Liz Taylor e algumas vilas esquecidas no tempo

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Por Punta de Mita
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Era uma vez Puerto Vallarta, vilarejo desconhecido que se tornaria ninho de amor de Elizabeth Taylor e Richard Burton em 1963. Ele gravava A Noite do Iguana, de John Huston. Ela ia visitá-lo nos sets. Além de fotos de paparazzi e publicidade para o filme, o affair rendeu muito para a própria cidade, que logo receberia construções do aeroporto internacional e da estrada federal. Na década de 1980, nasceu o investimento imobiliário Nuevo Vallarta, pensado para luxuosas vilas particulares. Para tirar o projeto do papel, os investidores precisaram negociar com a vila de pescadores ali instalada para comprar as terras e iniciar a construção dos resorts. Um trâmite pacífico, dizem. Assim, em 1994, os antigos moradores saíram do pueblo e foram para Punta Mita, na outra ponta da Baía de Bandeiras. Apenas cinco anos foram necessários para que empresários do turismo descobrissem também este endereço - em 1999, Punta Mita já começava a receber investimentos. O nome turístico de Riviera Nayarit veio em 2007. De lá para cá, o destino atraiu resorts como o Four Seasons (fundado em 1999, com 141 casitas e 32 suítes) e St. Regis (fundado em 2008, com 120 quartos), mansões em condomínios pomposos (de US$ 2 milhões a US$ 14 milhões), hotéis cinco-estrelas (caso do Grand Velas, de 2003, com 367 suítes) e campos de golfe (como o Punta Mita Golf Course, com design de Jack Nicklaus). Para transitar, aliás, os hóspedes usam carrinhos de golfe. Diz a lenda praiana que um bilionário americano alugou o Four Seasons inteiro para comemorar o aniversário da mulher em 2012, e convidou Elton John para cantar os parabéns. Aí se apaixonou por Punta Mita e adquiriu uma das maiores mansões dali. Em 2013, voltou com a mulher para celebrar o aniversário, desta vez com Gloria Stefan. Na mesma linha, outras celebridades adquiriram seu pedacinho de terra por lá. Como a política do staff, discretíssimo, é garantir a privacidade dos hóspedes, os fãs e paparazzi ainda não descobriram esses rincões mexicanos. Assim, o complexo cresceu como uma imensa fortaleza, com praias particulares e entrada vigiada. Dos portões para dentro, o luxo. De tão milimetricamente perfeitinho, dá certa impressão de artificialidade, como um oásis forjado no deserto. As praias são irretocáveis, rodeadas por piscinas, espreguiçadeiras e bangalôs atendidos por equipes extremamente gentis. Dos portões para fora ainda há a cidadezinha Punta de Mita. Com aproximadamente mil habitantes, a cidade é mais real: tem hotéis mais simples, lojinhas, quiosques, pequenos restaurantes, armazém, botequins, casinhas, carros antigos (velhos mesmo, não vintage), ferro-velho, varal colorido e carro alto-falante com notícias da rádio peão. Mas, a bem da verdade, as praias abertas não têm nada demais - muitas brasileiras as desbancariam facilmente. Variedade, sim. E a Riviera Nayarit, vale lembrar, compreende diferentes lugares. Além de Nuevo Vallarta e Punta Mita, há aldeias de pescadores e cidades (Bucerías, La Cruz de Huanacaxtle e San Blás, de onde se parte para os manguezais do Parque Nacional de La Tovara), áreas exclusivas (Flamingos, Litibú), ilhas (Marieta, Mexcaltitán) e praias (Rincón de Guayabitos, San Pancho e Sayulita). Assim, o verdadeiro lado B começa na estrada: uma carreteira empoeirada e pontilhada por túmulos, milharais e barracas de frutas. Dali podemos enveredar para vilas tranquilas e igualmente empoeiradas, onde crianças pedalam na contramão e olhando para trás. Sob o sol forte e o céu azul, a estrada se desdobra em rotas para Tepic (capital de Nayarit) e Guadalajara (a segunda maior cidade do país). Antes de se aventurar na estrada, vale conferir os trajetos com os concierges nos hotéis. No fim, dentro e fora dos portões, paira uma sensação de tranquilidade no ar. Nos resorts, um tipo de solidão contemplativa com sombra e água fresca. Nas cidades, uma inquietação silenciosa de vilarejo esquecido no tempo. Tanto que, como o caro leitor deve ter notado, quase não há viva alma nas fotografias feitas ali.

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