Buenos Aires: a primeira vez no exterior

Capital argentina é um clássico destino de brasileiros que viajam pela primeira vez para fora do País. Repórter conta como foi sua estreia

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Por Ludimila Honorato/Buenos Aires
Atualização:
A Casa Rosada,sede da presidência da republica argentina, foi um dos pontos turísticos visitados Foto: Ludimila Honorato/Estadão

Buenos Aires é um destino clássico para brasileiros que viajam pela primeira vez ao exterior e comigo não foi diferente. A minha viagem, em outubro, foi a trabalho: do alto dos meus 24 anos, eu estava em um misto de empolgação e apreensão, ansiedade e nervosismo.

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Tomei o cuidado de montar um roteiro de visitação antes do embarque. Ele serviu para quase nada. Fui encaixando entre os compromissos do congresso que iria "cobrir" (ou seja, acompanhar para fazer reportagens) os pontos turísticos que queria visitar. Obviamente, não deu certo - ainda assim, recomendo esse planejamento, até para ter consciência do que é possível ou necessário abrir mão, se for o caso. Algumas das visitas programadas foram feitas em dias diferentes da minha previsão e alguns pontos não foi possível conhecer. Mas os imprevistos também me trouxeram surpresas e aprendizados.

Já na chegada, no caminho entre o aeroporto e o centro da cidade, casas de tijolos aparentes, empilhadas ou construídas bem junto umas das outras, e roupas em varais expostos ao ar livre chamaram a minha atenção. Não foi a visão da periferia que causou estranhamento - eu mesma moro em uma das muitas regiões periféricas da cidade de São Paulo - mas a sensação de que ela não fazia parte da cidade.

Nos dias seguintes, vi algumas cenas de vulnerabilidade social. Um homem cego cantando em frente a um estabelecimento em troca de moedas. Uma mulher com duas crianças pedia dinheiro sentada na calçada. Cobertores e papelão num canto da rua. Todas me surpreenderam por ver em outro país problemas similares ao meu. É o tipo de coisa que nos torna, a todos, iguais no mundo.

No Obelisco, percebi que é preciso se afastar para tirar uma boa foto de seus 68 metros de altura Foto: Ludimila Honorato/Estadão

Essa primeira reflexão fez com que todo o restante do que vi em Buenos Aires me lembrasse um pouco o centro velho de São Paulo. Os prédios de uma arquitetura antiga, as ruas estreitas, algumas de comércio bem movimentado, fizeram-me sentir em casa. Na porta de uma loja, um homem fazia propaganda dizendo que "os preços são de 25 de Março". É bom prestar atenção: em algumas ruas estreitas, bicicletas, pedestres e carros dividem o espaço.

Andando pelo centro, é fácil encontrar cafés em cada esquina e bancas de flores espalhadas. Há também uma loja Open 25 Hs em cada quarteirão, praticamente. Vendem doces, salgadinhos e bebidas, e foi numa delas que comprei pequenos alfajores por 24 pesos cada (menos de R$ 4).

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Por falar em dinheiro, habituar-se à moeda de outro país é algo que exige algum esforço na primeira vez no exterior. Sem pesquisa prévia e sem tempo, na chegada, para ir a uma casa de câmbio no centro (elas fecham às 16h ou 17h), troquei metade dos meus reais em pesos na agência do Banco de la Nación do aeroporto, por 4,45 pesos por real. Mandei mensagem a um amigo em seguida e descobri: tinha feito um mau negócio. Isso e mais as taxas de desconversão que paguei ao voltar ao Brasil, fora o IOF, resultaram em perda de mais de R$ 100. Ficou o aprendizado: pesquisar câmbio antes e pedir ajuda.

Como souvenir, restaram-me três pesos em moeda.

Galerías Pacífico, famososhopping center em Buenos Aires, Argentina, localizado no cruzamento da Rua Florida e da Avenida Córdoba Foto: Ludimila Honorato/Estadão

Turistando. Use o Wi-Fi do hotel, antes de sair, para abrir mapas no celular e se localizar - na rua, é bem raro encontrar redes abertas. O trânsito de Buenos Aires me pareceu maluco. Motoristas param sobre a faixa de pedestre, não dão seta e usam a buzina sem dó. Os três taxistas cujos serviços usei na cidade tinham um estilo, digamos, agressivo de dirigir, em alta velocidade e com freadas bruscas. Corridas de 15 a 20 minutos custaram entre 100 e 150 pesos (R$ 15 a R$ 25). 

Lambe-lambes e expressões políticas reforçavam a sensação de estar em casa. Em uma parede ou outra, o contorno do rosto do ativista desaparecido Santiago Maldonado aparecia com tinta vermelha ou preta seguida da frase "Dónde está Santiago?". Em espanhol, uma pichação dizia que "todos temos sangue mapuche / os pobres, nas veias / os rico$ em suas mãos".

Plaza San Martín, perto da Rua Florida, no bairro de Retiro, e a bandeira da Argentina em haste Foto: Ludimila Honorato/Estadão

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No Obelisco (Corrientes com 9 de Julho), percebi que é preciso se afastar para tirar uma boa foto de seus 68 metros de altura. Dali, fui de táxi ao Caminito; além das casinhas coloridas, homens e mulheres tipicamente trajados como dançarinos de tango cobram 120 pesos (R$ 20) para posar para fotos. Caminhei por La Boca, bairro todo azul e amarelo em homenagem ao time de futebol Boca Juniors, onde se vê um grafite do Maradona aqui, uma estátua do Messi ali e, de repente, La Bombonera. O estádio surge gigantesco em meio a pequenos comércios, um contraste e tanto.

No bairro de San Telmo, a Mafalda está sentada em um banco na esquina das ruas Chile e Defensa. No mesmo cruzamento, no ambiente rústico com móveis antigos do Bar Seddon, almocei uma milanesa bovina fininha com batatas fritas, bem servida, mas oleosa demais. 

No outro dia, fui à Plaza de Mayo, onde logo se vê a Casa Rosada. Em todo o perímetro da sede da presidência, policiais faziam guarda e notei um número considerável de mulheres nesse posto. Contornei o edifício até a Puente de La Mujer, que à noite fica iluminada em tom roxo. Voltei às proximidades da Casa Rosada para uma visita ao Café Tortoni, fundado em 1858, e lá descobri que não é preciso consumir nada para visitar o lugar. Em algumas mesas, turistas consumiam café e medialunas, que são como croissants doces.

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Bife de chorizo no restaurante El Chiquin: 400 gramas de carne ao ponto com batatas fritas Foto: Ludimila Honorato/Estadão

Em todos esses passeios privilegiei as caminhadas. Em dois dias, foram 21,3 quilômetros e 30.317 passos. Com certeza não compensaram todas as calorias ingeridas. Comi muita carne, muita mesmo, durante toda minha estada. O bife de chorizo provei no restaurante El Chiquin por indicação de colegas: 400 gramas de carne ao ponto com batatas fritas - me recusei a sair do restaurante sem terminá-lo e, ainda assim, sobraram batatas.

Em outro dia fui de filé mignon com purê de batata no restaurante Puerto Cristal, em Puerto Madero, bem perto da Puente de la Mujer  - um lugar mais chique, com vista para o Rio da Prata e um pouco mais caro. O ojo de bife (contrafilé) comi no restaurante Sans Serrano Deli & Drinks (Serrano, 1.595, Palermo); a gordura mal passada incrustada na carne incomodou a minha inexperiência e desinformação.

No Caminito,além das casinhas coloridas, homens e mulheres tipicamente trajados como dançarinos de tango cobram por fotos Foto: Ludimila Honorato/Estadão

Por fim, como promessa é dívida e eu havia prometido alfajores de lembrança para amigos, comprei alguns avulsos e uma caixa de 12 unidades da marca La Recoleta - Havanna, além de mais cara, tem no Brasil. Trouxe também um pote de doce de leite comprado na loja do aeroporto, pois tive medo de que não passasse pelo raio X. Depois soube que os potes de doces industrializados podem tranquilamente ser trazidos ao Brasil na bagagem embarcada - e este foi um problema. Levei roupa para três dias em uma mala de mão apenas. Quando cheguei ao Brasil, bateu o arrependimento: eu devia ter levado mala para despachar só para trazer mais doces

O de leite já acabou. Os alfajores, racionei por um bom tempo.

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