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Mendoza: calmaria fluida

Ieda era dissimulado, praticamente um traidor. Ao contato inicial, revelava um aroma suave de fruta, um pouco ameixa, um pouco morango. Então, na boca é que mostrava seu lado desequilibrado, ácido. Do tipo que conquista no primeiro momento, mas, quando vai embora, deixa um gosto, se não amargo, ao menos dispensável.

Por Monica Nobrega e MENDOZA
Atualização:
Vinicola em Mendoza Foto: Monica Nobrega/Estadao

Ieda era o meu vinho. O primeiro que "fiz" na vida, em grupo com duas colegas, misturando variedades produzidas pela Norton, uma das maiores vinícolas da Argentina. E, se daquela experiência veio a certeza de que ainda vai ser preciso estudar e beber muito para ser capaz de fazer um corte (ou mistura) aceitável, por outro lado, a brincadeira de ser enóloga por algumas horas foi a mais instigante da temporada mendocina.

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O radar dos viajantes brasileiros começa a apontar com mais insistência para a província no centro-oeste da Argentina, que merecidamente virou sinônimo de vinho, mas tem também estação de esqui, Las Leñas. O total de turistas do Brasil que desembarcaram no aeroporto local quase dobrou entre 2010 e 2013: foi de 45 mil para 80,4 mil.

Mendoza também aposta no Brasil. "Os brasileiros já foram e voltaram a Buenos Aires, agora procuram outras opções", avalia o diretor de Promoção do Ministério do Turismo de Mendoza, Roberto Riedel.

Faz sentido, mas, em todo caso, é bom não comparar. Enquanto a capital da Argentina convida à agitação metropolitana, Mendoza é talhada para o turismo rural. A capital, com o mesmo nome da província, é uma cidade tranquila e arborizada, de 120 mil habitantes, com vista para a Cordilheira dos Andes.

No perímetro de oito por oito quarteirões ao redor da Praça Independência estão a hotelaria convencional (leia mais na pág. 10) e uma respeitável variedade gastronômica, impulsionada por alguns dos chefs mais aclamados do país, como Nadia Haron, do restaurante Nadia O.F. (nadiaof.com), Lucas Bustos, do Cordillera (cordilleramendoza.com), e Pablo del Río, do Siete Cocinas (sietecocinas.com.ar). Há supermercados onde se pode comprar vinhos básicos a preços módicos, lojas de souvenirs, algum artesanato e é isso.

O que importa está nas regiões vitivinícolas, na zona rural. É o tipo de destino em que faz todo o sentido se hospedar em hotéis no campo. E, assim, ter a chance de sorver a beleza e o silêncio das paisagens logo pela manhã cedo ou no fim da tarde.

Ao que interessa.

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Afinal, beber é o que interessa na província responsável por 85% da produção argentina, onde estão cerca de mil vinícolas, das quais em torno de 120 são abertas aos turistas. As três principais regiões vitivinícolas, que você conhecerá ao longo desta reportagem, estão a até 1h30 de carro - mas não dirigindo, por favor - da capital.

É nelas, no embalo etílico das degustações, que se descobre o vinho mendocino e as uvas malbec que estão no DNA da produção local. Não vai dar para lembrar de tudo depois, porque a cabeça sempre estará um pouco nas nuvens. Mas as experiências são ótimas. Como o desafio de preparar um vinho de corte a partir de três varietais (no caso, um malbec, um merlot e um cabernet sauvignon) proposto pela Norton. Era uma competição, e o sabor equilibrado do vinho adversário, o Dona Chic, ganhou a preferência de Alvaro Agüero, responsável pelas visitas.

De tão acostumado a ciceronear turistas do Brasil, Agüero até fala um pouco de português. A Norton, afinal, é uma das dez vinícolas mais procuradas por brasileiros em Mendoza - as outras nove você confere em 'Veja mais'.

Saiba também: 

A Festa da Vindima, que celebra o começo da época da colheita de uvas, é o grande momento turístico do ano em Mendoza. A próxima será em 7 de março, com eventos gratuitos nas ruas da capital. Reserve hotel com antecedência As Aerolíneas Argentinas chegaram a lançar um voo direto, duas vezes por semana, entre São Paulo e Mendoza. Não era para tanto: com baixa ocupação, o voo ficou em atividade por menos de dois meses. Foi encerrado em agosto

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