História para dormir, sem conto de fadas

Quartos que hospedaram chefes de Estado, corredores que inspiraram artistas e escritores. Nesses estabelecimentos, as memórias estão por toda a parte

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Por Redação
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Convento do Carmo, Salvador

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No coração do Pelourinho, em Salvador, é possível se hospedar em uma espécie de livro de História brasileira - e com toda mordomia. O Pestana Convento do Carmo funciona num convento carmelita erguido no século 16. Após uma detalhada restauração, o prédio de 1586 foi transformado em hotel de luxo.

As passagens históricas são inúmeras. Depois da invasão holandesa na então capital do Brasil, entre 1624 e 1625, a rendição dos invasores aos portuguesas foi assinada ali. Ainda no século 17, o convento serviu como quartel para as tropas de Portugal que se revezavam na sentinela dos fortes da cidade.

Uma das graças de se hospedar no convento é o paradoxo entre o antigo e o moderno. O interior de seus 79 apartamentos foi todo reformado - cada um com uma decoração diferente - e contam com tentações como TV de tela plana e lençóis de algodão egípcio. Da cozinha, a chance de provar a culinária portuguesa. Site: pestana.com/pt/pestana-convento-do-carmo. Diárias desde R$ 574.

Grande Hotel, Araxá

Os tempos eram outros e os cassinos eram permitidos no Brasil. Em 1944, o glamour do Grande Hotel e de suas mesas de jogo atraía turistas elegantes para a pacata cidade mineira. Por seus lagos e jardins projetados por Burle Marx, a elite do país, entre celebridades e políticos, desfrutava as férias.

Os 283 apartamentos são cuidadosamente decorados. Há salas tombadas pelo Patrimônio Histórico, como a Congonhas, um dos espaços onde o presidente Getúlio Vargas se reunia com assessores e políticos. Os lustres de cristal do Salão Minas Gerais foram trazidos da Alemanha e o piso é de mármore Carrara.

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No segundo andar, as suítes presidencial e governamental – também tombadas – têm 200 metros quadrados, com sete aposentos e dois banheiros cada. Getúlio Vargas discursou da sacada suíte presidencial. O quarto raramente é ocupado, talvez por conta de seu preço: R$ 1.801 a diária.Mas há opções desde R$ 497 o casal. Site: tauaresorts.com.br/araxa.

Pousada do Quilombo, São Bento do Sapucaí

Foi ao preparar o terreno para a construção da pousada, na Serra da Mantiqueira, que os proprietários encontraram objetos de combate usados na Revolução de 1932. O movimento armado – que buscava derrubar o governo de Getúlio Vargas – teve ali uma importante cena de confronto. Capacetes, moedas, e até exemplares de O Estado de S. Paulo foram encontrados e estão no Museu da Revolução – é possível até ver as trincheiras. Diárias desde R$ 360. Site: pousadadoquilombo.com.br.

Copacabana Palace, Rio de Janeiro

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Não há dúvidas: o Copacabana Palace é, de longe, o mais famosos dos hotéis brasileiros – nacional e internacionalmente. Há tempos – desde 1923, para ser preciso – virou pouso obrigatório das grandes figuras que passavam pela então capital do País. O primeiro hóspede já dá a ideia da aura glamourosa do empreendimento: rei Alberto, da Bélgica, que já tinha o hábito de mergulhar nas águas de Copacabana e vibrou com a construção do “palácio”. Por isso, é dele a primeira assinatura no chamado Livro de Ouro, que a administração do hotel mantém até hoje e convida visitantes ilustres a assinar.

Nesses quase 90 anos de história, não faltam causos curiosos. Em 1931, o então príncipe de Gales – depois coroado rei –, Eduardo VIII, ficou famoso por tirar um peixe do aquário do hotel e jogá-lo na piscina. Quantas caipirinhas ele havia tomado, ninguém sabe.

O cineasta Orson Welles também protagonizou um barraco célebre, em 1942. Ele, que ficou hospedado por mais de seis meses durante as filmagens de It’s All True, arremessou os móveis da sua suíte na piscina após uma briga com sua namorada, a atriz Dolores Del Rio. Diz a lenda que a verba do filme foi cortada antes que Welles pagasse vários atores, entre eles Grande Otelo, que teria levado uma mãe de santo à porta do hotel para fazer macumba contra o diretor.

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Um ano antes, Walt Disney passou uma temporada no hotel – e se inspirou para criar o personagem Zé Carioca. Tanto a visita do cartunista como a de Welles faziam parte de um esforço diplomático dos Estados Unidos para convencer o Brasil a se juntar aos Aliados contra o Eixo, de Hitler e Mussolini, na Segunda Guerra Mundial.

Pelo palco do teatro do hotel – e também pelos apartamentos, claro – passaram nomes como Edith Piaf e Marlene Dietrich. Ali também estrearam Paulo Autran e Tônia Carrero, em 1949, com a peça Um Deus dormiu lá em casa... Carmen Miranda se internou num dos quartos por quatro meses, de 1953 a 1954, durante uma depressão, antes de voltar aos EUA e morrer de enfarte. Seu autógrafo, contudo, está eternizado no Livro de Ouro. Não se pode dizer o mesmo de Janis Joplin, afastada das páginas após nadar nua na piscina – e ser expulsa do hotel. Site: copacabanapalace.com.br. Diárias desde R$1.140.

Clube dos 500, Guaratinguetá

Na década de 1950, o banqueiro Orozimbo Roxo criou um espaço para receber seus 500 melhores amigos para jogar golfe. Assim nasceu o Clube dos 500, projetado com a maior sofisticação da época. O paisagismo é de Roberto Burle Marx e Oscar Niemeyer projetou 20 dos 74 apartamentos. Entre os frequentadores, Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas e Di Cavalcanti, que até fez ali um painel, exposto no restaurante. Diárias a partir de R$ 290 por casal. Site: www.h500.com.br.

Pera Palace, Istambul

Entre 1926 e 1932, a escritora Agatha Christie passou várias temporadas hospedada neste hotel. E garantiu a inspiração para criar alguns de seus romances, como Assassinato no Expresso do Oriente. O hotel também foi palco de grandes acontecimentos desde sua inauguração, em 1892. Na Primeira Guerra Mundial, os ingleses ocuparam o edifício e fizeram dele seu quartel-general. Com o fim do conflito, foi devolvido à Turquia. Diárias desde 205 euros (R$ 531). Site: perapalace.com.

The Savoy, Londres Em 1895, após um encontro com Lord Alfred Douglas no Savoy, o escritor Oscar Wilde foi condenado a dois anos de trabalhos forçados, acusado de cometer atos de ‘grande indecência’. Depois que um punhado de empregados do hotel testemunhou contra o autor, a condenação foi iminente, mas a casa perdeu um hóspede assíduo.

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Tradicional endereço londrino, inaugurado em 1889, o Savoy era um dos favoritos de Frank Sinatra, que estendia suas turnês na Inglaterra para desfrutar de sua vista predileta – preferencialmente, no mesmo quarto. Em 4 de agosto de 1990, a Rainha Mãe comemorou ali seu aniversário de 90 anos, com todos os funcionários cantando Happy Birthday to You. Ao todo, são 202 quartos com variados padrões de preço. Diárias a partir de 325 libras (R$ 842). Site: fairmont.com/savoy.

 

Watergate Hotel, Washington

Para se sentir dentro de um verdadeiro cenário de trama e intriga política, que tal visitar o palco de um dos maiores escândalos mundiais? O Watergate Hotel fica dentro do complexo comercial e residencial que foi palco do escândalo que levou o presidente americano Richard Nixon a renunciar há 40 anos, após a descoberta de que ele ordenou a invasão do comitê do Partido Democrata para roubar documentos confidenciais.

O hotel – que foi um dos mais luxuosos da capital americana – está fechado desde 2007. Havia uma reforma em curso, mas o banco financiador faliu com a crise de 2008 e, por enquanto, não há previsão de reabrir. Mas é possível dar uma volta pelo complexo, ainda que não haja referências formais ao escândalo. Se quiser entender melhor porque uma reportagem do Washington Post culminou na derrocada de Nixon, siga para o Newseum, museu jornalístico interativo. Entrada: US$ 21,95 (R$ 45).

Convento do Espinheiro, Évora

A origem do Hotel Convento do Espinheiro, em Évora, na região portuguesa do Alentejo, está ligada à lenda que relata a aparição de Nossa Senhora sobre um espinheiro. Em 1412, construiu-se uma pequena capela no local, que passou a ganhar cada vez mais importância como ponto de peregrinação. No ano de 1458, durante o reinado de D. Afonso V, foi fundada a igreja e posteriormente o convento, ocupado durante séculos por monges da Ordem de São Jerônimo.

Eram frequentes as visitas de reis portugueses, sobretudo os da Dinastia de Avis que tinham uma grande devoção à Virgem, como D. João II e D. Manuel I. D. Sebastião era hóspede certo quando ia a Évora, sempre a convite dos monges. Após uma reforma de três anos, foi reinaugurado em 2005 – ostentando cinco estrelas. O conjunto mantém a mesma estrutura arquitetônica dos tempos de convento, mas a antiga adega deu lugar a um restaurante gourmet, a cozinha dos monges foi transformada em piano-bar e a cisterna gótica adaptada a um espaço para degustação de vinhos e produtos regionais. As diárias variam de 155 euros (R$ 402) a 1.145 euros (R$ 2.969). Site: conventodoespinheiro.com.

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Ritz, Paris

O extravagante complexo parisiense foi inaugurado em 1896 pelo hoteleiro suíço Cesar Ritz com o objetivo de criar um paraíso de “elegância, higiene, eficiência e beleza”. Talvez nada evoque mais sua pompa do que o fato de Coco Chanel ter vivido ali de 1934 a 1971 – apesar de não ser a maior do hotel, a Suite Coco ainda é uma das mais procuradas. Uma noite ali custa 8.500 euros (R$ 22.047), mas há quartos desde 850 euros (R$ 2.204). Mas será preciso esperar até 2014, já que o hotel passa por uma restauração. Site: ritzparis.com.

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