Estadão 140 anos: agruras e curiosidades das viagens do passado

Visto de saída para o Paraguai, restaurantes sem graça em Berlim, visita à Disney por US$ 1,25. Era assim no primeiro ano do antigo caderno ‘Turismo’

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Por Adriana Moreira
2 min de leitura
Capa de 1966 do antigo caderno de Turismo do Estadão Foto: Arquivo/Estadão

Antes das selfies, das promoções de passagem aérea, da internet, da União Europeia e do euro, do parcelamento no cartão de crédito e de tantas outras facilidades para o viajante moderno, desbravar fronteiras demandava recursos financeiros, apurado espírito de aventura e, muitas vezes, até uma carta de recomendação para conseguir hospedagem. Na semana de comemorações pelos 140 anos do jornal O Estado de S. Paulo, completados em 4 de janeiro, resgatamos curiosidades sobre as viagens do passado, guardadas no Acervo Estadão. Enquanto o inglês Thomas Cook levava seus grupos de excursão pela Europa em 1845, por aqui o conceito de “turismo” ainda era um tanto misterioso. A primeira menção à palavra no jornal foi em 1906, em um artigo sobre a criação de um circuito europeu de turismo convocado pelo Automóvel Clube da França. O que não significa, claro, que as pessoas não viajavam antes disso. Anúncios de hotéis sempre foram uma constante no periódico – na edição de 3 de janeiro de 1880, por exemplo, quando o jornal ainda se chamava A Província de São Paulo, o mais luxuoso da cidade, o Grande Hotel, localizado na Rua São Bento, 53, se gabava de oferecer banhos “frios, quentes e de chuva”. 

Nessa época, os viajantes eram, em sua maioria, estudantes de famílias endinheiradas ou homens de negócios. Viajava-se também em busca de saúde, para destinos de águas termais, banhos de cachoeira ou clima ameno. Em 1911, o Grand Hotel Pocinhos do Rio Verde, em Minas Gerais, fundado em 1886 e ainda em funcionamento, já era citado em notas que discorriam sobre os benefícios de suas águas sulfurosas. O conceito de turismo organizado, com guia e roteiro programado, ainda não existia por aqui – surgiria apenas no início do século 20, conforme as cidades melhoravam estradas e meios de transporte. Antes disso, em 1914, o jornal já questionava o pouco aproveitamento turístico das atrações nacionais. “Na Europa, o turismo tem dado os melhores resultados”, dizia a reportagem de 9 de abril, que citava as excursões promovidas pela França para mostrar o país aos estudantes locais. E questionava por que o mesmo não era feito no Brasil. “Nós, que temos vários dos mais belos sítios do mundo, não sabemos ainda, entretanto, o que é o turismo.” Catorze anos depois, outro artigo afirmava que o turismo ainda não fazia parte “de nossos hábitos” e cobrava iniciativas para estimular a população a sair da cidade a lazer. Essa mudança só ocorreria a partir da década de 1930, quando aumentam os anúncios de excursões ao Rio de Janeiro e ao Circuito das Águas, no interior de São Paulo. A partir da década de 1940, o tema passa a ganhar cada vez mais espaço no Estado. Até que, em 24 de junho de 1966, o jornal cria o suplemento Turismo, que mudaria de nome outras três vezes (Viagem, em 1991; Viagem & Aventura, em 2004, e novamente Viagem, em 2010). Mais do que um guia, as reportagens documentaram as transformações pelas quais passaram os destinos. Para chegar a Foz do Iguaçu, alertava a primeira edição, levava-se 45 horas, parte em trem e parte de ônibus. Quem quisesse cruzar a fronteira para o Paraguai não precisava de visto de entrada, mas de saída, fornecido pelo DOPs. Conheça outras curiosidades retiradas do primeiro ano do Turismo a seguir. 

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