Colômbia celebra 50 anos do livro 'Cem Anos de Solidão'

Fundação que cuida do legado de Gabo sinalizou mais eventos para este ano. Confira um roteiro em Cartagena, cidade onde o escritor e jornalista viveu e trabalho

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Por Redação
Atualização:
Rapaz lê na Muralha de Cartagena, um dos pontos mais icônicos da cidade Foto: Felipe Mortara/Estadão

Uma leitura pública e coletiva de trechos do livro deu início na quinta-feira (dia 26), em Cartagena, às comemorações pelos 50 anos do lançamento de Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Marques. A Fundación Gabriel García Márquez para el Nuevo Periodismo Iberoamericano (FNPI) sinalizou que organizará durante o ano atividades para celebrar a data. As próximas atividades comemorativas ainda não foram divulgadas pela FNPI;  fique atento ao site da fundação

Cem Anos de Solidão foi publicado pela primeira vez em 1967. Desde então, foi lido por 30 milhões de pessoas em 35 idiomas. A leitura coletiva ocorreu na Casa do Marquês de Valdehoyos como parte das atividades do Hay Festival, que debate e celebra a arte e a cultura em suas várias manifestações. O festival vai até domingo (19) em Cartagena, a cidade onde o escritor morou e trabalhou como jornalista durante anos.

Edição deCem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, que acaba de comemorar 50 anos Foto: RICARDO MALDONADO ROZO/EFE

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García Marques morreu em abril de 2014, na Cidade do México. Três meses antes, o Viagem fez um roteiro pelos pontos marcantes da vida do escritor em Cartagena (leia abaixo). A Colômbia também foi escolhida por unanimidade por especialistas ouvidos pelo Viagem como o destino mais interessante para se visitar em 2017.

Leia mais: Conheça os melhores destinos para visitar em 2017. 

Nos passos de Gabo. Em 2014, o repórter Felipe Mortara percorreu para a Cartagena de Gabo com a ajuda do tour eletrônico da Tierra Magna,  produzido em parceria com a FNPI, que percorre pontos importantes da vida e obra do autor. É possível comprar o roteiro por 65 mil pesos (R$ 70) na loja online, ou baixar o aplicativo para Android ou iOS.

É possível que o roteiro tenha sofrido alguma alteração depois da reportagem. Porém, os pontos que percorremos são atemporais. Ler ou reler algumas das obras do escritor vai ajudar – assim como um mapa da cidade. A seguir,  alguns pontos-chave:

Praça contígua à Porta do Relógio, principal entrada para a Cidade Velha de Cartagena Foto: Felipe Mortara/Estadão

Porta do Relógio

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Foi neste lugar que García Márquez ouviu falar de um certo coronel José Manuel Buendía, que vivia na região de Turbaco e que, em 1947, destoou na multidão. Durante discurso do candidato à presidência Jorge Eliécer Gaitán, teria surgido um homem de bigodes com uma bandeira vermelha no lombo de um burro contando causos da Guerra dos Mil Dias (1899-1902). Dizia ele que, após ser ferido a bala, havia se curado nas águas do Rio Madalena (o maior do país) e que, desde então, se tornara imortal. Assim nasceu a história do clã Buendía, protagonista de Cem Anos de Solidão, de 1967, a mais célebre obra do autor. Um pouco mais adiante, ao lado da Estátua Noli Me Tangere, ou “não me toque”, Gabo viveu um momento decisivo em sua vida. Seu pai, que queria o filho advogado, e não jornalista, disse, furioso: “Comerás papel!”. Assim, García Márquez se decidiu definitivamente pelo jornalismo.

Calle San Juan de Dios

Foi no número 3-81 que o jovem repórter García Márquez arrumou seu primeiro trabalho, em 1948: ali funcionava o jornal El Universal. Apesar de não receber salário, teve a oportunidade de aprender muito com o editor Clemente Saballa, que o deixava dormir sobre as bobinas de papel na gráfica. Na frente do diário está até hoje o Convento de San Pedro Claver, de onde partiram as mais rudes tentativas de censura. Bem mais tarde e já laureado com o Nobel, Gabo comprou dois andares de um prédio na mesma rua, e ali funciona até hoje a Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano, gerenciada por seu irmão Jaime.

Catedral de Cartagena

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A mais importante entre as 44 igrejas de Cartagena atua quase como protagonista em O Amor nos Tempos do Cólera. Ali, o personagem Florentino Ariza vê pela primeira vez sua musa, Fermina Daza, grávida de 6 meses, e decide fazer nome e fortuna para estar à altura de conquistá-la. Até que lhe entrega furtivamente a primeira carta de amor durante a missa de Natal. É ainda onde Fermina se casa com Juvenal Urbino, cujo funeral também ocorre ali. Na lateral, na Plaza de la Proclamación, Fermina foi coroada deusa na ficção. Na vida real, um inglês foi queimado vivo ali durante a Inquisição. Gabo retrata uma Cartagena que nunca foi feliz ou alegre, mas escravista e cruel.

Portal de los Mercadores

Aqui tem início a novela Do Amor e Outros Demônios, quando a protagonista Sierva María de Todos los Ángeles é mordida por um cão raivoso e passa a ser possuída pelo diabo. Na época em que a história se passa, há mais de 200 anos, funcionava neste ponto um mercado de escravos, com pretendentes dando lances por lotes de negros vindos da África. Hoje, docerias e lojas de souvenir dividem as arcadas em tons laranjas e amarelados.

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Vendedora de frutas pelas ruas de Cartagena, na Colômbia Foto: David GANNON/AFP

Convento de Santa Clara

Num dos mais suntuosos edifícios de Cartagena hoje funciona o Hotel Sofitel Santa Clara (sofitel.com). Ao cobrir para o jornal a retirada de uma das criptas funerárias dali, em 1949, Gabo se inspirou para escrever Do Amor e Outros Demônios. Entre o pátio interno e os imensos corredores, o padre Cayetano Delaura se apaixona pela jovem Sierva María de Todos los Ángeles, a quem deveria exorcizar. O hotel fica bem ao lado da casa onde o escritor passa alguns meses todos os anos.

Castelo de San Felipe de Barajas, em Cartagena Foto: Felipe Mortara/Estadão
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