Manaus: uma capital cheia de história para contar

A riqueza do ciclo da borracha e a ‘belle époque’ amazônica são narradas em palacetes, casarões e teatros no centro histórico de Manaus. Separe dois a três dias para ver tudo

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Por Karina Rivera
Atualização:
Cartão-postal.Teatro Amazonas é expressão mais significativa da riqueza manaura durante ciclo da borracha Foto: Nuno Guimarães/Reuters

De Manaus

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Quem nunca esteve no Amazonas ouve um monte de estereótipos sobre a sua capital, Manaus. Está bem, você pode nadar com boto cor-de-rosa e visitar tribos indígenas nos arredores, se quiser – não faltam opções de pacotes em agências locais. Só que a cidade vai muito além disso. 

Manaus é uma mistura complexa de cenários que surgiram e surgem: os modernos e caros prédios residenciais da Ponta Negra, a ruidosa e tumultuada zona portuária, algumas obras suntuosas como a ponte estaiada e a Arena da Amazônia, o concreto que se mistura com o verde tanto na parte mais rica quanto nas mais pobres. 

E tem o centro histórico. Andar por ali é fazer uma viagem no tempo de volta ao período áureo da borracha – vivido entre o fim do século 19 e o início do século 20, quando o látex extraído das seringueiras da Amazônia se tornou protagonista nas exportações do País, levando riqueza e desenvolvimento para a Região Norte. Para se ter uma ideia, Manaus foi uma das primeiras cidades brasileiras a ter luz elétrica, água encanada e linhas de bondes

O centro materializa alguns dos principais símbolos do ciclo da borracha. Não bastava ter dinheiro, era necessário ostentar: daí vieram as construções cheias de pompa inspiradas na arquitetura europeia. Não à toa, Manaus ganhou na época o apelido de “Paris dos trópicos”. Com a queda no preço do látex, por volta de 1912, Manaus viu sua “belle époque” chegar ao fim. Restaram os majestosos casarões, igrejas, praças, teatros e mercados, para deleite do turista. 

Então prepare os seus sapatos. Sim, porque dá para percorrer todas essas joias da arquitetura a pé. O roteiro pode ser feito em dois a três dias. Vai depender da sua pressa e do seu interesse em cada um dos edifícios. Veja a seguir a lista dos melhores lugares para visitar.

1. Teatro Amazonas

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Principal cartão-postal manauara, é a expressão mais significativa da riqueza da região amazônica durante o ciclo da borracha. De beleza imponente, o teatro existe desde 1896, tem capacidade para 700 pessoas e recebe os principais espetáculos na cidade. 

O destaque é a bela cúpula, coberta com 36 mil azulejos importados da França e pintados em verde, azul e amarelo pelo artista brasileiro Lourenço Machado. Dentro, observe os 198 lustres feitos com cristais venezianos. Pinturas retratam alegorias de música, dança, tragédia e uma homenagem ao compositor brasileiro Carlos Gomes. Há visitas guiadas (R$ 20) que narram a vida na época; vale consultar a agenda de espetáculos: cultura.am.gov.br/teatro-amazonas

2. Mercado Adolpho Lisboa

Na região portuária, o "mercadão" é outro importante patrimônio do ciclo da borracha. Seu nome é uma homenagem ao prefeito de Manaus na época da construção do espaço, em 1883. O mercado abriga mais de 180 boxes com produtos típicos da Amazônia, onde turistas e moradores compram peixes, carnes, frutas, verduras, preparados de ervas com função curativa, artesanato. O entorno é heterogêneo: prédios antigos, feiras, lojas.

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A obra tem duas fachadas completamente distintas, uma de frente para o Rio Negro, a outra para a Rua dos Barés, a rua onde vive a família de Zana no romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum – ali fica a entrada principal. Sua estrutura está em pavilhões de ferro fundido importados da Europa, que são destaque da paisagem junto às cores chamativas da parte feita de concreto. Depois de uma reforma de sete anos, foi finalmente reaberto ao público em 2013. Funciona das 6h às 18h.

3. Museu da Casa Eduardo Ribeiro

A casa recupera a vida pessoal e política do ex-governador do Amazonas Eduardo Gonçalves Ribeiro, que inaugurou diversas construções na capital no fim do século 19. Por tais feitos, ele ainda hoje é considerado pela população o grande transformador da cidade.

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Bem preservadas, as salas e aposentos revelam uma coleção única do mobiliário residencial da época, com utensílios trazidos da Europa e piso de madeiras brasileiras, como pau-amarelo e jacarandá. 

Há também objetos de arte e de uso pessoal que procuram recriar o dia a dia de Eduardo Ribeiro, como equipamento de trabalho, lazer, vestuário, acervo textual e documentos digitalizados. Funciona das 9h às 14h e tem entrada gratuita. Fica na Rua José Clemente, 322. 

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4. Igreja São Sebastião

A igreja é uma das mais antigas de Manaus e pertence aos padres capuchinhos desde a sua fundação, em 1888. Sua beleza destoa das outras construções do local, por conta dos elementos góticos. O interior chama atenção pelos painéis e vitrais europeus. Apesar de centenárias, as pinturas que cobrem a igreja permanecem intactas. Elas são de autoria de artistas italianos, foram trazidas da Itália para o Brasil no período e afixadas no local.

Ao sair do templo, o turista se depara com a beleza panorâmica do Largo São Sebastião, onde está também o Teatro Amazonas. Os bares colocam mesas na calçada, há artistas populares e cinema ao ar livre, além do Tacacá da Gisela, a barraca de tacacá mais famosa da cidade. O largo tem piso de pedras portuguesas que formam ondas pretas e brancas e teriam servido de inspiração ao calçadão de Copacabana. 

5. Centro Cultural Palácio de Justiça

Elegante mansão amarela, a estrutura foi erguida sobre uma área elevada e protegida por um espesso. Na parte superior, a escultura que representa a deusa da Justiça, Têmis, dá uma ideia da função do prédio – por mais de um século, foi sede do poder judiciário do Estado do Amazonas. 

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Por dentro, a vista é de imponentes colunas, escadarias e teto de gesso decorado. O palácio abriga, ainda, um gabinete de leitura, com acervo de 1.038 volumes, constituídos basicamente por obras de caráter jurídico.

Mas nem só da bela arquitetura vive o lugar. O centro cultural oferece uma vasta programação, com exposições de arte, júri simulado realizado por estudantes de Direito e visitas guiadas gratuitas às salas tradicionais – como o gabinete do presidente e a sala do tribunal do júri. Fica em frente ao Teatro Amazonas e abre de terça a sexta-feira, das 9h às 14h, e domingo, das 9h às 13h.

Mercado Adolpho Lisboa, na região portuária, é outro importante patrimônio do ciclo da borracha Foto: Tiago Queiroz/Estadão

6. Palácio Rio Negro

A fachada de cor ensolarada faz a combinação perfeita com as palmeiras do entorno. Na entrada há uma estátua de bronze da figura mitológica da Medusa. Dentro da mansão, uma escadaria com esculturas de ferro trazidas da França mostra um índio e uma índia com luminárias nas mãos. A maioria dos móveis é original: quadros, relógios suíços, poltronas e estantes. 

Símbolo da riqueza dos “barões da borracha”, o Palácio Rio Negro foi construído no início do século 20 para ser residência de um deles. Com o fim do período áureo, o lugar foi adquirido pelo governo e funcionou como sede do executivo estadual até 1995. Depois disso, virou centro cultural.

Conhecer cada sala do palácio é mergulhar em uma das histórias mais fascinantes de Manaus. Os dois andares e 16 cômodos do prédio são abertos à visitação gratuita. Fica na Avenida Sete de Setembro, 1546, e abre de terça a sexta, das 8h às 14h, e sábado, das 9h às 13h. 

7. Biblioteca Pública de Amazonas

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As cores quentes e o estilo neoclássico da construção histórica atraem os olhares de quem passa na esquina da Rua Barroso com a Avenida Sete de Setembro, no centro de Manaus. A Biblioteca Pública do Amazonas funciona em um prédio erguido entre 1904 e 1912. Mesmo tendo passado por uma série de reformas e uma completa restauração depois de um incêndio nos anos 40, conserva as escadas e as colunas trazidas da Escócia, além do boleado de mármore, os lustres de cristal e a claraboia de telhas que vieram da Inglaterra. As prateleiras guardam livros clássicos, mas o destaque são as obras sobre a história da Amazônia. De segunda a sexta-feira, das 8h às 14h.

8. Teatro Chaminé

O teatro foi construído em 1910 para ser uma estação de tratamento de esgoto, mas que nunca chegou a funcionar, por problemas na obra. Depois de décadas abandonado, foi tombado e, em 2003, virou espaço para apresentações musicais, teatrais e exposições. Recebe de shows de rock a atividades para crianças. A exposição permanente Os Sentidos da Amazônia mergulha os visitantes nas peculiaridades culturais da região amazônica. 

A tal chaminé que dá nome ao espaço tem 24 metros de altura. Fica perto do Mercado Adolpho Lisboa, na via Manaus Moderna. De terça a sexta-feira, das 8h às 14h, e sábado, das 9h às 13h. Gratuito. 

9. Palacete Provincial

Abriga cinco museus e conta com um acervo de cerca de mil obras, entre pinturas, esculturas, desenhos e gravuras, realizadas por aproximadamente 300 artistas – principalmente amazonenses, mas também de outras partes do Brasil e do mundo. Estão entre os museus instalados no palacete a Pinacoteca do Estado; o de Numismática, com 8 mil moedas; o da Imagem e do Som; o Museu Tiradentes, homenagem aos bombeiros e à polícia do Estado; e o de Arqueologia. Tudo gratuito, de terça-feira a sábado, das 9h às 14h: cultura.am.gov.br/palacete-provincial.

10. Paço da Liberdade

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Mais um marco da belle époque amazônica, o prédio de arquitetura neoclássica é tombado pelo município. Foi sede do governo provincial no Império e, anos mais tarde, da prefeitura manauara. Hoje, abriga um agradável espaço com diversas obras de artistas locais. Durante recente restauração, foi encontrado um sítio arqueológico no lugar, que revelou urnas funerárias e fragmentos cerâmicos do período pré-colonial. Pisos de vidro deixam os achados à vista dos visitantes. Fica na rua Gabriel Salgado, no Centro, e abre diariamente, das 9h às 17h. No segundo domingo do mês, a praça em frente ao Paço abriga uma feira de artesanato, comida e apresentações de dança e teatro. 

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