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O homem mais viajado do mundo

Outono, tempo de reflexões

miles@estadao.com

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Por Mr. Miles
Atualização:

Decidindo sobre o lugar onde pretende passar os próximos dez dias, Mr. Miles tem lido bons jornais e se diz “chocado com a quantidade de bobagens que assola o Brasil”. O provável é que ele não vá muito longe, porque pretende estar em mais um aniversário de sua amiga, a rainha Elizabeth, que cumpre anos no dia 21 de abril. A seguir, a carta da semana. Querido Mr. Miles: acabou-se o que era doce. Fim de verão, praia só no ano que vem. Concorda? Larissa Gomes, por e-mailWell, my dear: o outono não é apenas uma temporada que antecede o inverno. É mais uma sensação, um desejo do que um período. É quando os dias de sol a pino vão, slowly, ganhando cores mais apagadas. O céu abaixa a ponto de que as nuvens parecem quase pentear nossos cabelos. Nada disso, however, surpreende – e poucos de meus amigos têm criticas a essa fase de muda, mais amável e mais amena. Uma intrigante estação de dúvidas e reflexões. Hora de trocar a pele, assim como as cobras. E, more than that, tempo de viajar. Estou lhes escrevendo, of course, de minha pequena casa no Condado de Essex. Aqui é a primavera que começa. Em breve estarei vendo petúnias e begônias no meu backyard. Minha raposinha Trashie, oriunda, como vocês sabem, da Sibéria, começa a resmungar para os termômetros que sobem. O verdejar dos parques, entretanto, anuncia: é hora de viajar também. As semelhanças entre o que ocorre em ambas as estações é evidente. Meu querido e saudoso amigo Camus ( N. da R.: Albert Camus, escritor argelino, supostamente assassinado na França aos 46 anos de idade) dizia, com seu brilho habitual: ‘O outono é uma segunda primavera, em que cada folha vira uma flor’. Esse fenômeno é sempre mais evidente nas regiões que distam do Equador, como o Canadá ou a Patagônia. Florestas vermelhas, trilhas de cor púrpura, o suave som de andar sobre as folhas com a certeza de que outras virão muito em breve. Há uma coisa que nunca entendi. A primavera é muito mais festejada do que o outono. Tem reputação melhor, mais likes (como é da moda afirmar) e ótima assessoria de imprensa. Posso tentar atribuir essa anomalia aos milhões de pessoas que enfrentam invernos longos e gélidos no hemisfério norte. Ocorre que livrar-se do calor escaldante, das roupas deselegantes e das chuvas torrenciais é, também, uma grande conquista. Se a primavera é um período que se abre à luz, o outono é uma ocasião que a ela se fecha. Se a primavera é propicia para quem planta, o outono foi feito para a colheita. É evidente que se antagonizam, mas são estações muito mais indicadas para conhecer o mundo do que o verão e o inverno. É tempo de um sol oblíquo que nos dedica sombras mais alongadas e cores menos distorcidas. Se você, my dear, já esteve em Roma no outono e na primavera, é certo que terá conhecido cidades distintas uma da outra. E essa é a maravilha da transformação dos dias longos para os dias curtos que, of course, sempre ampliam a beleza do ato de viajar.  Não concordo, however, com suas considerações sobre as praias. Se tomar sol é um de seus programas preferidos, basta lembrar que, entre o Trópico de Capricórnio e o de Câncer as estações são sempre parecidas. Isso serve, by the way, para mais da metade da área de nosso planeta. Experimente, por exemplo, ir para o Rio de Janeiro em abril. Menos chuvas (as águas de março já fecharam o verão), sol mais ameno, 35 graus ao invés de 40, preços menores pela baixa estação. Wonderful! Mas, se o céu nublar com uma leve brisa soprando do sul, olhe para ele como se estivesse olhando para dentro de si.”  MR. MILES É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ELE ESTEVE EM 312 PAÍSES E 16 TERRITÓRIOS ULTRAMARINOS.

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