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Intercâmbios combinam turismo e voluntariado

Em ascensão entre brasileiros, programas permitem casar passeios e trabalho voluntário, garantindo uma experiência mais autêntica

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Por Julia Lindner
Atualização:
Maurício Villamil foi à Tailândia; hoje mora na Índia Foto: Arquivo Pessoal

Maurício Villamil, 24, estava no fim da faculdade de Administração quando decidiu interromper o curso e pedir demissão do emprego para embarcar rumo à Tailândia, no começo do ano. O catarinense escolheu um programa de intercâmbio diferente dos roteiros convencionais: além de conhecer o destino, foi dar aulas de inglês por dois meses em comunidades de Korat. A cidade, cerca de 260 quilômetros a nordeste da capital Bangcoc, fica nos arredores do Parque Nacional Khao Yai, o mais visitado do país.

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A experiência foi tão impactante que, ao voltar para casa, Maurício não se adaptou à rotina. Poucos meses depois, viajou a Mumbai, na Índia, onde trabalha e planeja viver até 2016. Depois, quer ir para outro país, sem data para retornar ao Brasil.

Parte de uma geração que busca para ontem realização pessoal e profissional, Maurício teve a chance de sentir que ajudava outras pessoas e, ao mesmo tempo, aperfeiçoar os conhecimentos de idiomas. E ainda valorizou o currículo. Segundo pesquisa da consultoria Deloitte feita em 2013, 81% dos executivos de Recursos Humanos levam em conta o voluntariado ao avaliar um candidato a emprego.

“Turistas estão querendo conhecer para além do que é tradicionalmente mostrado a eles”, diz Bernardo Cheibub, professor de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense. “Morar na favela e usar transporte público é ter acesso mais amplo à cidade”, continua.

Com ajuda da organização internacional Aiesec, que é gerenciada por estudantes universitários e tem quase 90 mil membros, o sergipano Raul Dantas morou dois meses na capital do Quênia, Nairóbi. Dava aulas e ajudava no marketing de ONGs locais nas duas maiores favelas do país, Kibera e Mathare. Nos fins de semana sobrava tempo para visitar pontos turísticos como o Centro de Girafas e a reserva de safáris Masai Mara.

“Você toma aquela realidade como sua e todas as experiências são potencializadas, por isso é algo que te modifica”, diz Raul.

Gabriela Terepins trabalhou em horta na China Foto: Arquivo Pessoal

Tem seu preço. O fato de envolver trabalho voluntário causa alguma confusão quando o assunto são os custos do intercâmbio solidário. “As pessoas pensam que, por ser trabalho voluntário, não é preciso pagar”, diz Emília Miguel, gerente comercial da agência Experimento.

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Gerente de Produtos da CI, Eduardo Frigo diz que o turismo solidário pode custar até 30% menos que viagens convencionais. O motivo é o custo de vida mais baixo no destino.

Além de arcar com passagem aérea e seguro de saúde, o voluntário arca com os custos, em alguns casos, hospedagem e alimentação. Há, ainda, taxas a serem pagas para a organização ou agência responsável por encaminhar o viajante.

Reduzir o impacto financeiro por meio do custo de vida acessível foi um motivo que levou a estudante de enfermagem Letícia Garcia, de 21 anos, a escolher como destino a cidade de Accra, no litoral de Gana. Por três meses, viveu na casa de uma família local e trabalhou em um hospital com jornada de seis horas diárias. A estudante aponta outros fatores que pesam na escolha.

“Primeiro, pense bastante no que você quer trabalhar, hospital, escola, comunidade ou programa de proteção aos animais”, enumera. “Segundo, escolha o lugar e pesquise sobre clima, dinheiro e condições de vida. Terceiro, decida quanto tempo quer ficar. Por fim, faça um planejamento financeiro.”

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Tudo isso ajuda a minimizar dificuldades de adaptação. Segundo Eduardo Frigo, da CI, apenas 2% dos intercambistas têm problemas para se adaptar.

Contra o risco de não se acostumar ao local e à vida que terá por algumas semanas, ajuda o fato de que as possibilidades de atuar como turista voluntário são variadas. É possível trabalhar com crianças carentes na Índia, preservação do meio ambiente no Nepal, elefantes órfãos na África do Sul. Não se exige experiência, apenas nível intermediário de inglês ou espanhol. A média de tempo dos intercâmbios é de um a três meses.

E, apesar de os jovens serem maioria, não são os únicos interessados em turismo solidário. José e Nailin Palhano, de 36 e 34 anos, são doadores da ActionAid e participaram em março de uma viagem promovida pela organização para Moçambique. No contexto do projeto chamado de Mão na Massa, conheceram comunidades rurais, como Mocuba e Nigumue, e ajudaram a construir um centro comunitário. Entre partidas de futebol, conversas, danças e refeições oferecidas pelas tribos visitadas, José conta que se emocionou todos os dias durante a semana em que fez parte do projeto.

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Nas agências de viagem, os preços dos programas começam em R$ 2 mil por pessoa, sem aéreo. Confira a seguir algumas opções de países e pacotes.PAÍSES E PACOTESNEPAL. A procura por programas de voluntariado no Nepal aumentou depois do terremoto que destruiu parte do país e da capital, Katmandu, entre abril e maio deste ano. O pequeno país asiático abriga o Himalaia, cadeia de montanhas que inclui os picos mais altos do planeta, e permite ao voluntário ajudar na reforma e construção de escolas e creches e ainda atuar no ensino infantil. O pacote custa R$ 3,9 mil, mais passagem aérea de cerca de R$ 7 mil até Katmandu, com a CI. Mais informações: ci.com.br.ÁFRICA DO SUL. País que mais atrai os voluntários brasileiros hoje, une natureza, cultura e o inglês como idioma oficial. De acordo com a Belta, associação de empresas de intercâmbio, programas de um mês custam cerca de R$ 6,8 mil. Bom para atuar em projetos com animais selvagens em reservas como a Big5A, onde se interage com elefantes, leões e outros bichos. STB: stb.com.br.COLÔMBIA. Roteiros na América do Sul podem representar economia no item passagem aérea. Entre os países vizinhos, o preferido dos brasileiros é a Colômbia – pacotes de um mês, com aéreo, custam em média R$ 3 mil. Quanto ao trabalho, é possível contribuir para a conscientização da população carente sobre noções básicas de saúde e higiene. O programa é oferecido pela Aiesec: aiesec.org.br.SITES. Veja organizações que promovem programas de turismo solidário. Além das citadas Experimento, Aiesec e CI, procure Voluntário Global, Global Volunteer Network, Idealist, Actionaid, IVPA e IFRE.

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