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O melhor e o pior, segundo nosso correspondente

Por Mr. Miles
Atualização:

Nosso irrestrito viajante mandou-se ? com mala, Trashie e bengala ? para uma rápida temporada de birdwatching na Noruega. Aos que imaginam que a Noruega tem apenas fiordes, bacalhau e um frio lancinante, mr. Miles manda informar que, com a aproximação do verão boreal, os dias muito longos favorecem a busca por espécies raras em retorno de suas longas férias em latitudes mais amenas. "Believe me, my friends: parece difícil de acreditar, mas além de belos pássaros, os países nórdicos oferecem, nessa quadra do ano, enxames de insetos com muito mais apetite do que os borrachudos que conheci, certa vez, em Ilhabela." A seguir, a pergunta da semana. Mr. Miles, dos 183 países que o senhor já visitou, qual o melhor e qual o pior? Por quê? Abraços. Daniel Santos, por e-mail "Well, my friend: perguntas objetivas como a sua, I?m afraid, levam a respostas imprecisas que, however, são repletas de poéticas divagações. Veja bem: quais são os parâmetros para definir qual é o melhor país? A paisagem, os costumes, a riqueza histórica e cultural, a comida? Ou a exposição, a celebridade, o sonho que acalentamos de conhecê-lo pelas leituras e canções que, desde cedo, alimentaram nossas fantasias? Por qualquer critério, dear Daniel, é possível fazer escolhas. Quem tem praias mais belas? A Grécia, o Brasil ou a Polinésia Francesa?Não há resposta objetiva para tal questão, a não ser que eu cometa a heresia de fazer de meu gosto pessoal, de meus sentimentos na ocasião em que visitei cada lugar e de meu background referências definitivas. Do you know what I mean?Tenho um velho amigo, o capitão Gunnar Olafsson, norueguês que viajou pelos sete mares. Ele me disse, certo dia, que considera o Chile e a Nova Zelândia os países mais belos do mundo. ?Que base você usa para uma afirmação dessas, Gunnar??, perguntei-lhe, entre curioso e indignado. Sua resposta foi objetiva, embora não muito precisa: ?Acredite-me, Miles, países que se estendem longamente de Sul a Norte tendem a ter paisagens e biomas distintos. Ou seja: vão das geleiras aos trópicos, da umidade extrema ao deserto absoluto, sempre com plantas, animais e populações distintas?.A resposta tinha lá sua lógica, descontando as oito doses de acquavit que o comandante já havia ingerido naquele estágio da conversa. Mas eu ousaria dizer que a melhor forma de lembrar-se de um lugar (um país, uma cidade, um vulcão ou um monumento) com mais carinho do que de outros vem do coração. Apaixonei-me certa vez em Cracóvia, na Polônia, e isso fez dela uma cidade especial ? sem contar que o lugar é, de fato, esplêndido. A beleza da cratera do vulcão Ranu Kao, um dos endereços mágicos da Ilha de Páscoa, foi um dos raros lugares que me fizeram entrar em uma espécie de transe. Imagine, my dear friend, esse viajante calejado, com seu bowler hat, revendo toda sua vida, seus amores, seus amigos à luz do poente, com o fundo espelhado de Ranu Kao testemunhando aquele momento glorioso. ?Vou voltar sempre para cá?, disse, entre lágrimas, a mim mesmo. E voltei, e voltei ? e nunca foi a mesma coisa, embora eu ainda tenha esperanças de que aquele momento se repita. É por isso que acredito que cada um tem seu próprio Ranu Kao. Pode ser na Índia, no Belize ou em Mianmar. Ou, claro, em Paris, Nova York, Roma. Vai depender de você, de seu estado de espírito, de como está o astral que você está visitando e, sometimes, da companhia em que você estiver. Este será o seu melhor destino. O pior, arrisco dizer, é o sofá em frente à televisão de sua casa, que o está sempre aliciando a não partir."*Mr. Miles é o homem mais viajado do mundo. Ele esteve em 183 países e 16 territórios ultramarinos 

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