EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Turista profissional

O fim do dinheiro e o aumento do IOF

Num longínquo 1987, ciceroneei um amigo holandês pelo Brasil. Ele ficou admirado com o avanço do nosso sistema bancário: sacar dinheiro num caixa automático em Ouro Preto com meu cartão do banco de São Paulo era um tipo de operação que não existia na Holanda

PUBLICIDADE

Por Ricardo Freire
Atualização:

Quase 30 anos depois, a Holanda está na vanguarda do movimento que quer acabar com a circulação do dinheiro em espécie. Vários lugares em Amsterdã – cafés, restaurantes e lojas voltadas a um público moderninho – simplesmente não aceitam mais pagamento em dinheiro: somente pin. Originalmente, pin significava cartão de débito, mas hoje a categoria já abrange os de crédito. 

PUBLICIDADE

Leia mais: Saiba tudo sobre dinheiro e cartões para levar em viagens

A mensagem é clara: dinheiro em espécie é antiquado, sujo, poluente. Elimine o dinheiro vivo do seu estabelecimento, e o mesmo funcionário que manipula comida poderá receber o pagamento. Dinheiro em papel está entrando para a mesma categoria dos combustíveis fósseis, garrafas PET e sacolinhas de supermercado. O mundo é mais limpo e sustentável quando notas e moedas são abolidas.

No Brasil, ao mesmo tempo em que os meios de pagamento eletrônicos ganhavam terreno no dia a dia, o dinheiro em papel foi se tornando cada vez mais predominante nas viagens ao exterior. Graças ao IOF de 6,38%, aplicado primeiramente aos cartões de crédito, e em seguida aos cartões de débito e cartões pré-pagos, o brasileiro voltou a viajar com bolos de dinheiro na doleira.

O aumento do IOF para compra de moeda estrangeira em espécie, de 0,38% para 1,1%, decretado na semana passada, azedou o humor dos viajantes. Os efeitos psicológicos da medida, porém, são maiores do que os práticos. Se por um lado “o IOF triplicou”, por outro o aumento foi de mero 0,7% – uma variação a que estamos acostumados no dia a dia. A diferença é que esse 0,7% não oscilará: já está incorporado ao valor do dólar, do euro, da libra e de todas as moedas estrangeiras compradas legalmente por aqui.

Publicidade

O maior problema do aumento do IOF é estimular uma tendência que já apontei neste espaço: depois de abandonar os cartões, muitos brasileiros estão abandonando o dólar, achando que podem levar reais para qualquer lugar no exterior. É uma péssima estratégia. O real só tem cotação justa em Buenos Aires, Santiago e no Uruguai. Fora desses lugares, será comprado com 10%, 15%, até 40% de deságio. Não fuja de um IOF de 1,1% para levar um prejuízo de 10%.

E lembre-se que cartões de crédito são indispensáveis na locação de carros, requeridos como garantia no check-in de muitos hotéis – e os únicos meios de pagamento aceitos em cafés moderninhos na Holanda.

Leia mais: A economia compartilhada reduz o custo da viagem

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.