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Cuidados para viajar em tempos de zika

Surtos como o do vírus zika levam muita gente a pensar em desistir de viajar. Mas com informação e medidas de precaução corretas, dá para reduzir o risco de contrair doenças sérias longe de casa

Por Felipe Mortara
Atualização:
Vacina contra febre amarela é a mais comum para viajantes que partem do Brasil Foto: Dida Sampaio/Estadão

Em um começo de tarde de 2009, pouco depois de usar o metrô de Londres no mesmo vagão em que dois outros passageiros espirravam muito, o profissional de marketing brasileiro Bruno Borelli Bernardo, de 34 anos, começou a sentir um mal estar. À noite, já tinha febre. “Foi muito rápido”, disse ele sobre o avanço dos sintomas – mesmo sem ser possível ter certeza de que o contágio havia ocorrido no metrô. Naquele ano, a gripe H1N1 se espalhava pelo Reino Unido, e Bernardo acabava se tornar mais um entre os infectados. 

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Quem esquece o álcool gel como item obrigatório na mala dos viajantes naquela época? Hoje, o mesmo papel é desempenhado pelo repelente, a prevenção mais eficaz contra os surtos desse verão de 2016 na América do Sul: zika, dengue e chikungunya, todos transmitidos pelo mesmo mosquito Aedes aegypti. 

O mundo passa por surtos de doenças infectocontagiosas periodicamente, o que sempre motiva dúvidas dos turistas – a mais frequente é se seria melhor cancelar a viagem. No caso específico do vírus zika, se você estiver grávida e a área para onde vai tem alto índice de contaminação, a resposta é sim. Outro caso grave recente, em que a melhor escolha era não viajar, foi a epidemia de ebola no oeste do continente africano que começou em 2014 – atualmente sem registro de novos casos. 

Para os outros perfis de viajantes, doenças e destinos turísticos, informação e prevenção são as senhas para férias felizes, com o mínimo de risco à saúde. 

Alimentação. Ainda que o mosquito Aedes aegypti seja o grande vilão atual, são os alimentos os principais causadores de doenças nos viajantes. “Por todo o mundo, as doenças são mais ou menos as mesmas, e a diarreia do viajante é a mais recorrente, com bactérias muito comuns”, afirma o infectologista Ralcyon Teixeira, supervisor do pronto-socorro do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo. 

Países mais pobres, com marcantes desigualdades socioeconômicas e problemas como rede de abastecimento de água potável pouco abrangente e coleta de esgoto insatisfatória, costumam ser também os de maior risco de se contrair bactérias que causam a diarreia na água e nos alimentos, e também hepatite A. Nesses lugares, vale descascar as frutas antes de consumi-las e evitar pedras de gelo no copo, segundo Teixeira. Em muitos destinos da Ásia e da África são comuns as falsificações de água mineral, com lacre e rótulo, o que leva os médicos a recomendarem dar preferência à água com gás e até ao refrigerante, mais difíceis de estarem contaminados. 

A jornalista Maria Bitarello, de 33 anos, teve febre tifoide, provocada pela ingestão da bactéria Salmonella typhi, durante uma viagem de trabalho à Índia em 2012. “Tive de passar uma semana extra por lá tomando remédio contra os sintomas”, lembra ela, que acha que contraiu a bactéria na água. De volta ao Brasil, descobriu que existia vacina contra a doença. 

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Antes de embarcar. Informar sobre vacinas, potenciais riscos à saúde no destino de viagem e medidas de precaução que devem ser tomadas para evitar esses riscos é papel do Núcleo de Saúde do Viajante do Hospital das Clínicas de São Paulo. O atendimento é gratuito e várias vacinas, como as contra febre amarela e sarampo, são fornecidas sem custo. Nos casos em que a vacina não está disponível na rede pública do Sistema Único de Saúde (SUS), o núcleo indica clínicas de vacinação particulares. O atendimento é feito com agendamento prévio: bit.ly/medviajante.

Outras boas fontes de informação atualizada são os sites de alerta de viagem dos governos do Reino Unido (oesta.do/ukviaja) e dos Estados Unidos (oesta.do/usaviajante). 

Confira abaixo as doenças mais comuns por região do planeta, precauções e vacinas, quando existem – os preços são da clínica Cedipi, em São Paulo (11-3887-7611). No site casadevacinasgsk.com.br há uma lista detalhada do calendário de vacinação, postos de saúde e clínicas particulares por todo o Brasil que oferecem as vacinas. 

Dengue, zika e chikungunya. As regiões Norte e Nordeste do Brasil, o norte da América do Sul, o Caribe e o México são as zonas do planeta mais afetadas pelas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. A dengue é velha conhecida dos verões brasileiros; já a zika vem assustando mulheres grávidas graças ao aparente aumento no registro de nascimentos de bebês com microcefalia em áreas com grande circulação do vírus (mas atenção: a relação de causa e consequência entre contaminação da mulher grávida por zika e bebê com microcefalia ainda não foi comprovada). A recomendação é evitar picadas do mosquito vetor: aplicar repelente com grande frequência durante todo o dia, usar calças e blusas de manga comprida e dormir sob mosquiteiros ou em quartos com ar condicionado são medidas de precaução apontadas pelos especialistas. 

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Malária. Extremamente comum em grande parte da África e na região Amazônica, é causada por protozoários do gênero Plasmodium, transmitidos por meio da picada do mosquito Anopheles. Foram registrados 500 milhões de casos, com 428 mil mortes no ano passado, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Para permanência prolongada em área de risco, é possível tomar medicação preventiva antes da viagem, sob orientação médica. Roupas compridas, repelente e inseticida são recomendados. 

AMÉRICA DO SUL. Além das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, o continente ainda tem quantidade significativa de registros de febre amarela, causada por vírus e com sintomas como dores de cabeça, nas costas e musculares. Em vários aeroportos pelo mundo, a vacina contra febre amarela é exigida dos viajantes de países tropicais como o Brasil (veja postos em oesta.do/febrea). Norte e Nordeste do País também têm incidência de febre tifoide – há vacina na rede privada, desde R$ 138. 

HEMISFÉRIO NORTE. Em 2014, os Estados Unidos registraram aumento recorde no número de casos de sarampo – 667 em 27 Estados. No ano passado foram 189 casos em 24 Estados. O Canadá teve quatro casos em 2015; em 30 países da Europa foram 3.969 casos em 2015. Autoridades de saúde afirmam que a maioria das pessoas infectadas não eram vacinadas. No Brasil, a vacina tríplice viral (também contra caxumba e rubéola) é aplicada gratuitamente no SUS e imuniza por toda a vida. 

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ÁFRICA. Além da malária, febre tifoide é recorrente no continente (vacina na rede particular, desde R$ 138). A região subsaariana (do Senegal à Etiópia, inclusive partes do Quênia) abriga um “cinturão da meningite” (vacinas custam a partir de R$ 212 na rede particular). As doenças sexualmente transmissíveis ainda se espalham com facilidade no continente; o preservativo é a melhor prevenção. Desde dezembro de 2015 não há mais casos confirmados de ebola, segundo a OMS.

ÁSIA. A gripe aviária causou pânico no fim dos anos 1990 e em 2003, quando se alastrou pela população de frangos de Hong Kong e chegou à Coreia do Sul. Não há vacina, mas a epidemia foi controlada após o abate de milhões de aves nos dois países. A febre tifoide também é comum no continente asiático, assim como as doenças sexualmente transmissíveis, contra as quais a prevenção mais eficaz é o uso do preservativo. 

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