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Doses extras de coragem em desafios radicais

Preparo físico e experiência são fundamentais para os programas como trekking e rapel no Rio Macaquinho

Foto do author Adriana Moreira
Por Adriana Moreira
Atualização:

Pendurada a 25 metros de altura, com a Cachoeira da Caverna às minhas costas, olhei hesitante para o poço cheio d'água, lá embaixo. "Você tem certeza de que quer descer?", perguntou o guia. Senti que ainda dava tempo de desistir. E foi isso que fiz. Tirolesa, arvorismo e trilhas de todo tipo tinham sido vencidos sem grandes problemas nos últimos dias. Não seria pretensão, portanto, acreditar que poderia encarar também o rapel naquela queda-d'água imponente, fase final do canionismo pelos recantos do Rio Macaquinho. Engano que me deixou com a certeza de que coragem não basta na Chapada dos Veadeiros. Alguns desafios são para os realmente experts em atividades radicais. No dia anterior à expedição, o guia Ion David já tinha aconselhado os menos experientes a acompanharem apenas como observadores a descida do cânion do Rio Macaquinho. Em troca, prometeu bastante emoção naquele rapel de 25 metros na cachoeira. Tudo bem. O percurso no cânion tinha mesmo desafios duros, como o trecho em que era preciso saltar de um paredão de pedra de 6 metros de altura para dentro d'água.

 

Ion, proprietário da agência Travessia, especializada na Chapada dos Veadeiros, conta que a região tem 14 cânions mapeados e aquele percurso, no Rio Macaquinho, não é o mais difícil. Mesmo assim, é o tipo de expedição só feita quando o grupo agenda com antecedência, e as pessoas têm vivências anteriores.

Aquela tarde em que não participei ativamente da descida do cânion foi, apesar disso, bem divertida. O Macaquinho fica dentro da fazenda Rancho das Pedras, com área para camping (R$ 30 a diária) e trilhas. Entre íngremes trechos a pé há pedras para tomar sol, cachoeiras e poços.

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O canionismo (ou o passeio, no meu caso) durou o dia inteiro. Mesmo assim, o grupo teve de desistir da última cachoeira, a do Encontro, para não correr o risco de voltar de noite pela trilha. Entre os aventureiros havia seis atletas com vasto repertório em corridas de aventura. Um deles, o neozelandês Jim Robinson, que estava no Brasil para participar do 2º Brasília Multisport, admitiu seu medo em vários momentos. Eu não estava sozinha, afinal.

Para ir:

com a Travessia (

www.travessia.tur.br

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), o canionismo custa R$ 100, sem transporte. Mínimo de quatro pessoas.

Se tiver energia para seguir adiante depois de se refrescar nas corredeiras do Parque Nacional, o visitante chega às cachoeiras-símbolo da Chapada dos Veadeiros. Os Saltos 1 e 2 do Rio Preto têm, respectivamente, 80 e 120 metros de altura, mas só podem ser vistos depois de uma caminhada puxada.

O Salto 2 surge primeiro, admirado a partir de um mirante. É provável que suas melhores fotos sejam feitas nesse local. Segue-se então para o Salto 1, onde há um poço para recuperar as energias. Acredite, será necessário. O caminho de volta, muito íngreme, exige até a última gota de energia.

O Parque Nacional tem um segundo roteiro, o dos Cânions, menos complexo, apesar de sua extensão chegar a 11 quilômetros. É preciso se informar antes do passeio porque o Cânion 1 só fica aberto na época seca. Neste momento, está fechado para proteger um ninho de patos mergulhões, considerados em extinção.

Para ir:

entrada gratuita, mas é preciso contratar guia. Informações:

www.icmbio.gov.br/parna_veadeiros

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Faça um bom alongamento, encha o cantil e prepare o espírito (e as pernas). A trilha que leva ao Mirante da Janela é, certamente, uma das mais difíceis da Chapada. Mas isso não quer dizer que você deva fugir dela. Muito pelo contrário: o esforço será recompensador.

A trilha de 14 quilômetros leva a uma impressionante vista do Parque Nacional. Depois de muito sobe-e-desce pelo cerrado, o visitante alcança o primeiro mirante, conhecido como Janela. Desobedeça suas pernas, que pedem para que você volte dali mesmo, e siga adiante.

O trecho seguinte, rumo ao Janelão, exigirá esforço ainda maior. Até os braços terão de ajudar a vencer os obstáculos. No fim, respire coragem, suba na pedra de dois metros de largura por cinco de comprimento e tenha a panorâmica total do parque. Em dias claros, a vista alcançará além dos Saltos do Rio Preto. Quer melhor lugar para almoçar?

Na volta, no período de chuvas, relaxe na Cachoeira do Abismo. Massagem grátis (e merecida) nas costas.

Para ir:

R$ 150, com a Travessia.

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