Nobre circuito

Ferraris, iates e marcas famosas fazem parte da rotina local. Mas ter uma conta bancária recheada não é pré-requisito para aproveitar a atmosfera refinada do charmoso principado

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Por DANIEL AKSTEIN BATISTA e MÔNACO
Atualização:

Ayrton Senna transformou Mônaco em um destino lendário para mim. A McLaren vermelha e branca voava na frente daquele imponente cassino, entrava a toda velocidade em um dos túneis mais famosos do mundo. Há quase 20 anos, um dos maiores pilotos brasileiros vencia pela última vez a corrida mais charmosa da Fórmula 1. Desde então, aquele abrigo de iates e navios e todo o glamour que o circuito de Monte Carlo emanava não saía da minha mente. Quando finalmente desembarquei ali, descobri que Mônaco, de fato, é um território de luxo, nobreza e velocidade. Mas não só.O principado que eu conheci pela televisão me saltou aos olhos, ao vivo e em centenas de cores. O túnel por onde passava Senna é mais do que uma passagem de carros e abriga o Auditório Rainier III, palco de atrações que vão de ópera ao tradicional balé local. Os iates também estão lá - em menor número do que em dias de corrida.Para quem tem um cartão de crédito ilimitado e farto, Mônaco oferece possibilidades igualmente infinitas. Hotéis cinco estrelas, festas vip, Ferraris. Mas, além de toda ostentação que eu já esperava encontrar, Mônaco se mostrou acessível também para aqueles com uma conta bancária mais modesta.O Cassino de Monte Carlo é deslumbrante e deve estar em seu roteiro. No entanto, você pode se divertir gastando menos euros em um bar bacana, com música boa e bebida farta. Dá para caminhar por toda a cidade, num city tour próprio, ou investir em um passeio de helicóptero e sobrevoar por meia hora o segundo menor país do mundo (tem 1,95 quilômetro quadrado, atrás apenas do Vaticano). E, na hora de matar a fome, é possível se fartar em um dos quatro restaurantes com estrelas Michelin - ou sentar em uma casa mais despojada e gastar pouco mais de 20 numa refeição. Vizinhos. Mônaco tem mais visitantes e trabalhadores de fora do que moradores - são 36 mil habitantes contra 40 mil pessoas que se deslocam diariamente para trabalhar no principado. A explicação é simples: apesar de os estrangeiros não pagarem impostos quando vivem em Mônaco (só os franceses não escapam dos tributos), o custo de vida é muito menor nas cidades próximas. E são usadas também pelos turistas que querem economizar na hospedagem.Nice, a principal delas, está a pouco mais de 30 minutos de carro, já do lado francês (leia mais na página 8). Já Beausoleil é colada em Mônaco, mas a diferença entre elas é gritante - especialmente nos preços. "É tudo mais barato aqui", explica o paulista George Oliveira, que vive na cidade e integra o Balé de Monte Carlo.Além de George, encontrei vários brasileiros durante os três dias que passei no principado. Uma dupla de amigas estudava em Paris e aproveitou o dia para conhecer Mônaco. Elas chegaram de manhã e foram embora ao pôr do sol, oito horas após circular por atrações como o Museu Oceanográfico e a praça do cassino. Não custa lembrar: são menos de dois quilômetros quadrados para registrar na câmera fotográfica. Já outro trio de amigos estava de férias na Europa e aproveitou para conhecer Mônaco. Dormindo lá apenas uma noite.Com mais tempo, claro, é possível fazer o roteiro completo. Em quatro dias e três noites você fecha sua agenda gastronômica, esportiva e cultural: há vários museus e a subida ao palácio real é obrigatória pelas duas vistas esplêndidas que oferece (uma de cada lado). E tomar um drinque com os pés na areia - ali, mais pedras do que areia - é sempre interessante.Mas, no meu caso, a prioridade era mesmo conhecer o traçado da Fórmula 1, aquele que ficou guardado na minha memória durante tantos anos. Você pode se sentir na própria corrida, alugando um carro (atenção aos limites de velocidade, por favor) ou fazer como eu: ir a pé mesmo. Na cidade, há mapas que mostram o percurso em detalhes. Aliás, se quiser, faça tudo a pé em Mônaco. Afinal, a não ser nos dias de corrida, quem está com pressa?

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