Erguer a taça com delicadeza. Depois, observar a cor do líquido, voltear o copo sete vezes, sentir o aroma e, enfim, degustar o vinho. Pierre Naigeon anda por entre os barris de carvalho, fala sobre a produção da vinícola - brancos, tintos e rosés classificados como villages, premier crus e grands crus -, abre outro tonel. E começa mais uma lição para os sentidos.
Sobre a mesa, a mulher dele, Françoise Vannier-Petit, coloca pratos com pães tipo gougère, presunto cru, queijos e foie gras caseiro, como faz questão de ressaltar. Neste momento, a certeza de que estamos no trecho mais saboroso da França, talvez do mundo.
O passeio pela Borgonha deve começar assim, numa cave úmida e escura, bem instalada embaixo da terra. Mesmo que, lá fora, o sol brilhe forte, colorindo os vinhedos com mil gamas de vermelho e dourado.
A vinícola de Naigeon está na lendária rota dos grands crus, estrada de 60 quilômetros que acompanha as colinas da Côte d’Or, ou Encosta de Ouro, entre Dijon e Santenay. Gevray-Chambertin, Vougeot, Vosne-Romanée, Nuits-St-Georges e Chambolle-Musigny são alguns nomes que vemos no percurso.
Estamos na região produtora mais rica da Borgonha, lar ancestral das uvas chardonnay e pinot noir. Terras valiosas, graças à irretocável combinação natural entre solo (argiloso e calcário), microclima e altura das montanhas (entre 200 e 300 metros, o que garante a exposição dos vinhedos ao sol).
Outra característica marcante é a divisão do solo em pequenas propriedades, que produzem pouca quantidade de tintos e brancos, muitas vezes sublimes e extraordinários. O Domaine Pierre Naigeon tem 11 hectares e fabrica 70 mil garrafas por ano. Parece pouco, mas é muito para padrões locais. O que dizer então do 1,8 hectare exclusivo da Romanée Conti? A melhor terra para o melhor vinho. São apenas 5 mil garrafas anuais - um rótulo de 2007 não sai por menos de 6 mil.
Alugar um carro é a dica para se perder entre os renomados vinhedos e descobrir outras surpresas, como casinhas com flores na janela e châteaux de pedra. Pare onde quiser, quando quiser. A maioria das vinícolas oferece degustação, motivo mais que justo para se esconder embaixo da terra.
BON APÉTIT
Os bon vivants sabem que percorrer a rota dos grand crus é só o começo da viagem por essa terra de inenarráveis prazeres. Muito antes da França se tornar um país cristão, a Borgonha, um de seus ducados mais poderosos, já havia criado uma identidade regional. Já era conhecida pela gastronomia e, sobretudo, pelos vinhos.
Entre um longo almoço e um jantar em restaurantes Michelin - como o de Bernard Loiseau, em Saulieu -, o turista conhece o esplendor da capital Dijon, explora o charme de Beaune, visita abadias e topa com cidadezinhas medievais. Deguste sem pressa. Como dizem por aqui, "bon apétit et large soif".
Confira pacotes para a região da Borgonha. Os preços valem por pessoa em quarto duplo e incluem passagem aérea.
*Viagem feita a convite da Maison de la France