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Homem e a natureza

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Por Redação
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Na Calábria, a civilização parece um desafio ao destino de devastação sugerido pela natureza. As cidades se equilibram à beira de um precipício; as ruas seguem o fluxo vertiginoso de subidas e descidas da montanha; as casas fincam raízes na assimetria do terreno. Chegar a Tropea é se sentir espremido entre o mar e a terra, na iminência da queda - e então você se dá conta de que os séculos das construções sugerem uma permanência capaz de acalmar o espírito.O início da ocupação do território data do século 7 a. C. Hoje, a cidade tem pouco mais de seis mil habitantes e sobrevive em boa parte dos turistas atraídos por suas praias. A pimenta é grande honraria da terra, mas não a única, com a cebola vermelha correndo por fora. Não é preciso, porém, tomar partido - a combinação das duas em geleias, patês e pratos típicos, afinal, deixa qualquer rivalidade em segundo plano. Para o artista plástico Antonio Peticov, a relação do homem com a natureza é um dos aspectos mais fascinantes na Itália - e um que, depois de mais de uma década vivendo em Milão, onde terminou sua formação como artista, só agora percebeu de modo mais concreto. E interessante é perceber como ela pode assumir diversas formas.Na Sardenha, por exemplo, a primeira sensação é de um campo devastado, tomado por uma vegetação rasteira que permite observar a imensidão do mar de todos os lados da estrada que leva do aeroporto a Cagliari. No meio do caminho, um desvio de terra leva em direção a terrenos mais elevados. A certa altura, é preciso abandonar o carro e seguir a pé até o alto de um monte, onde a vista de um antigo farol (hoje transformado em um exclusivo hotel para meia dúzia de hóspedes) revela a costa vazia e de aparência gelada. O caminho de volta à estrada é solitário. E vem então a surpresa: uma pequena entrada leva o carro a um oásis de cores, sabores e receptividade, um restaurante à beira de um pátio que, na forma e na decoração, evoca quase três mil anos de convivência das mais distintas culturas e nacionalidades.Já na Sicília, o que chama atenção não é a ausência mas, sim, a presença constante da "Montanha". É assim que se referem os habitantes da ilha ao vulcão Etna. A história das ruas e construções que levam a Catânia está repleta de referências não só às erupções (a última foi em 2007) mas à resistência dos habitantes, que ainda assim não deixam sua terra. De jipe, o passeio pela base do Etna coloca o visitante próximo a um cânion. O silêncio. por um instante, chega a acalmar. Mas então uma nuvem escura invade o ambiente e você fica preso em meio ao nada, sem enxergar um palmo à sua frente. Mais tarde, o funcionário de um hotel à beira-mar resume a experiência. "Podemos conviver com a montanha, mas sem jamais perder o respeito por ela, esse é o nosso acordo."

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