Cidade Velha, o perímetro mais sagrado de Jerusalém

Ponto de peregrinação para muçulmanos, judeus e cristãos, a capital de Israel tem monumentos e história para qualquer fé

PUBLICIDADE

Por Felipe Mortara
4 min de leitura
Vista da Cidade Velha de Jerusalém a partir do Monte das Oliveiras Foto: Felipe Mortara/Estadão

Há uma certa surpresa ao primeiro olhar sobre Jerusalém. Placas em três idiomas – hebraico, árabe, inglês. Soldados e policiais fortemente armados. Crianças e mulheres judias e muçulmanas garimpando os melhores preços. Comerciantes barganhando o preço de seus souvenirs com turistas. Estabelecido por resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948, Israel é um país jovem, com múltiplas identidades. E Jerusalém, a capital formal, sintetiza essa vibrante mistura que é nada e tudo ao mesmo tempo.

Me explico: Jerusalém abriga uma série de edifícios e de histórias que a tornam sagrada para as três principais religiões monoteístas do Ocidente. Ao mesmo tempo em que é capital do Estado de Israel, se divide como lar do terceiro ponto mais importante para os muçulmanos no planeta e epicentro da fé cristã. A ideia de Terra Santa permeia cada milímetro de todo o território. 

Existe nitidamente uma cisão entre as fés. Por outro lado, a Cidade Velha de Jerusalém é o resumo da pluralidade de crenças que coabitam um mesmo lugar em razoável harmonia. Com menos de 1 quilômetro quadrado de área, é nesse espaço cercado por muralhas, erguidas no início do século 16, que se concentram alguns dos mais emblemáticos patrimônios da humanidade da Unesco. Ao todo, oito portões ligam a parte mais nova da cidade à área histórica.

Muçulmanos oram em frente à Cúpula (ou Domo) da Rocha, em Jerusalém Foto: Ammar Awad/Reuters

Violência é artigo raro, mas a tensão está no ar. Infelizmente, por conta de inúmeros conflitos e atentados ao longo dos séculos, alguns sítios religiosos têm entrada vetada a praticantes de outras religiões. Porém, um único felizardo pode, com sabedoria e respeito, admirar praticamente todos os cantos singulares para judeus, muçulmanos e católicos: o turista. Com uma espécie de passe vip intrínseco à sua condição de visitante, respeitando dias e horários adequados, o viajante pode desfrutar de (quase) cada canto repleto de história e sentido religioso. É praticamente um privilégio não ser nativo.

Grupos de turistas religiosos, principalmente católicos e judeus, exercem em massa sua convicção de peregrinar aos cantos narrados em seus livros de fé. Muitos dos episódios descritos pela Torá e pela Bíblia supostamente ocorreram sobre este chão, nestas esquinas, entre estes muros. Assim, cada passo torna-se uma imersão em fatos e versões e transforma os detalhes em protagonistas. Leia mais: Em Minas, Capitólio tem passeios para imergir na natureza

Continua após a publicidade

Expertise

Contar com o repertório e a didática de um bom guia faz toda a diferença para explorar e aprender em Jerusalém. Inúmeros profissionais brasileiros residentes há anos oferecem um serviço de excelente qualidade e entendem bem nossos anseios e curiosidades. Claro, há também um exército de guias estrangeiros muito competentes, afinal há um curso oficial bastante seletivo para a formação destes profissionais. Na página de informações turísticas de Israel há uma relação de guias credenciados que falam diversos idiomas – inclusive o português. 

Um dia inteiro não é o suficiente para passar correndo por todas as principais atrações do centro antigo de Jerusalém – você merece mais do que isso. Separe ao menos um dia da sua programação para ficar livre, leve e curioso pelo centro antigo e permitir-se descobrir uma Jerusalém do seu jeito. 

Muito embora a cidade guarde uma infinidade de atrativos históricos e modernos, este é um roteiro dedicado a explorar pontos emblemáticos para cada religião dentro das muralhas. Traçamos um percurso compacto pelas principais atrações histórico-religiosas, circulando pelos três principais redutos da Jerusalém antiga – os bairros judeu, árabe e cristão-armênio. Mesmo assim, uma ressalva: a melhor vista de Jerusalém continua sendo do alto do Monte das Oliveiras, fora da Cidade Velha. 

Entenda a muralha

Ao todo, são oito portões que levam a áreas distintas da Cidade Velha

Portão de Damasco tem forma de coroa e é um dos mais movimentados da muralha que cerca a Cidade Velha Foto: Felipe Mortara

Continua após a publicidade

Zion Sião, na tradução em português, era o nome da região onde está Jerusalém. Ao sul da cidade, o portão fica em frente ao Monte Sião, e leva aos bairros Armênio e Judeu.

Dung  O nome (estrume) se refere à antiga área de descarte de lixo, que se localizava depois do portão. Por ele chega-se ao Muro das Lamentações e à Cidade de Davi. 

Golden (ou Mercy)  Está de frente para o Monte das Oliveiras, mas foi bloqueado há anos. Segundo uma tradição judaica, por ele entrará o Messias.

Lion Com quatro figuras felinas na decoração, ele leva ao início da Via Dolorosa e ao Bairro Muçulmano. No Domingo de Ramos, a procissão para o Monte das Oliveiras passa por ali.

Herodes  Já do lado norte, o portão também é conhecido como Flower’s Gate (Portão das Flores), por causa de um desenho na entrada. Leva ao Bairro Muçulmano.

Damasco  Preste atenção no formato do portão, similar a uma coroa (ou um castelo). Desde o século 1 a.C. esta foi uma das principais entradas da cidade. É o mais movimentado dos portões. 

New  Este portão foi construído bem depois dos demais, em 1889. O objetivo era facilitar o acesso ao Bairro Cristão. 

Continua após a publicidade

Jaffa Ao entrar, você logo vai ver a Torre de Davi. Leva para os bairros Cristão, Judeu e Armênio. Foi batizado dessa forma porque dali saía o antigo caminho para a cidade de Jaffa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.