Mais do que sua criação mais famosa, a Gabriela da ficção, é o criador Jorge Amado o personagem-ícone de Ilhéus. A maior cidade do sul da Bahia e oitava no Estado – tem cerca de 170 mil habitantes – vive turisticamente das memórias do escritor, que a imortalizou em livros como Terras do Sem Fim, São Jorge dos Ilhéus e Gabriela, Cravo e Canela, e, de certa forma, moldou a cultura baiana no imaginário brasileiro.
Em uma caminhada curta pelo centro histórico da cidade estão os principais pontos ligados ao escritor. A Casa de Cultura Jorge Amado ocupa um sobrado de fachada amarela onde ele passou parte da infância e a adolescência. É considerada o local onde Jorge Amado começou sua carreira literária. No pequeno museu que ocupa algumas das salas há roupas e fotografias que contam sua vida e obra – a atriz Sonia Braga, que interpretou Gabriela no filme de 1983, está em algumas das imagens, claro.
A sala mais interessante guarda figuras de entidades do candomblé, fé de matriz africana que o escritor estudou e usou intensamente em seus livros. Abre das 9h ao meio-dia, e das 14h às 18h, de segunda à sexta. Aos sábados, das 9h às 13h. Fecha aos domingos: bit.ly/ccjorgeamado.
Há uma estátua de Jorge Amado de pé diante da casa, esperando pelas selfies. Outra forma de garantir o tête-à-tête com o escritor é seguir para o Bar Vesúvio logo ali, na ponta do calçadão onde fica a Casa de Cultura. O Bar Vesúvio, que existe desde a década de 1920, é o restaurante onde Gabriela é contratada como cozinheira por Nacib, o proprietário. Infelizmente, neste momento, a foto ao lado do escritor sentado em uma mesa na calçada é tudo o que se pode ter do bar, que está fechado para reforma e cercado de tapumes, com previsão incerta de reabertura para o fim do ano.
De costas para o Bar Vesúvio e de frente para a orla do Rio Cachoeira está o cabaré Bataclan, outro dos lugares que Jorge e Gabriela tornaram famosos. Funciona no almoço em sistema de bufê e tem, no salão principal, uma reprodução do antigo palco, além de outros objetos de decoração alusivos à sua função de bordel. No fundo há um pequeno museu em memória da cafetina Maria Machadão e de suas “quengas”. Quem não almoça por ali paga R$ 5 pela visita.
Pedras azuis. Ainda no centro histórico, procure pela rua Antônio Lavigne de Lemos, via curtinha que vai até a Catedral de São Sebastião. A rua é curiosa pelo seu calçamento de pedras retangulares e azuladas, perfeitamente assentadas. Sabe-se que o calçamento é da primeira década dos anos 1900, que as pedras são de origem inglesa e foram trazidas da Europa, provavelmente em um navio que vinha buscar cacau. O resto é especulação: teriam sido encomendadas por um certo coronel Misael Tavares, cujo palacete também fica na via, para asfaltar seu caminho até a igreja ou o de sua filha, por ocasião do casamento da moça.
Para o turista, o mais interessante é que a rua vem sendo recuperada e tem algumas boas lojas e ateliês de arte e decoração em casinhas antigas pintadas de coloridão. Ainda no tema compras, o centro está cheio de lojas de chocolate local, que também pode ser comprado no Mercado de Artesanato (Praça Eustáquio Bastos, 2). O pacote de 1 quilo de cacau em pó custa R$ 8.
Água à vista. Para admirar Ilhéus do alto – e a vista é realmente bonita – suba ao Convento de Nossa Senhora da Piedade. Não é preciso entrar. O mirante, que dá vista para os telhados da cidade e o mar, fica diante do portão. Mas ao pagar os R$ 2 que dão direito a visitar a capela com pinturas no forro, o turista é guiado por jovens estudantes do curso técnico de turismo, o que remete à origem do convento, que nasceu entre 1916 e 1921 para suprir a falta de escolas para os jovens da região.
A praia mais frequentada da área urbana é a dos Milionários, pouco ao sul. As águas são ligeiramente turvas – em toda a orla oceânica do centro de Ilhéus é assim. Há muitas barracas – testei o aperitivo catado de siri (R$ 16) em uma mesa diante do mar da Cabana Gabriela. Com cerveja gelada, para combinar com a tarde gostosa de calor na Bahia.