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Deserto do Kalahari: da inóspita salina a áreas repletas de habitantes

Contradições do hábitat único garantem ao turista desde o contato com animais e tribos milenares até o um exercício de introspecção 

Por Bruna Toni
Atualização:

MAKGADIKGADI - Se alguém me perguntar se há barulho no silêncio, direi com toda a certeza que sim. E contarei que a sua intensidade tem o tamanho do deserto do Kalahari.

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Já era fim de tarde quando Super, um botsuano de mais de 2 metros de altura, parou o carro do Jack’s Camp no meio da salina, uma área dentro do Kalahari de tamanho equivalente à Suíça. Não havia nada ali além de nosso grupo, do chão branco-acinzentado e do céu soltando relâmpagos ao longe, prestes a nos engolir. 

Depois do cair da noite e de minutos de introspecção, tivemos uma aula de geografia in loco. Iluminado por um lampião, Super abriu o mapa e nos explicou, entre um e outro gole de vinho, os detalhes da fauna e da flora daquela região. O Kalahari em si vai muito além da salina inóspita: tem 2,5 milhões de quilômetros quadrados e cobre 84% do território de Botsuana. 

Longe de ser monótona, sua paisagem é bem diferente daquela do Delta, composta por uma vegetação mais rasteira. As zebras estão por toda parte, acompanhadas de antílopes que aproveitam a umidade da noite e o começo da manhã para se alimentarem. Também há leões, pássaros, chacais, avestruzes, hienas, gnus... Mas ninguém rouba tanto a cena quanto os suricatos, alçados à fama com o personagem Timão, de O Rei Leão.

Tradição milenar. Um dos passeios rompe o silêncio do deserto ao nos colocar em contato com os bushmen, coletores e caçadores que habitam o país há milhares de anos e, hoje, fazem parcerias com os acampamentos do Parque de Makgadikgadi para manter suas tradições e seu idioma, o afrikaans. 

Dessa vez, nossa caminhada não é em busca de animais, mas da compreensão do outro que é tão diferente de nós. O que aparenta ser um punhado de mato ganha significado nas mãos desse povo: propriedades medicinais, alimento ou uma maneira de matar a sede. Como disse Sebastião Salgado sobre sua passagem por lá, os bushmen sabem exatamente o que comer e o que envenena, fazem fogo com as próprias mãos e mantêm costumes que vão do fumo natural a uma brincadeira feita apenas com o barulho das mãos.

Voltar às origens é também a proposta do Jack’s Camp, onde não há energia elétrica. Questão de opção – seu proprietário, Ralph Boesfield, quis manter o lugar com a mesma essência da época em que seu pai o criou, na década de 1960. 

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Trata-se do camp mais rústico e ligado à história local que encontramos. E o que mais se aproxima do conceito peculiar de luxo que parece ser a proposta do setor hoteleiro do país. O quarto (diárias desde US$ 1.730, por pessoa) parece uma tenda árabe, com camas altas e um banheiro cujo vaso sanitário é literalmente um trono e a pia, uma penteadeira. 

A área social, que dá acesso à piscina e onde ficamos até que a escuridão chegue e nos diga que está na hora de dormir, também funciona como museu de história natural – importante em um país que não possui muitos. Além do Jack’s, há mais quatro opções de hospedagem por lá. Mais em unchartedafrica.com.

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