Nos mercados, a arte árabe de negociar

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Por Agencia Estado
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A principal arte marroquina está nos "souks", verdadeiros mercados persas que resistem ao tempo e nos quais se pode comprar desde uma "djellaba" até uma cabeça de carneiro - é impressionante a exposição delas em tablados de madeira armados na rua por vendedores que parecem os camelôs das metrópoles brasileiras. A cabeça de carneiro é uma iguaria da culinária marroquina. Come-se o cérebro. Os "souks" são informalmente divididos em áreas e um passeio pelos labirintos que estes mercados medievais formam é uma descoberta. Em cinco minutos você já estará perdido, mas perceberá que sempre acabará saindo no centro de um lugar que é a referência no centro comercial, seja uma praça ou um prédio público. Durante o passeio é possível descobrir dezenas de cores e fragrâncias, seja de flores ou especiarias. Desde o momento em que se atravessa uma das portas de entrada de qualquer "souk", em especial as de Marrakech e Fes, o turista é abordado por guias informais, gente que vive de indicar caminhos pelos labirintos. Eles poderiam ser comparados aos guardadores de carros das metrópoles brasileiras. São insistentes, às vezes tiram o humor, mas não tenha medo: você jamais sofrerá qualquer tipo de violência. O turista deve responder sempre um "la, choucran" (não, obrigado). Às vezes funciona. Eles deixam o visitante em paz. Se você quiser um guia para andar pela medina, tente sempre um oficial, do Ministério de Turismo. Eles vestem uma "djellaba" branca e têm uma credencial pendurada no pescoço. Normalmente falam, além do árabe e francês que qualquer marroquino domina, também o espanhol. Arte do comércio - Nos "souks" os marroquinos exercitam a tradicional arte árabe da negociação, o que pode ser intolerável para os padrões ocidentais. É um jogo complexo. Não imagine entrar em uma loja ou parar em frente a uma tenda e ter resposta imediata ao perguntar o preço de alguma coisa. O marroquino quer, antes de mais nada, que o cliente goste do produto. Então ele faz o turista tocar o objeto, avaliá-lo cuidadosamente, prová-lo. E tem a sensibilidade apuradíssima para perceber se o potencial comprador foi ou não seduzido. O preço inicial, claro, varia de acordo com a impressão que o cliente demonstra ter do produto. Normalmente, ainda que o consumidor não tenha exibido interesse, o valor inicial é sempre muito alto. Daí inicia-se o leilão. A chance de conseguir um bom preço é fazer uma oferta inicial de 10% do valor pedido pelo vendedor. Contenha-se: não caia na tentação de determinar o valor do que quer comprar. Resista, então, a responder a velha pergunta, feita com insistência quase sempre: "quanto você paga?" Você pode até pagar o valor inicial pedido pelo vendedor, ainda que seja absurdamente alto. Ele vai ficar feliz pelo dinheiro que recebeu, mas profundamente frustrado por não ter jogado. De lamparinas a tapetes - Entrando no jogo, lance após lance, invariavelmente um produto sai por menos da metade do valor inicial. Mas quando você estiver caminhando pelo labirinto apinhado de gente das medinas, certamente vai se perguntar se pagou um bom preço. E provavelmente chegará à conclusão de que não sabe. De qualquer forma, é no mínimo curioso passar pela experiência da maneira árabe de negociar. De uma forma geral - e sem se entregar ao impulso consumista do primeiro minuto, até porque é importante lembrar que não se está em Miami - é possível adquirir produtos no mínimo interessantes. Como exemplo, uma babucha, o típico calçado árabe de couro, uma espécie de chinelão com a ponta em forma de bico que, usado à moda árabe, deve ter a parte de trás dobrada para dentro, deixando descoberto o calcanhar. Ela pode ter o preço inicial de 1.300 dirhams, o equivalente a US$ 136, e ser arrematada por 60 dirhams, ou US$ 6,30. A "djellaba", a principal vestimenta árabe, um tipo de túnica usada tanto por homens quanto por mulheres, é outro produto que atrai turistas - os brasileiros podem encontrar na roupa uma boa fantasia de carnaval. O artesanato marroquino é bastante variado. Lamparinas que parecem ter saído de filmes das 1.001 noites, cerâmica, peças em lã e couro e maravilhosas caixinhas de cedro e tuia. Além disto, nos "souks" é possível encontrar uma grande variedade de temperos ? em especial pimentas ? e alfazema desidratada, usada para fazer sachês. Só um problema: dificilmente você vai conseguir entrar com produtos de origem animal e vegetal no Brasil em função de normas sanitárias do Ministério da Agricultura. Portanto, nem tente trazer para não correr o risco de ter aborrecimentos. Usufrua lá mesmo. Sedução - Mas nada seduz mais do que a prataria e os tapetes. As peças de prata são belíssimas, delicadas. Anéis, pulseiras e correntes que só mesmo um bom conhecedor é capaz de determinar se são feitas de metal autêntico ou não. A prata marroquina é famosa por sua pureza, mas como em qualquer país do terceiro mundo, falsificações são inevitáveis. E as falsificações, muitas vezes, podem driblar os olhos de quem conhece mas não é especialista. É importante se orientar antes de sair comprando. E se orientar não elimina o risco de comprar uma peça falsificada. Mesmo com indicações, você pode ainda sair com um mico na bolsa. Os tapetes artesanais também são fantásticos. E caros. Cada peça pode perfeitamente ser comparada a uma obra de arte. Quanto mais pontos (como são chamados os nós feitos) por centímetro quadrado, mais caro é o tapete. E são de vários tipos. Há os de origem berbere, com desenhos tribais. Os kilim e os persa, mais caros. As grandes lojas marroquinas têm um sistema de entrega que dizem funcionar perfeitamente para qualquer parte do mundo. Assim, você pode deixar alguns milhares de dólares lá e receber aqui no Brasil o seu tapete. Eles são caros, mas não tanto quanto em paraísos de consumo como Miami ou em importadoras brasileiras. Os tapetes de boa qualidade podem custar entre 300 e 500 dirhams o metro quadrado, ou seja, entre US$ 31 e US$ 52.

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