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Uma das lojas do Quadrilátero, bairro de Bolonha Foto: Vítor Marques/Estadão

BOLONHA - As ruas estreitas do centro histórico e as paredes de tons alaranjados e avermelhados promovem uma sensação de acolhimento em meio ao frio de 7 graus e a chuva fina que já anunciavam a chegada do inverno. Este traço arquitetônico singular permite caminhar sem pressa e descobrir os segredos, os significados e os bons pratos do Quadrilátero, o microbairro de Bolonha, uma cidade que mantém, desde a Idade Média, a vocação gastronômica do coração da Emília Romana, no norte da Itália. O antigo mercado da cidade de quase 400 mil habitantes representa um quadrante, daí o nome, delimitado por quatro ruas: Via Rizzoli, Via Castiglione, Via Farini, Piazza Galvani and Via dell’Archiginnasio. Está às costas da Piazza Maggiore – apenas “la piazza”, para os bolonheses. Aqui se tem a noção de como a gastronomia define essa região. Até quem nunca viajou à Itália conhece a fama da culinária, das pizzas e principalmente das massas. Imagine o que isso significa para uma cidade e uma região que se vangloriam de ter a melhor gastronomia do país. O molho à bolonhesa que ganhou variações pelo mundo nasceu aqui. A rica salumeria (frios e embutidos) é outro traço local.Leia mais  sobre destinos da Itália “Esqueça a balança durante a viagem”, disse-me a primeira italiana de Bolonha que conheci tão logo desembarquei, vindo de Roma, no aeroporto Guglielmo Marconi, a 7 quilômetros do centro de Bolonha. Ouvi de diversas pessoas ao longo da viagem explicações sobre a singularidade dos produtos locais, o modo de preparo peculiar e a origem dos pratos.  

Fico Eataly World: 100 mil metros quadrados dedicados à comida italiana Foto: Vítor Marques/Estadão

Mas se estamos falando de comida, cabe uma explicação rápida: por aqui, não existe nos menus o tal espaguete à bolonhesa como o conhecemos (ou imaginamos). O famoso prato chama-se tagliatelle al ragù: uma massa cortada em tiras com molho à base de carne moída. Outros clássicos da cidade são o tortellini e o tortellacci – massas recheadas, outra marca da Emília Romana. Esses pratos custam entre 7 euros, nos restaurantes mais simples, e 12 euros, nos lugares mais sofisticados. Sem dúvida, come-se bem por aqui. E, ao se aventurar pelos menus completos – antipasti, primo piatto, secondo piatto e dolci (antepasto, entrada, prato principal e sobremesa) –, rapidamente compreende-se o porquê de a cidade ser carinhosamente chamada de “la grassa” ou “a gorda”. Em cinco dias pela região, tive de dosar a refeição: às vezes pulava um prato, geralmente o segundo, ou a sobremesa. Foi a maneira que encontrei para caminhar depois do almoço ou do jantar e conhecer a cidade, em especial o centro, a pé.  

Piazza Maggiore é como um marco zero em Bolonha Foto: Agência Nacional Italiana de Turismo

Sob proteção. Bolonha, aliás, é um convite às caminhadas. Saindo do Quadrilátero, ande pela Via dell’Indipendenza, a principal avenida, que liga as estações de trem e de ônibus ao centro. O pequeno comércio domina o pedaço. Ali está outra marca da cidade: os pórticos, estruturas cobertas que transformam as ruas em galerias a céu aberto e que, somada toda a sua extensão, chegam a 45 quilômetros. Faça chuva ou sol, você e suas compras estarão protegidos.  Não vá embora sem passar por aquela que é considerada a mais antiga da Europa, cuja data de fundação é de 1088: a Universidade de Bolonha, aberta a visitação. Daqui vem um outro apelido da cidade: “a sábia”.   

Pórticos de Bolonha driblam a chuva Foto: Agência Nacional Italiana de Turismo

Há ainda ótimos museus como o Museu Cívico Arqueológico, o Mambo (Museu de Arte Moderna) e galerias que valem uma parada com mais tempo. Para uma vista panorâmica, vá até a Le Due Torri, as torres mais altas que restaram na cidade. Pode-se subir a torre Asinelli. Bolonha presta-se bem a um bate-volta desde Milão (1h15 de trem) ou Florença (40 minutos) – cada trecho custa de 10 euros a 20 euros. Mas, se quiser ficar mais tempo pela Emília Romana, a cidade é a base ideal para visitar outros pontos: Parma, Ferrara, Modena e Maranello – estas duas últimas são cidades que certamente estão no mapa dos apaixonados por automobilismo. As sugestões para este roteiro você encontra a seguir. Leia mais - Calmaria em 5 praias do Espírito SantoSAIBA MAISAéreo: São Paulo-Bolonha-São Paulo, com conexão, desde 908 euros (R$ 3.650) na Alitalia; e R$ 3.393 na Latam. Trem: para compra antecipada das passagens de trem indicadas nesta reportagem: tremitalia.com.br.  Onde se hospedar: Em Bolonha: o Grand Hotel Majestic già Baglioni é um palácio, construído no século 18 a pedido de um cardeal, que foi transformado em hotel cinco-estrelas no centro da cidade. Os quartos, com decoração de época, são espaçosos, e o café da manhã, excelente. A partir do hotel, é possível conhecer os principais pontos turísticos a pé – está a poucos metros da Piazza Maggiore. Para quem busca luxo e comodidade. Diárias começam em 315 euros: grandhotelmajestic.duetorrihotels.com.Em Parma: simpático, confortável e com quartos espaçosos, o Grand Hotel De La Ville não apresenta, no entanto, o luxo que a classificação cinco-estrelas sugere; está mais para funcional. Está a 10 minutos a pé do centro histórico e da catedral. Desde 160 euros a diária: grandhoteldelaville.com. Em Modena: o Hotel Milano Palace pertence à rede econômica Best Western. O quarto é pequeno, mas não exageradamente apertado, e o café da manhã, simples. A vantagem é estar perto da estação de trem e do centro da cidade. Diária desde 140 euros: milanopalacehotel.it.*O repórter viajou a convite da Enit e Alitalia. 

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